01/06/2011

Vida a dois: finanças equilibradas em três passos

SÃO PAULO – Excluindo os clichês que podem cercar o tema, o casamento
é um momento especial. Mais que uma união entre duas pessoas, a
cerimônia também une dois bolsos, muitas vezes, distintos. E, nesse
caso, nenhum romantismo sustenta um orçamento da vida a dois. Para
começar a nova fase sem dívidas, o planejamento financeiro deve ser
feito antes do "sim".

Distinguir receitas e despesas seria o primeiro passo. Contudo, quando
o assunto é planejamento a dois, é preciso atenção a algumas
diferenças entre a organização financeira do casal e a de um solteiro.
"É até mais difícil fazer um planejamento quando se está sozinho. Com
outra pessoa, é mais fácil porque um incentiva o outro em caso de
deslizes", afirma a gerente do Easynvest, Miriam Macari.

Um solteiro, explica Miriam, não tem grandes responsabilidades que
conduzam o gerenciamento do seu próprio dinheiro. Dessa forma, ele
acaba gastando além do que precisa, porque não tem um direcionamento
planejado do que ganha. E somente ele arcará com os erros financeiros
que cometer. Um casal, por outro lado, pode cometer erros com as
finanças, mas o outro está ali para socorrer.

Primeiro passo: a conversa
Por isso, o primeiro passo para um planejamento eficaz é a conversa.
Para o professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Mário Amigo, é nessa
fase que o casal se conhece financeiramente. "É para um entender como
está o orçamento do outro. A situação financeira tem de ser analisada
para que os objetivos sejam alinhados. O casal precisa entender que o
planejamento é mais importante que aumentar os rendimentos",
considera.

Listar as despesas e as receitas de que cada um dispõe é o primeiro
passo para iniciar a vida a dois sem dívidas. A partir daí, fica a
critério do casal o modo como eliminarão possíveis débitos. Um pode
ajudar o outro a sair do problema. E os dois devem fazer uma poupança
antes de se unir de fato. "Pensar em uma poupança de longo prazo, ou
mesmo uma previdência complementar, é um meio de compatibilizar
objetivos", afirma Amigo.

Depois de pagar as dívidas, é preciso que as metas sejam estabelecidas
conjuntamente. Claro que cada um não precisa abandonar antigos sonhos
de consumo para casar sem dívidas, mas é preciso estabelecer
prioridades. Um passo de cada vez.

Segundo passo: a festa e o custo da nova vida
Pode não parecer, mas a festa de casamento é o segundo passo para
começar a vida de casados com dívidas ou sem elas. Por isso, os dois
já devem começar a fazer uma poupança para formar uma reserva para a
cerimônia. O coordenador do curso de Gestão Financeira da Veris
Faculdades, Fabrício Pessato Ferreira, atenta que esse planejamento
não é a toa. Ele calcula que uma festa de médio porte pode custar em
torno de R$ 20 mil. "O marco zero é calcular os gastos que serão
efetuados e ver de quanto o casal dispõe para realizar a festa".

Visto isso, é preciso que o casal faça pesquisas incansáveis de
preços. Entre os itens que o economista aconselha a dar mais atenção
estão o aluguel do espaço onde ocorrerá a festa, a decoração do espaço
e da igreja e, principalmente, o bufê. "Especifique tudo em contrato
e, se possível, coloque alguém como mestre de cerimônias para
averiguar se a quantidade de bebida contratada está sendo efetivamente
distribuída", exemplifica.

Os gastos não param por aí. Até na lua de mel, calcula o economista, o
casal pode ter prejuízo. "Cuidado com os passeios de pacotes. Muitas
vezes, esses passeios não são os melhores e as agências de viagem
tentam empurrá-los porque ganham comissões para fazê-lo", alerta
Ferreira. Depois da viagem, organizar a casa nova é um dos momentos
mais esperados pelo casal.

Para além dos cuidados da compra da casa, o casal deve ficar atento
aos gastos com móveis e eletrodomésticos novos. O economista aconselha
fazer estimativas antecipadas de quanto serão os gastos para mobiliar
a casa nova. "Uma solução é colocar os móveis e eletrodomésticos mais
caros para serem comprados pelos convidados por quotas em sites de
presentes", aconselha Ferreira. Ou mesmo manter móveis e
eletrodomésticos de solteiro, fazendo poucas mudanças.

Terceiro passo: mudando hábitos
Fazer o planejamento pode ser até simples. Mantê-lo é que pode se
tornar um problema, porque requer mudanças, muitas vezes drásticas, de
hábitos. "É difícil mudar hábitos, mas dá para controlar gastos.
Quando você faz isso, você vê o quanto dói no bolso", afirma Miriam.
"É importante lembrar que esse planejamento não termina com a compra
do apartamento", reforça.

"Normalmente, o comportamento de consumo de cada um antes de se unir
acaba sendo levado para o casamento", afirma Ferreira. O economista
explica, porém, que o casal precisa compreender que o comportamento de
consumo agora é a dois. "Nesses casos, o pior erro é exatamente não
fazer uma programação de gastos", considera.

Se eles conseguirem manter um planejamento antes do casamento, depois
do "sim", tudo fica mais simples. Para Mário Amigo, da Fipecafi, isso
é uma questão de tempo. "Quanto mais cedo eles tiverem essa conversa e
fizerem esse planejamento, mais fácil será essa adaptação, porque você
amadurece esse planejamento e age com menos impulso".

Fonte: InfoMoney

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