30/06/2011

Em dia de tiroteio, Pão de Açúcar gira R$ 1,7 bi

Autor(es): Daniele Camba
Valor Econômico - 30/06/2011


Mal se recuperaram da surpreendente proposta de fusão das operações do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, os investidores ontem se depararam com um verdadeiro tiroteio com as ações da varejista brasileira. Durante a manhã, as preferenciais (PN, sem voto) da empresa chegaram a subir 12%. Nesse momento, a sensação que se tinha no mercado é que grandes investidores, com muita bala na agulha, estavam comprando as ações, certos de que o grupo Casino diria sim aos negócios. No entanto, de uma hora para outra, as ações viraram para o campo negativo, fechando em baixa de 3,07%, a maior queda do Índice Bovespa.
Esse sobe e desce deixou os investidores sem saber o que pensar. Afinal de contas, as apostas são de que a fusão vai ou não dar certo?
O giro de negócios com os papéis do Pão de Açúcar reforça o tamanho do bangue-bangue que ocorreu entre os investidores. As ações movimentaram R$ 1,7 bilhão, o equivalente a 26% do giro da Bovespa. Esse volume superou, e muito, os negócios com tradicionais papéis, como as PNs série A da Vale que giraram R$ 408,3 milhões e as PNs da Petrobras, com R$ 330,6 milhões.
O volume é significativo também quando comparado com o histórico da companhia. No ano, a média diária de negócios com as ações do Pão de Açúcar era de R$ 49,7 milhões.
Esse giro gigantesco e o comportamento errático das ações deixou o mercado intrigado. Quem seria forte o suficiente para estar por trás desses negócios e fazer o volume dar tamanho salto?
Para os analistas, o Casino era o grande protagonista desse burburinho. "Só alguém com muito dinheiro e muito interessado na operação poderia ser o responsável por esse giro", diz o diretor de uma corretora.
Bingo! Por volta das 20h30, o Casino informou o Pão de Açúcar que comprou nos últimos dias o equivalente a 6% do capital total do Pão de Açúcar.
Outra sinalização que levantava suspeitas sobre o Casino era a grande movimentação de ações por corretoras estrangeiras, que costumam intermediar operações de investidores internacionais. Corretoras como Credit Suisse, Morgan Stanley, Barclays e Link (comprada pelo UBS) foram os grandes destaques tanto na ponta de compra quanto na de venda das ações.
Existem várias teses para essa compra de ações confirmada pelo Casino. Alguns acreditam que o aumento de participação seria para o grupo francês ter maior poder de fogo na negociação com o Pão de Açúcar. Já outros apostam que esta é apenas a forma encontrada pelo Casino para mostrar ao Pão de Açúcar que o grupo continua bem vivo e disposto a brigar.
Coincidência ou não, as ações passaram a cair depois que o Pão de Açúcar enviou uma carta aos controladores, acionistas e partes relacionadas proibindo a negociação com as ações, já que podem ter informações privilegiadas neste momento. Inclui-se nesse grupo o Casino.
Daniele Camba é repórter de Investimentos

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