27/06/2011

Pré-sal e retomada do mercado de capitais atraem novatas

Naiara Bertão e Rodrigo Pedroso* | De São Paulo

Depois de OGX, HRT e Queiroz Galvão, a possibilidade de buscar recursos no mercado de capitais brasileiro também chamou a atenção de outras duas companhias privadas de petróleo: Perenco e PetroRecôncavo. Ambas entraram com pedido de oferta inicial de ações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em maio, e a primeira pretende concluir sua operação nesta semana.
Esse movimento é resultado de uma combinação de fatores, como a solidez do mercado de capitais no Brasil e a descoberta do potencial do pré-sal para a extração de petróleo, que cria perspectivas favoráveis ao segmento. A expectativa é que o país passe de importador a exportador da commodity, movimentando consigo toda a cadeia produtiva.
Para que esse crescimento aconteça, no entanto, é preciso investimentos pesados na indústria, que começa a escolher o mercado de capitais para se financiar. No caso da Perenco Petróleo e Gás, 67% do capital levantado em sua oferta pública será destinado à exploração de seus cinco blocos na bacia do Espírito Santo, em parceria com a OGX, do empresário Eike Batista. O restante será investido em novos empreendimentos. A Perenco espera começar a exploração de petróleo na região capixaba em março de 2014, com produção prevista para 2016.
A depender das condições em que a oferta for fechada, a empresa poderá levantar de R$ 633 milhões a R$ 1,1 bilhão na bolsa.
A PetroRecôncavo planeja aumentar sua produção total em 17,6% ao ano até 2015 com o volume de dinheiro a ser captado no mercado. A empresa atua no Brasil desde 2000, quando assinou contrato de produção com a Petrobras, e é controlada meio a meio pela americana PetroSantander e a brasileira Petroinvest, uma associação do grupo Opportunity com a Perbras. Atualmente soma 17 campos de exploração em terra localizados na região do Recôncavo Baiano. Os detalhes sobre a oferta, como preço e quantidade de ações a serem vendidas, ainda não foram informados.
A entrada de novos atores nesse mercado é uma boa notícia para os investidores, na visão de Erick Scott Hood, analista de petróleo da SLW Corretora. Ele afirma que o setor é alvo de interesse a longo prazo devido ao grande potencial brasileiro. "Em um primeiro momento, o impacto [da chegada novas empresas] é pequeno. Mas, é claro que deixa um alerta para o resto. Isso acaba sendo saudável para o mercado porque dá mais opções."
A diversificação do mercado na bolsa começou em junho de 2008, quando a OGX Petróleo e Gás captou R$ 6,7 bilhões na maior oferta inicial primária da história da Bovespa à época.
Mais de um ano depois, foi a vez da HRT Participações em Petróleo, formada por ex-executivos da Petrobras, recorrer ao mercado para alavancar seus investimentos em bacias amazônicas, levantando um total de R$ 2,5 bilhões na operação.
Atual caçula do petróleo na Bovespa, a Queiroz Galvão foi uma das primeiras a operar na extração do óleo, logo após a quebra do monopólio no país. A oferta de ações na bolsa ocorreu em fevereiro deste ano, quando a empresa captou R$ 1,5 bilhão.
As boas perspectivas dessas empresas contrariam o atual desempenho das ações delas no mercado. Desde a estreia em fevereiro, a Queiroz Galvão acumulava 11% de queda até sexta-feira. No acumulado do ano, a HRT, caiu 13,5%, enquanto Petrobras e a OGX, duas das mais líquidas do mercado, tiveram desvalorização de 14,6% e 27,6%, respectivamente.
O desempenho das ações dessas empresas tem explicação na atual conjuntura da economia mundial, com Estados Unidos, Japão e Europa patinando no pós-crise e conflitos políticos no Oriente Médio. Segundo Marco Saravalle, analista de petróleo da corretora Coinvalores, a desvalorização do setor se dá no curto prazo. "Essas companhias têm ativos ímpares, áreas com boas qualidades de óleo e infraestrutura para exploração que as tornam atraentes para os investidores de longo prazo."
Até a Perenco e a PetroRecôncavo entrarem na Bovespa, apenas companhias com capital controlador nacional atuavam no setor. Embalado pela possibilidade de lucratividade e condições para a exploração do pré-sal, os investidores estrangeiros voltam suas atenções para o petróleo brasileiro, enquanto a diversificação do setor de petróleo possibilita que empresas de setores da cadeia petrolífera cresçam junto.(*Texto produzido no Curso de Jornalismo Valor Econômico)

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