30/06/2011

Discurso de Abilio é que "negócio será bom para todos"

Grupo Casino ficaria em situação desconfortável com seus acionistas se vetasse operação "promissora" em emergente

R$ 460 mi do BNDES comprariam ações do Carrefour na França; economia com a fusão seria vantagem

TONI SCIARRETTA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

O Casino tem argumentos contratuais, comerciais e até éticos para rejeitar a fusão com o Carrefour no Brasil.
Mas ficará em situação difícil perante seus acionistas se impedir o avanço de um negócio que pode ser interessante para a empresa.
O principal argumento é a receptividade do mercado, que elevou as ações em 9,8% nos últimos dois dias, com a visão de que aumentarão os ganhos do grupo.
Além do dinheiro barato do BNDES, do apoio do governo Dilma, a fusão traz uma economia com corte de custos de R$ 1,6 bilhão por ano, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas que acompanha a proposta.
O ganho é citado em entrevista à Folha por Percio de Souza, sócio da Estáter, empresa que fez a intricada operação de fusão, para tentar provar que as três empresas -Pão de Açúcar, Casino e Carrefour- teriam ganhos com a junção dos negócios no Brasil e na França.
O Casino ganharia R$ 230 milhões ao ano, se a estimativa da FGV estiver correta.
Os ganhos seriam decorrentes de sinergia, aumento de eficiência e de melhoras na logística, aponta o estudo.
Do ponto de vista comercial, elimina um dos dois únicos rivais de porte (sobra só o Walmart), aumentando o poder de barganha junto a fornecedores e estreitando as opções dos consumidores.
Com presença em diferentes países, diversifica as apostas e reduz a dependência de um só mercado.
"É um ganha, ganha, ganha. Ganha o acionista e o próprio consumidor, graças ao repasse de sinergias. Todos os acionistas do Carrefour e do Pão de Açúcar terão tempo para avaliar, podendo aceitar ou não. Não tem hostilidade nessa oferta", disse Carlos Fonseca, sócio do banco BTG Pactual.
O melhor argumento contrário é que o Carrefour brasileiro, que enfrenta dificuldades e teve rombo de 500 milhões em 2010, teria sido superavaliado na transação.
Na fusão, o Carrefour entra com 31% da nova empresa, enquanto o Pão de Açúcar fica com 69%. Também haveria conflito de interesse porque, quanto mais alta a avaliação do Carrefour brasileiro, mais os acionistas da matriz se beneficiam.
Segundo Percio de Souza, consultor da Estáter e "arquiteto" da fusão, Abilio não teve oportunidade de "vender" o negócio aos franceses.
"Não tivemos escolha. Eles não quiseram nos ouvir. Se não aprovar, o negócio não ocorre. Mas eles vão ter que assumir o ônus, para o resto da vida, de ter barrado uma oportunidade importante para todos", disse.

"GANHO BRUTAL"
De acordo com o estudo, o lucro por ação passaria de R$ 2,80 para R$ 4,70, o que Souza classifica de "ganho brutal". "Todos os acionistas terão ganhos financeiros."
O engenheiro diz que, do 1,7 bilhão que será injetado pelo BNDES na operação, 1,5 bilhão vai ser investido no Brasil, para aumentar o capital da NPA (Novo Pão de Açúcar), empresa que nasceria da fusão dos três grupos.
Os 200 milhões restantes (equivalentes a R$ 460 milhões) seriam aplicados na França, na compra de ações do Carrefour.
Um fundo do banco BTG Pactual entraria com mais 800 milhões a serem investidos na França, ainda segundo o financista.
"Não é verdade que o Casino vai ser dirigido por um concorrente. A direção vai ser da NPA", rebate. Na França, ocorreria o inverso, segundo ele: o Casino passaria a controlar o Carrefour.

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