definição da taxa básica de juros do Brasil, o mercado parece não
destoar muito. A sinalização na última ata deixou claro que o ciclo de
aperto monetário não acabava ali, mas a alta de apenas 25 pontos-base,
quando a expectativa era de 50 pontos-base, fez os agentes mudarem
suas apostas para as próximas reuniões.
A inflação - o grande vilão da economia brasileira - já não parece
mais tão assustadora. Pelo menos essa é a visão dos agentes de
mercado, segundo o Relatório Focus. A pesquisa promovida pelo Banco
Central vem, a cada versão, apresentando uma leitura mais benigna da
inflação e os analistas estão mais confiantes de que, realmente, a
pressão inflacionária começa a melhorar.
Os economistas ouvidos pela instituição acreditam que a alta da Selic
deve ser de 25 pontos-base nessa reunião, ficando em 12,25% ao ano. E
essa aposta também é consenso entre os analistas pesquisados pela
InfoMoney.
Um sinal positivo para os membros do Comitê é o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) de maio, divulgado nesta manhã de terça-feira
(7), indicando nova desaceleração no ritmo inflacionário brasileiro. A
medida oficial de inflação do País registrou taxa de 0,47% em maio,
0,30 ponto percentual menor que o de abril.
Inflação já não assusta tanto ...
Que a alta dos preços ainda é um assunto que preocupa, os analistas
não discordam. Porém, nos últimos meses, o cenário ficou mais
otimista. Segundo o Credit Suisse, desde a última reunião do Copom, em
abril, a trajetória de inflação tem sido mais favorável do que o
mercado esperava. A expectativa do banco é que a inflação para os
meses de junho até agosto seja inferior às expectativas.
Igualmente, André Perfeito, economista-chefe da Gradual, destaca que
os ventos estão mais favoráveis para o Banco Central e a vida de
Alexandre Tombini, presidente do BC, passou a ficar mais fácil. Para
Perfeito, a boa notícia é que os preços das commodities já apresentam
estabilidade.
A equipe econômica do Santander acrescenta que os meses de junho a
agosto têm uma sazonalidade favorável, com alimentos e combustíveis
mostrando deflação. "Essa combinação de eventos favoráveis para a
inflação deve resultar em inflação próxima de zero em junho e julho",
destacou o Santander.
... mas mercado de trabalho, sim
Se por um lado há bons sinais no campo inflacionário, o mesmo otimismo
não se observa no mercado de trabalho brasileiro, por exemplo. Este
ainda encontra-se apertado e a taxa de desemprego permanece em níveis
históricos de baixa. O desemprego, com ajuste sazonal, ficou em 6,0%,
bem abaixo da NAIRU (taxa de desemprego não aceleradora da inflação,
na sigla em inglês) calculada pelo Santander, de 7,0% a 7,3%.
Como a correlação entre desemprego e inflação é negativa, níveis cada
vez menores da taxa de desemprego preocupam os analistas, uma vez que,
à medida que esta cai, aquela aumenta.
Segundo a Gradual, o reajuste do salário mínimo é um "ponto de
estresse" e muitas categorias já estão brigando para abocanhar as suas
partes nesse reajuste. Complementando a discussão, José Francisco de
Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, pondera que "o
mercado de trabalho hoje é central em qualquer argumento e ele está,
de fato, apertado".
Expectativa para a ata
Contudo, qualquer que seja o cenário econômico que surge no País, os
analistas concordam que somente após a ata do Copom é que o mercado
poderá se nortear em relação ao tamanho do ciclo de aperto monetário.
A ata divulgada pelo Comitê, na semana seguinte após a reunião, serve
como referência para os agentes, que passam então a ajustar suas
expectativas.
David Beker, analista do Bank of America Merrill Lynch, afirma que o
mercado estará atento para saber se o BC irá, enfim, retirar a palavra
"prolongado" de seu comunicado. Para ele, caso isso não ocorra, pode
haver novamente uma aposta para mais duas altas de 25 pontos-base na
Selic, além da decisão desta reunião. O analista ainda afirma que,
caso a palavra seja mantida, o BC terá que mudar a linguagem em seu
relatório de inflação para conseguir mexer com as expectativas do
mercado.
O Banif, entretanto, espera um ciclo prolongado de aperto monetário,
aguardando um comunicado neutro por parte do BC. O Santander também
permanece com a visão de que o ciclo de correção monetária será por um
tempo "suficientemente prolongado".
Macroprudenciais?
Além disso, a possibilidade de mais medidas macroprudenciais não está
descartada. A LCA acredita que, junto com as medidas de contenção de
crédito já tomadas, a alta dos juros poderá garantir uma boa margem de
segurança para que a inflação convirja para o centro da meta em 2012.
Perfeito, da Gradual, por outro lado, acredita que a alta de 25 em 25
pontos-base não surtirá grandes efeitos, pois as dúvidas em relação às
pressões salariais ainda são grandes. Por isso, é preferível que o BC
eleve os juros agora e pare por aí, dando preferência para o recurso
das macroprudenciais.
Fonte: InfoMoney
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