empréstimo emergencial de 12 bilhões de euros à aprovação de medidas
de austeridade e privatizações pelo Parlamento da Grécia, seria
racional e crível sob o argumento de que a Grécia teria mais a perder
com uma moratória do que a zona do euro em si.
Ou, para dizê-lo de outra forma, ameaças só valem a pena se os que as
fazem podem de fato levá-las a cabo.
Mas, caso o premiê grego, George Papandreou --sob extrema pressão da
oposição popular e parlamentar--, não consiga obter apoio, nos
próximos dias, para seu renovado gabinete e para o programa de redução
de déficit exigido por França, Alemanha e outros, será que os governos
da zona do euro vão simplesmente observar a Grécia dizer a seus
credores que eles não receberão seu dinheiro?
A questão é que essa hipótese, se concretizada, teria consequências
potencialmente catastróficas para credores não apenas dos 240 bilhões
de euros da dívida soberana grega, mas também para credores de
centenas de bilhões de euros da dívida comercial grega e de outras
dezenas de bilhões de euros de contratos de derivativos relacionados à
dívida grega.
Um calote também aumentaria o risco de empréstimo para a Irlanda e
Portugal, desencadeando amplas perdas adicionais de centenas de
bilhões de euros em empréstimos a esses países e seus respectivos
bancos.
E, com a indefinição quanto à sustentação de longo prazo das dívidas
da Espanha e da Itália, os governos desses países talvez sejam
forçados a pagar mais para obter dinheiro emprestado.
A moratória grega também afetaria balanços bancários por toda a
Europa: bancos gregos, portugueses e irlandeses provavelmente só
sobreviveriam se fossem nacionalizados; e bancos da França, da
Alemanha e até mesmo nos EUA sofreriam perdas que deixariam seus
capitais em níveis perigosamente baixos.
Além disso, o Banco Central Europeu (BCE), maior credor da dívida
soberana de Grécia, Portugal e Irlanda, precisaria de uma forte
injeção de apoio financeiro vindo de países da zona do euro. Uma
humilhação pública desse tipo levaria anos para abandonar a reputação
do BCE.
Será que os ministros das Finanças da Alemanha, da França, da Holanda
e demais países realmente querem isso?
Claro que isso tampouco seria o fim da catástrofe em potencial. Há um
crescente movimento popular na Grécia defendendo a saída do país da
zona do euro.
Acontece que a saída de um país-membro da zona e sua adoção de uma
moeda independente faria com que aumentasse muito o custo de
empréstimos tomados pelos países que permanecessem com o euro (salvo
Alemanha, Luxemburgo e Holanda).
Isso porque se criaria a ideia de que a permanência no euro não é mais
algo vitalício. Então, qualquer um que emprestasse para a Espanha, a
Itália ou até mesmo a França teria que ser compensado por esse risco -
o risco de que dívidas inicialmente inseridas na zona do euro poderiam
eventualmente estar ligadas mais diretamente à saúde de uma única
economia.
No atual estágio frágil de recuperação econômica da região, um aumento
nos custos dos empréstimos seria um grande revés.
E não percamos tempo considerando os complexos litígios internacionais
que estariam envolvidos em uma eventual decisão unilateral da Grécia
de transformar dívidas cotadas em euro em moeda local.
Sendo assim, chegamos a duas conclusões. Primeiro, que, quando as
pessoas falam da Grécia como o "momento Lehman" da Europa (em
referência ao banco americano Lehman Brothers, cujo colapso, em 2008,
provocou pânico nos mercados e perdas para credores), elas estão
erradas.
Uma moratória grega feita de forma desordenada provavelmente seria
pior para a economia mundial do que a quebra do Lehman --ainda que, no
caso dos bancos, eles estejam mais preparados para absorver perdas do
que estavam em 2008.
Em segundo lugar, a decisão dos ministros das Finanças europeus, de
condicionar a entrega de uma parcela de 12 bilhões de euros (cerca de
R$ 27,4 bilhões) de ajuda à Grécia à adoção pelo país de mais cortes
de gastos, não deverá ser capaz de amansar os opositores das medidas
de austeridade no país.
Ao mesmo tempo, se o Parlamento grego rejeitar a aprovação dessas
medidas, estaremos perto demais de um desastre financeiro ao estilo do
ocorrido nos anos 1930.
Fonte: Folha.com
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