19/06/2007

Mitos do Dinheiro

Os mitos de investimento são tão antigos quanto o próprio mercado financeiro. Não estão em versos, mas na prosa, principalmente de corretores de imóveis ou ações ou de qualquer gerente que tenha meta a cumprir com vendas de planos de previdência, capitalização ou apólice de seguros. Uma carteira de investimento para ser bem-sucedida tem de começar derrubando esses mitos. E, nesses tempos de queda nas taxas de juro, alguns prestigiados analistas dizem que é fundamental conhecer a realidade do mercado para conseguir melhorar a performance de sua carteira.

O primeiro grande mito é achar que se faz fortuna no mercado financeiro, diz Marcos Elias, analistas de investimento da Link Corretora. "Você faz fortuna com seu trabalho, a proposta do mercado é preservação de capital", acrescenta. Esse mito, ele diz, deve-se muito às altas taxas do CDI (taxa praticada no mercado interbancário) que remuneraram nos últimos anos as aplicações de renda fixa no Brasil em níveis completamente fora da realidade. O investidor preguiçoso, que não quiser entender a mudança de paradigma, tende a perder dinheiro nos próximos anos.

Há um pouco de verdade em cada mito. Muitos foram reais no passado, mas eles se propagam entre investidores que estão pouco preocupados em checar sua atualidade. Esses mitos são histórias que soam bem quando são contadas e que sobrevivem porque raramente são submetidas a um exame mais detalhado. Aswath Damodaran, professor de finanças da Universidade de Nova York e especialista em análise de empresas e investimento, diz que os mitos são papo de vendedor. Autor do livro "Mitos de Investimentos", Damodaran desmonta, com base em estudos e pesquisas quantitativas, muitas dessas histórias.

Um dos mitos no mercado de ações, diz Damodaran, é o que aponta boas oportunidades na bolsa olhando só o valor patrimonial da ação. O valor patrimonial é a medida contábil de quanto vale o patrimônio de uma empresa dividido por suas ações. Se a ação da empresa em mercado está valendo menos do que seu valor patrimonial é um indicador de que a ação está barata, certo? Nem sempre.

O perigo dessa estratégia está no fato de que o valor patrimonial é uma medida contábil que pode ter nada em comum com o valor dos ativos que a empresa possui ou com quanto ela receberá por esses ativos em liquidação, diz Damodaran em seu livro. "Examinando os fundamentos que determinam o valor, é de esperar que empresas com risco elevado, maus prospectos de crescimento e retorno do patrimônio negativo ou baixo sejam negociadas a baixos múltiplos preço/valor patrimonial", diz.

Jonathan Clements, autor do livro "Os mitos que você deve evitar se quiser administrar corretamente seu dinheiro", fez um rol dos mitos mais comuns que investidores carregam ao longo dos anos. Um dos mais antigos e adotado tanto por americanos como por brasileiros é o apego aos investimentos em bens duráveis, como imóveis. Por que alguém investe em bens duráveis? "O ignorante dirá que são bons investimentos", diz. E Clements o que diz? "Direi que é uma grande perda de tempo".

O especialista explica que, de tempos em tempos, determinados bens duráveis viram moda e anunciam ganhos espetaculares de curto prazo. "Isso leva muitos a achar que esses bens são bom investimento, mas muitos deles no longo prazo vão gerar ganhos que mal se equiparam à inflação", diz.

Elias, da Link, fez um levantamento de mitos brasileiros mais comuns. O primeiro é o de que a bolsa é um investimento especulativo. "O que é mais difícil prever: o lucro de uma empresa ou a trajetória dos juros americanos?" questiona. Para ele, não há mistérios em enxergar o futuro de uma companhia e, se a perspectiva é de lucro, são grandes as chances de a expansão estar espelhada no preço da ação em algum momento, mesmo que o papel oscile bastante no meio do caminho. No entanto, saber se o Fed (Banco Central americano) vai subir ou não o juro tem um grau de incerteza maior.

Nos últimos dez anos, o melhor investimento foram aplicações atreladas ao CDI. "Posso citar pelo menos 20 ações com alta liquidez que, para qualquer prazo observado, apresentaram rentabilidade maior do que o CDI", diz Elias.

Edmundo Valadão, diretor da corretora Geração Futuro, conta que, nesses dez anos de taxas de juro nas alturas, conseguiu expandir seu negócio que está baseado apenas no mercado de ações. "Não me importa a taxa de juro, seja ela qual for, sempre haverá empresas que têm retorno maior", diz ele. "Por isso, investimos no nosso time de analistas que diariamente vasculha o mercado atrás de empresas que apresentam uma rentabilidade acima da taxa de juro", diz.

O segundo mito, na opinião de Elias, é o de que o Brasil será grau de investimento ("investment grade"). Com as pesquisas apontando para a reeleição do presidente Lula, os analistas estão de olho nas despesas do governo. "A redução dos gastos públicos e a implementação de novas reformas estão comprometidas com a reeleição do presidente e esses são passos obrigatórios para atingirmos o 'investment grade'", diz Elias. "Segundo os relatórios da Moody's e da Standard & Poor's, o ideal de esquerda após a queda do muro de Berlim e da falência da União Soviética é o assistencialismo e o Brasil é um dos maiores 'welfare state' do planeta, comprometendo, em termos relativos, a mesma parcela do PIB com programas assistencialistas que a Europa."

Otávio de Magalhães Coutinho Vieira, diretor da Multi Bank DTVM, diz que os gastos do governo já estão no radar dos analistas e ele é um entrave relevante à conquista do "investment grade". Crédito com juros tabelados para os aposentados, mais reajuste para o funcionalismo, mais bolsa família, enfim, a trajetória do gasto não é boa, diz Vieira.

Fonte: Valor Economico

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