01/02/2011

Mini-curso: Opções - Venda Coberta

Hoje vamos falar da venda coberta de opções, uma excelente forma de remunerar uma carteira de ações.
A venda coberta de opções nada mais é que vender uma opção de compra (call) que deriva de uma ação que o investidor possui em carteira, onde o investidor irá deixar as ações como garantia para a venda de opções.

Resumindo, imaginando que alguém tenha 500 ações da PETR4 na carteira, então ele pode fazer a venda de 500 PETRB28, deixando as PETR4 como garantia da venda das opções. Porque da garantia? Pois quem vende a opção, está vendendo um direito ao comprador, e ficando com uma obrigação de fazer a venda caso o comprador deseje, então, a CVM pede uma margem de garantia para toda venda que é feita, para garantir que o comprador possa exercer seu direito, por isso as ações são usadas como garantia. A venda coberta é uma operação que não oferece riscos adicionais ao investidor, pois na pior das hipóteses, ele será exercído, e entregará as ações que possui, não precisando desembolsar nenhum dinheiro.

O objetivo da venda coberta é remunerar a carteira de ações, e não ser exercído, normalmente essa prática é mais utilizada por quem possui uma carteira de ações de longo prazo, e com o lucro obtido na venda das opções, compram-se mais ações.
Como o objetivo é remunerar uma carteira de ações, e evitar o exercício, normalmente é vantajoso recomprar as opções com prejuízo, do que deixar ser exercído e depois ter de recomprar as ações. Isso porque ser exercído e recomprar as ações depois, pode levar à taxas de corretagens maiores, e ao pagamento de imposto de renda em cima das opções e das ações, então, se o objetivo é manter a carteira de ações, avalie se vale a pena deixar ser exercído ou não, calculando todos os custos envolvidos. É importante ter uma estratégia de stop caso a operação venha contra, possibilitando a recompra das opções ainda por um preço baixo, assimilando um pequeno prejuízo, e não deixando elas explodirem.

A vantagem da venda coberta é que você consegue tirar dinheiro do mercado quando ele não está subindo, ou seja, quando ele cai ou fica de lado, e com isso, o dinheiro ganho na venda das opções, serve para comprar mais ações a preços mais baixos, principalmente quando o mercado cai. As vezes, pode-se ganhar até em uma leve alta, desde que a opção vendida seja OTM.
Como nem tudo são flores, e no mercado não existe operação infalível, o investidor abre mão do lucro de uma alta forte caso ela ocorra.
Outro ponto importante. é que a venda coberta não deve ser usada para defender uma queda nos preços das ações, pois a ação pode cair mais do que o valor recebido pelo prêmio, o que poderia fazer você vender opções com strikes cada vez menores para tentar defender a queda, e quando acontecer uma reação, você poderá será exercído e vender as ações no "fundo", ou seja, com prejuízo nas ações maior do que o lucro obtido nas opções. Por isso é importante avaliar se a venda é interessante e vantajosa.

Lembre-se, ao operar opções, existe um equilibrio, para cada vantagem, existe uma desvantagem, não tem milagre.
Existe uma operação que consiste na venda coberta de opções ITM, com o intuito de ser exercído, essa operação se chama financiamento, e irei tratar dela em outro post.

É importante dizer que é impossível acertar todas as operações, e vão ocorrer vezes que você perderá com a venda coberta, mas é importante que a operação seja vencedora no longo prazo, e você ganhe mais operações do que perde, além de quando ganhar, ter lucros maiores do que os prejuizos quando se perde. Como a venda de opções possui o tempo (theta) a favor, e normalmente o mercado não faz movimentos bruscos, a chance de ganhar uma venda é maior do que perdê-la, mas não é por isso que deve-se vender o tempo todo, pois vendas ineficientes podem atrapalhar e comprometer a estratégia no longo prazo, tornando-a perdedora.


Devemos sempre buscar vender uma opção com alto VE (valor extrínseco ou valor de expectativa), para termos uma boa remuneração, mas ao mesmo tempo devemos vender uma opção OTM, e quanto mais OTM melhor, porém sabemos que o maior VE está na opção ATM, e conforme a opção vai ficando mais OTM, o VE vai diminuindo. Aqui caímos novamente no equilíbrio, sendo necessário buscar a melhor relação VE/Distância do exercício. Outro ponto que influencia o tamanho do VE é o tempo que falta para o exercício, sendo que quanto maior o tempo restante, maior o VE, e consequentemente, maior a chance da opção atingir o preço de exercício.

Como achar essa distância? Esse ponto é um pouco complicado, e vai variar de pessoa para pessoa, dependendo da estratégia de cada um, e da forma como opera.

Mas vamos a alguns pontos a serem levados em consideração, em primeiro lugar, não devemos nunca vender uma opção que o valor do VE seja menor que a soma de Delta e Gama, essa opções são chamadas de NV (Não venda). Uma opção NV possui pouco retorno à oferecer e um alto risco gama. Uma opção com alto gama é explosiva, então, em caso de alta forte, a opção tende a ganhar valor muito rapidamente, atingindo o ponto de stop ou levando o operador a ter que recomprar as opções com grande prejuízo, ou então, deixar ser exercído e abrir mão de uma boa valorização das ações.
Devemos buscar uma opção que tenha um valor de VE alto e que tenha boa distância do strike para o preço atual, para reduzir a chance de exercício, em muitos casos a primera opção OTM é interessante, mas ela não oferece distância tão grande, já a segunda opção OTM oferece uma boa distância, mas nem sempre tem um bom VE, cabe a cada um decidir qual é mais vantajosa. Vender uma opção ATM é mais arriscado, embora tenha um excelente VE, e não é recomendado aos iniciantes.

É interessante recomprar as opções após elas sofrerem boa desvalorização e perderem boa parte do seu VE, pois a partir de certo ponto, ela já não oferece mais muito à ganhar, e passa a oferecer um alto risco, principalmente se for uma opção que está ATM ou próximo disso, com alto gama. Quanto mais perto do vencimento, e mais ATM, maior o risco gama, por isso não é recomendado levar a venda coberta até o dia do exercício.

Uma forma de saber se é o momento de recomprar, é verificar se o VE já esta menor que Delta + Gama, tornando a opção NV, este pode ser um bom ponto de recompra, outro fator a ser levado em conta, é se o prêmio da opção ficar abaixo dos 0,20 centavos, que é normalmente o ponto em que faço a recompra em minhas operações, a não ser que a opção esteja muito OTM e a chance de exercício for mínima, o que é relativamente raro, então, procuro recomprar na casa dos 0,20 centavos, já que evito de fazer venda de opções com valor menor que 0,50, pois procuro vender apenas quando a um bom VE a ser ganho.

Importante aqui também levar em consideração o tempo que falta para o exercício, achar uma opção com alto VE, strike com boa ditância e perto da data de exercício é praticamente impossível, então, é importante ficar atento à essas 3 variáveis para identificar uma possível oportunidade.

Resumindo, quando fazemos uma venda, temos o tempo ao nosso favor, e não queremos um ercado volátil, pois não precisamos de forte movimento, e quanto menos volátil, menor a chance de uma forte alta, consequentemente, maior a chance de sucesso da venda. Mercados voláteis são melhores para compras, que não tem o tempo a favor, e precisam de forte movimento para ter sucesso. Quanto mais delta e mais gama existe em uma opção, mais explosiva, e mais ela se movimentará quando a ação se movimentar, então, para a venda, é melhor ter pouco delta e pouco gama (pouco potencial de variação), principalmente o gama. Já para uma compra, quanto mais gama e delta (muito potencial de variação), melhor.

A venda coberta não exige que a operação seja excessivamente monitorada, sendo perfeitamente possível acompanhar a operação 1 vez ao dia, para saber seu andamento, e tomar alguma medida caso necessário.

Ficamos por aqui, espero que o texto tenha ficado bom, e o próximo post do mini-curso será sobre fincanciamento, que consiste na compra de uma ação e na venda de uma opção com o intuio de ser exercído.

4 comentários:

Fábio Godoi disse...

Muito legal o post. Sou iniciante mas compreendi o conteúdo.

Abraços.

Fábio

R. Dakar disse...

Fabio, que bom que gostou e compreendeu o conteúdo do post.
Fique ligado que em breve colocarei mais um post do mini-curso de opções.

EduardoSouza disse...

Muito bom mesmo o post.
Voce acha que a venda coberta é uma opção viavel para longo prazo como substituição a renda fixa por exemplo?

Pensava em tirar 3% todo mes em venda coberta, porem com essa queda da da PETR4 continuo tirando 3% porem agora o capital foi reduzido por conta da redução do valor das acoes.

R. Dakar disse...

Eduardo, desculpa demorar tanto pra responder, a notificação via email para os comentarios estava desativada.

Vamos, la, o assunto é complexo. A sua idéia é possível sim, porém não é algo tão simples e garantido, na renda variavel, não temos como garantir e precisar um rendimento todo mês.

Você precisa tomar cuidado para não ser exercido, e precisa definir o objetivo dos lançamentos.
Se você não pretende se desfazer das ações, o fato delas cairem não é ruim, pode ser vantajoso, pois pode te possibilitar comprar uma maior quantidade de ações com o lucro obtido na venda coberta, e comprando mais ações, você vai poder vender mais opções, e no fim, vai ter mais lucro ainda.

Conseguindo manter lançamentos de alto VE, e evitando o exercicio, você pode sim conseguir uma "renda fixa" com o lançamento coberto de opções.

Em breve, teremos mais posts do mini-curso de opções, com outras formas de rentabilizar a carteira.