30/03/2011

Mini-curso: Opções - Financiamento

Dando continuidade ao nosso mini-curso de opções, hoje iremos falar sobre financiamento, cujo objetivo é extrair taxa do mercado, ou seja, ganhar o valor de expectativa que o mercado tem em cima de uma determinada opção.
O financiamento, é muito parecido com a venda coberta, que vimos anteriormente, porém, o objetivo aqui é ser exercído, diferente da venda coberta, que o objetivo é evitar o exercício. Então, para isso, se vende uma opção ITM, e não OTM, e quanto mais ITM for a opção vendida, mais segura será a operação, porém será menos rentável, e quanto menos for ITM, menos segura, porém maior será a taxa extraída, sou seja, será mais rentável a operação. Isso acontece porque quanto mais ITM, menor é o VE (valor de expectativa) da opção, pois maior a chance do exercício ocorrer, e quanto menos ITM, o contrario, maior o VE, porque a chance de acontecer é menor, então, a regra pra proteção é a mesma, quanto mais ITM, mais chance do exercicio acontecer, então mais segura será a operação, e quanto menos ITM, menos segura será a operação.
Importante, a opção vendida deverá ser ITM, não podendo nunca ser OTM, senão deixa de ser um financiamento.

A montagem funciona da seguinte forma, supondo que a operação seja feita com a Vale5, então em uma situação hipotética com Vale5 cotada a 47,00 teríamos as seguintes opções:
D42: strike em 42,00, prêmio de 5,31, VE de 0,31
D44: strike em 43,73, prêmio de 3,66, VE de 0,39
D46: strike em 46,00, prêmio de 1,75, VE de 0,75

Pelas opções acima, fica claro que nosso maior lucro seria vendendo a D46, porém, a operação mais segura seria vendendo a D42, como ja falei antes, não existe mundo perfeito com opções, e tudo tem seu equilibrio.
Uma operação com as opções acima, funcionaria da seguinte forma, compraríamos Vale5 a 47,00, para exemplificar, vamos considerar uma compra de 1000 Vale5, totalizando 47.000,00. Vou desconsiderar as a corretagem e as taxas para simplificar a conta. Então, teríamos 3 opções, vender a D42, D44 ou D46, vamos a simulação com cada uma delas:
D42: receberíamos 5.310,00 pela venda de 1000 opções.
D44: receberíamos 3.660,00 pela venda de 1000 opções.
D46: receberíamos 1.750,00 pela venda de 1000 opções.

Como a venda da opção, nos obriga a vender a ação caso o comprador da opção queira, o que acontece no exemplo acima é que estaremos nos obrigando a vender a Vale5 ao preço da opção escolhida para venda, ou seja, se vendermos a D42 vamos nos comprometer a vender a Vale5 por 42,00. Mas peraí, se estamos comprando a Vale5 a 47,00, vender a 42,00 é ruim, não é? Não, muito pelo contrário, e é exatamente aí que está o ponto crucial do financiamento, como sempre vamos vender uma opção ITM, nós vamos sempre nos comprometer a vender a ação a um valor menor do que o valor pago na compra, porém, o valor recebido pela venda da opção, irá compensar essa diferença, e nos deixar com lucro na operação.

Um ponto importante, é que a proteção da operação, vem justamente da distância do preço pago na ação, no momento da montagem, para o valor do strike da opção vendida, ou seja, ao vendermos a opção D42, nós garantimos que teremos lucro na operação mesmo que a Vale5 caia dos 47,00 para os 42,00, o que da 5 reais de proteção contra quedas, e representa mais de 10% de queda, já se vendermos a D46, garantimos que teremos lucro mesmo com a Vale5 caindo até 46,00, ou seja, garantimos uma queda de 1 real, o que da uma proteção em torno de 2%.

Continuando nosso exemplo, teríamos o seguinte para a D42:
Compra de 1000 Vale5 a 47,00 totalizando 47.000,00
Recebemos 5.310,00 na venda da opção
Preço de proteção em 41,69 (47,00 - 5,31)
Venderíamos Vale5 a 42,00, o que daria 42.000,00
Ao todo pagaríamos 47.000
Ao todo receberíamos 47.310 (42.000 da venda da ação + 5.310 da venda da opção)
Teríamos um lucro de 310,00, o que equivale a 0,74% de retorno e uma proteção de mais de 10% contra quedas.

Para a D44 teríamos:
Compra de 1000 Vale5 a 47,00 totalizando 47.000,00
Recebemos 3.660,00 na venda da opção
Preço de proteção em 43,43 (47,00 - 3,66)
Venderíamos Vale5 a 43,73, o que daria 43.730,00
Ao todo pagaríamos 47.000
Ao todo receberíamos 47.390
Teríamos um lucro de 390,00, o que equivale a 0,90% de retorno e uma proteção de 7% contra quedas.

Para a D46 teríamos:
Compra de 1000 Vale5 a 47,00 totalizando 47.000,00
Recebemos 1.750,00 na venda da opção
Preço de proteção em 45,25 (47,00 - 1,75)
Venderíamos Vale5 a 46,00, o que daria 46.000,00
Ao todo pagaríamos 47.000
Ao todo receberíamos 47.750
Teríamos um lucro de 750,00, o que equivale a 1,66% de retorno e uma proteção de mais de 2% contra quedas.

Lembrando que quanto mais longe do exercício, maiores as taxas e maior o risco, quanto mais próximo, menores as taxas e maior o risco, nessa simulação, peguei as cotações a 19 dias da data de exercício, ou seja, menos de 1 mês, então as taxas estão com uma relação risco x retorno bastante interessante, tomando por base os valores atuais de uma renda fixa, como o CDI que está na casa de 0,85% ao mês.
Ou seja, mesmo com a opção mais conservadora, que seria a venda da D42, que nos da uma proteção de 10% contra quedas, ainda teríamos um retorno de 0,74% em 19 dias, fazendo uma equivalencia do CDI para 19 dias teríamos 0,58% de retorno.

Caso a proteção não seja suficiente, podemos agir de 2 formas, definir um ponto de stop, e recomprar as opções e vender as ações, ou então, tentar levar para a data de exercício para desmontar a operação no dia, caso no dia do exercício a ação esteja abaixo do preço de strike, a opção morrerá sem valor, e você poderá vender a ação pelo preço de mercado, e em alguns casos, ainda ter um pequeno lucro, ou conseguir sair da operação sem prejuízo, por causa do valor de VE que recebemos na montagem, por exemplo, para a opção D46 recebmos 1,75 pela venda da opção, sendo que 0,75 é VE e 1,00 é VI (valor intrinseco ou valor verdadeiro), o que faz com que nosso preço limite para perda não seja os 46,00 e sim os 45,25, pois esse é o valor que a ação acaba custando após descontar o prêmio recebico com a opção. Então, mesmo com a Vale5 a menos de 46,00 no dia do exercício, por exemplo, estando ela em 45,50, ainda teremos lucro, um valor menor do que o desejado, apenas 0,25 por ação, o que daria 250 reais, mas ainda é lucro. Teríamos prejuízo apenas com a Vale5 caindo abaixo de 45,25. O mesmo vale para os exemplos da D42 e D44.

Em alguns determinados momentos, ocorrem distorções no mercado, com taxas de retorno muito boas e proteções altas, isso acaba ocorrendo em mercados e papéis mais voláteis, e em alguns momentos, as taxas são muito baixas com proteções baixas, inviabilizando a operação.
Quando ocorrem distorções de alto retorno e alta proteção, pode ser interessante fazer o que o mercado costuma chamar de termofinanciamento, que consiste na mesma operação, só que a compra das ações é feita no mercado a termo, o que acaba reduzindo o valor do lucro da operação e aumentando seu risco x retorno, devido à taxa paga pelo termo, porém, permite alavancar uma operação e os ganhos em determinados momentos, potencializando os ganhos, aproveitando as distorções e os bons momentos do mercado. Para saber mais sobre mercado a termo, veja o post Mercado a Termo: alavancando os ganhos na alta.

Resumindo, o financiamento é uma boa forma de se conseguir uma remuneração acima do CDI, sem correr um risco tão alto, permitindo que a operação seja montada de acordo com o risco desejado e ainda de acordo com as condições do mercado.

Espero que tenham gostado, e em breve, continuamos o nosso mini-curso com as travas e operações alvo.

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