29/09/2010

Óleo de fritura vai virar combustível

O óleo de cozinha jogado diretamente na pia pode prejudicar o meio ambiente. Se o produto for para a rede de esgoto encarece o tratamento dos resíduos em até 45%, e o que permanece nos rios provoca a impermeabilização dos leitos e terrenos adjacentes que contribuem para a enchente. “Quem sofre com tudo isto é o contribuinte que tem que pagar mais pela conta de água e esgoto e os comerciantes e moradores das áreas afetadas pelas enchentes”, salienta o pesquisador da USP de Ribeirão Preto, Antônio Carlos Ferreira Batista.
A solução para este problema é a reciclagem do óleo vegetal e existem várias maneiras de reaproveitar este produto sem dar prejuízos ao meio ambiente.
Quem tem que lidar com grandes quantidades de óleo de cozinha muitas vezes tem dificuldades para descartá-lo. Cérima Aparecida de Almeida, que produz quatro mil salgados por dia, resolveu este problema. O óleo que ela usa é trocado constantemente e é destinado à reciclagem. “Entrego cerca de 50 litros de óleo a uma empresa de sabão por semana e em troca recebo produtos de limpeza”. Esta foi a maneira que a empresária encontrou para se livrar da indesejável gordura que sobrava das frituras dos salgados.
Agora, bares e restaurantes de Ribeirão Preto também poderão se livrar do óleo de fritura e de quebra ainda ganhar um selo de amigo do meio ambiente.
A USP de Ribeirão Preto, através do Ladetel (Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas) está lançando o projeto Cata Óleo. Segundo Batista, o laboratório já mapeou cerca de 500 bares e restaurantes da cidade e concluiu que pode chegar a coletar até 20 mil litros do produto por mês.
Os pesquisadores da USP estão ligando para estes comerciantes para saber quem quer ser parceiro do programa. Os interessados vão receber um recipiente para armazenar o óleo. O caminhão do laboratório vai passar recolhendo o produto em datas pré-estabelecidas.
“Nós vamos recolher este óleo e fazer uma análise química dele e informar se ele está dentro do padrão aceitável de acidez e próprio para o consumo humano. Quem estiver dentro do padrão ganha o selo de qualidade. Se o comerciante for pagar para fazer esta análise ele vai gastar de R$ 2 a R$ 3 mil. Esta iniciativa vai evitar que os comerciantes usem o óleo várias vezes na fritura e que jogue o óleo para o meio ambiente”, afirma Batista.
Os comerciantes têm recebido bem a iniciativa dos pesquisadores.
“Sabemos que algumas lanchonetes usam o óleo na massa do salgado do dia seguinte e estes precisam ser conscientizados da importância de se dar um destino adequado ao óleo de fritura. Outros enviam para fazer sabão, mas a maioria tem aderido ao projeto da universidade porque sabe que o nosso objetivo é o ganho ambiental”.
Todo o óleo recolhido na cidade será usado na produção do biodiesel. “Temos vários carros que rodam com este combustível que não causa danos ao meio ambiente”, afirma Batista.

Projeto vai atingir toda a população
Cérima Aparecida de Almeida montou uma salgaderia no bairro Campos Elísios há seis anos. Ela começou na cozinha da casa dela e hoje tem cinco funcionárias, comprou o prédio onde montou a salgaderia e sustenta a família e a faculdade da filha com a venda dos salgados que são distribuídos pela cidade toda.
“A fritura é essencial na qualidade dos salgados. Eu troco sempre o óleo de fritura, por isto, o meu salgado fica sempre sequinho, a qualidade final é melhor e não fica com gosto de óleo”, diz a comerciante.
Ela faz quatro mil salgados por dia e uma vez por semana entrega 50 litros de óleo para uma empresa que faz sabão e em troca recebe produtos de limpeza. Quando foi fazer o negócio, Cérima fez o cálculo para saber se a troca valia a pena.
“Compensa e muito e além do mais contribuímos para o meio ambiente com esta reciclagem do óleo de cozinha”.
Esta conscientização que o Ladetel (Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas) quer fazer chegar a toda a população de Ribeirão Preto. Depois dos comerciantes, o laboratório quer atingir com o projeto Cata Óleo toda a população da cidade e aí espera receber cerca de 160 mil litros de óleo por mês.
“Estamos tentando fechar parcerias e promover nas escolas palestras sobre educação ambiental e posteriormente podemos fazer gincanas e conforme o volume de óleo angariado pelas escolas elas poderão ganhar computadores ou outros prêmios. Estamos estudando esta nova etapa do projeto”, diz o pesquisador da USP de Ribeirão Preto, Antônio Carlos Ferreira Batista.

Fonte: Jucimara de Pauda (Jornal A Cidade - SP)

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