22/03/2011

Golpes de falsos empregos e financiamentos são os mais aplicados em São Paulo, diz Deic

Desempregados e endividados voltaram a se tornar, nos últimos meses, os alvos mais recorrentes das quadrilhas de estelionatários que agem no Estado de São Paulo, segundo estimativas do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado). A explicação está em pelo menos metade das denúncias atualmente investigadas pelo órgão em sua Delegacia de Repressão a Estelionato: ou se referem ao golpe do falso emprego, ou ao dos falsos empréstimos financeiros. Ambos não são novos, mas ganharam novo fôlego à medida em que avança o acesso à telefonia celular e internet no país.
A informação é da delegada Catarina Buque, que, a pedido do UOL Notícias, fez um levantamento dos golpes que mais têm feito vítimas no Estado --e, em ambos os casos, os golpes acontecem com divulgação em panfletos, sites e anúncios em veículos impressos. O caso que mais avança, segundo a policial, é a dos falsos empréstimos financeiros: o estelionatário se passa por um credor que faz pouca ou praticamente nenhuma exigência para liberação de créditos normalmente altos, em valores que podem atingir até os R$ 2 milhões --situações que contrastam com exigências feitas por bancos, por exemplo. O problema é que o dinheiro do golpista nunca é liberado: o da vítima, a pretexto de pagamento de “taxas”, é o único que é perdido.
“São promessas de financiamentos de diversas formas. Pedimos sempre para a pessoa desconfiar, porque é muito fácil: juros muito baixos e quantias a ser liberadas de R$ 1.000 a R$ 2 milhões. Todo mundo sabe a dificuldade que é contrair empréstimo, então, tem que desconfiar”, alerta. Conforme a delegada, tanto o detalhamento da proposta quanto o pedido de depósito de uma taxa são feitos por telefone --principalmente celular. Pago o dinheiro, o golpista some. “Temos vítimas que perderam R$ 2.000, R$ 3.000 nesses depósitos."
Também em crescimento, e anunciado da mesma forma que o falso financiamento, o golpe do falso emprego promete vagas com bons salários, na intermediação feita sempre por telefone. “Aí se pede ao interessado que ele deposite uma taxa para elaboração do currículo, mais uma taxa de exame médico... e o emprego nunca vem. O que orientamos é que, se pessoa já precisa de um emprego, não tem que pagar por uma vaga. O mesmo vale a quem vai contrair empréstimo”, afirma Buque. No caso das promessas de vaga, segundo ela, acontece de o golpista ainda elaborar um “contrato malicioso” por meio do qual o criminoso tenta provar, depois, que o dinheiro seria para confecção de currículo.

Golpe da venda de veículos

Em menor número que os golpes de falso financiamento e falso emprego, mas também recorrentes, a venda de veículos zero com descontos muito além dos praticados no mercado também estão na lista dos estelionatos investigados pelo Deic. Em geral, o golpista que anuncia a mercadoria se diz funcionário de montadora contemplado em um sorteio e chega a oferecer, por exemplo, carros de R$ 60 mil por R$ 45 mil --desde que a vítima deposite o valor, muitas vezes, integral. E o carro nunca é entregue”, explicou a delegada.
Outro golpe baseado em venda de veículo é aquele por meio do qual a vítima acredita estar comprando utilitários, e também com descontos maiores que os de mercado. Depois de assinar um contrato proposto pelo estelionatário, porém, é que percebe que aderiu, na verdade, a um consórcio. Para a polícia, ainda que a mercadoria não seja fictícia, o estelionato neste caso existe da mesma forma. “A vítima deposita algum valor, por exemplo R$ 100 mil, e não presta atenção ao que assina. É estelionato, pois não deixa de ser um modo fraudulento de se vender um produto”, reforça a delegada do Deic.

Falsa indenização
Golpe relativamente antigo em São Paulo --a polícia tem registros dele ao menos desde 1994 --, a suposta indenização a antigos mutuários da Montepio da Família Militar (espécie de antiga caixa de assistência da Polícia Militar), ainda faz vítimas no Estado. Elas recebem em casa um “formulário da Justiça”, com timbre do órgão oficial, solicitando que depositem 10% do valor da causa supostamente ganha --de R$ 19 mil a R$ 30 mil --a um advogado.

“O golpista coloca um número de celular para a pessoa entrar em contato e depositar o honorário advocatício --só que a Justiça não manda notificação dessa forma, muito menos com número de celular e nem pedindo depósito: o cidadão que é intimado tem que comparecer à sede do órgão público, tal como um fórum. Se não vier dessa forma, tem que suspeitar”, complementa Buque.
O UOL Notícias teve acesso a um desses avisos, investigado no Deic depois da denúncia de uma vítima. Com o brasão do Estado de São Paulo e o título de “Comunicado importante”, informava que uma causa de R$ 19.875,32 demandaria encargos de R$ 1.863,49, “em dinheiro”, ao titular de um celular da capital.
Indagada sobre os fatores que contribuem para que vítimas ainda caiam nesses golpes, a delegada resumiu: “Desinformação ainda é o que pesa. É preciso sempre mostrar que isso está acontecendo, e também a sociedade trazer esses casos à polícia, pois nós trabalhamos com base em informação, e o cidadão, sabendo que os golpes não pararam, fica mais cauteloso”, definiu.

Fonte: Uol

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