08/06/2011

Consenso de mercado aponta alta de 25 pb na Selic, com sinais positivos da inflação

Às vésperas da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) para
definição da taxa básica de juros do Brasil, o mercado parece não
destoar muito. A sinalização na última ata deixou claro que o ciclo de
aperto monetário não acabava ali, mas a alta de apenas 25 pontos-base,
quando a expectativa era de 50 pontos-base, fez os agentes mudarem
suas apostas para as próximas reuniões.

A inflação - o grande vilão da economia brasileira - já não parece
mais tão assustadora. Pelo menos essa é a visão dos agentes de
mercado, segundo o Relatório Focus. A pesquisa promovida pelo Banco
Central vem, a cada versão, apresentando uma leitura mais benigna da
inflação e os analistas estão mais confiantes de que, realmente, a
pressão inflacionária começa a melhorar.

Os economistas ouvidos pela instituição acreditam que a alta da Selic
deve ser de 25 pontos-base nessa reunião, ficando em 12,25% ao ano. E
essa aposta também é consenso entre os analistas pesquisados pela
InfoMoney.

Um sinal positivo para os membros do Comitê é o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) de maio, divulgado nesta manhã de terça-feira
(7), indicando nova desaceleração no ritmo inflacionário brasileiro. A
medida oficial de inflação do País registrou taxa de 0,47% em maio,
0,30 ponto percentual menor que o de abril.

Inflação já não assusta tanto ...
Que a alta dos preços ainda é um assunto que preocupa, os analistas
não discordam. Porém, nos últimos meses, o cenário ficou mais
otimista. Segundo o Credit Suisse, desde a última reunião do Copom, em
abril, a trajetória de inflação tem sido mais favorável do que o
mercado esperava. A expectativa do banco é que a inflação para os
meses de junho até agosto seja inferior às expectativas.

Igualmente, André Perfeito, economista-chefe da Gradual, destaca que
os ventos estão mais favoráveis para o Banco Central e a vida de
Alexandre Tombini, presidente do BC, passou a ficar mais fácil. Para
Perfeito, a boa notícia é que os preços das commodities já apresentam
estabilidade.

A equipe econômica do Santander acrescenta que os meses de junho a
agosto têm uma sazonalidade favorável, com alimentos e combustíveis
mostrando deflação. "Essa combinação de eventos favoráveis para a
inflação deve resultar em inflação próxima de zero em junho e julho",
destacou o Santander.

... mas mercado de trabalho, sim
Se por um lado há bons sinais no campo inflacionário, o mesmo otimismo
não se observa no mercado de trabalho brasileiro, por exemplo. Este
ainda encontra-se apertado e a taxa de desemprego permanece em níveis
históricos de baixa. O desemprego, com ajuste sazonal, ficou em 6,0%,
bem abaixo da NAIRU (taxa de desemprego não aceleradora da inflação,
na sigla em inglês) calculada pelo Santander, de 7,0% a 7,3%.

Como a correlação entre desemprego e inflação é negativa, níveis cada
vez menores da taxa de desemprego preocupam os analistas, uma vez que,
à medida que esta cai, aquela aumenta.

Segundo a Gradual, o reajuste do salário mínimo é um "ponto de
estresse" e muitas categorias já estão brigando para abocanhar as suas
partes nesse reajuste. Complementando a discussão, José Francisco de
Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, pondera que "o
mercado de trabalho hoje é central em qualquer argumento e ele está,
de fato, apertado".

Expectativa para a ata
Contudo, qualquer que seja o cenário econômico que surge no País, os
analistas concordam que somente após a ata do Copom é que o mercado
poderá se nortear em relação ao tamanho do ciclo de aperto monetário.
A ata divulgada pelo Comitê, na semana seguinte após a reunião, serve
como referência para os agentes, que passam então a ajustar suas
expectativas.

David Beker, analista do Bank of America Merrill Lynch, afirma que o
mercado estará atento para saber se o BC irá, enfim, retirar a palavra
"prolongado" de seu comunicado. Para ele, caso isso não ocorra, pode
haver novamente uma aposta para mais duas altas de 25 pontos-base na
Selic, além da decisão desta reunião. O analista ainda afirma que,
caso a palavra seja mantida, o BC terá que mudar a linguagem em seu
relatório de inflação para conseguir mexer com as expectativas do
mercado.

O Banif, entretanto, espera um ciclo prolongado de aperto monetário,
aguardando um comunicado neutro por parte do BC. O Santander também
permanece com a visão de que o ciclo de correção monetária será por um
tempo "suficientemente prolongado".

Macroprudenciais?
Além disso, a possibilidade de mais medidas macroprudenciais não está
descartada. A LCA acredita que, junto com as medidas de contenção de
crédito já tomadas, a alta dos juros poderá garantir uma boa margem de
segurança para que a inflação convirja para o centro da meta em 2012.

Perfeito, da Gradual, por outro lado, acredita que a alta de 25 em 25
pontos-base não surtirá grandes efeitos, pois as dúvidas em relação às
pressões salariais ainda são grandes. Por isso, é preferível que o BC
eleve os juros agora e pare por aí, dando preferência para o recurso
das macroprudenciais.

Fonte: InfoMoney

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