15/06/2011

Risco do Brasil é menor que o dos EUA? Para economistas, não é bem assim

SÃO PAULO - O risco Brasil é menor do que o dos EUA pela primeira vez
na história. Foi isso que o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
afirmou nesta terça-feira (15), baseado na queda do CDS (Credit
Default Swap) do País de 49 pontos-base para 42 pontos-base. Mas será
que esse é um indicador tão relevante assim para afirmar que o risco
do Brasil é de fato menor que o dos EUA.

O CDS é um derivativo, uma proteção que se faz quando se teme o
futuro, ou seja, quando o investidor acredita que pode se prejudicar
em virtude de algum evento futuro. Assim, o CDS funciona como uma
proteção para um possível nãoo pagamento da dívida de curto prazo, de
modo que, quanto maior for seu valor, maior é o risco de aquele país
não cumprir suas obrigações, ou seja, de dar o calote.

Exagerado
Para Leandro Ruschel, diretor da Leandro Stormer, a fala de Mantega
foi exagerada. "CDS não é avaliação de risco. É um derivativo de
balcão, tem muita volatilidade e não pode servir de padrão", afirma
Ruschel. Ele ainda acrescenta que há uma série de desafios teóricos
para se definir o risco da dívida. "Mantega está simplificando muito",
coloca.

José Goés, analista e economista da WinTrade, também concorda que não
faz muito sentido avaliar o risco de um país apenas olhando o CDS de 1
ano. Além disso, no prazo de cinco anos, esse custo continua sendo
muito maior para o Brasil. Na véspera, o CDS brasileiro de cinco anos
estava em 108 pontos-base, contra apenas 38 pontos-base no caso
norte-americano.

Goés explica que, o que se pode dizer do Brasil é que os indicadores
econômicos estão vindo melhores do que os dos EUA. "Nosso déficit
público é menor do que o deles, isso é algo relevante", afirma. Porém,
por outro lado, os juros elevados por aqui fazem com que o cenário da
dívida não seja tão favorável para o Brasil no longo prazo, ainda mais
quando se compara com os juros baixos praticados nos EUA.

Calote nos EUA é improvável...
Quanto à probabilidade de um calote nos EUA, Ruschel e Góes concordam
que é algo improvável. "A base do mundo ainda é o dólar e o Fed está
trocando títulos da dívida por dólar, não deve haver um calote",
afirma o sócio da Leandro Stormer. O economista da WinTrade acrescenta
lembrando o fato de que o Fed emite a moeda de reserva mundial, o que
ainda tem grande importância.

Além disso, ambos concordam que as pendências políticas no país devem
ser deixadas de lado por um momento e, logo, haverá um acordo no
Congresso para elevar o nível de endividamento.

Em entrevista ao programa Money Talks, da InfoMoney, por exemplo, o
economista-chefe do banco UBS, Paul Donovan, afirmou que "o Reino
Unido e os EUA serão sempre países AAA, a despeito do que digam as
agências de rating, pois eles podem imprimir seu próprio dinheiro".

... mas se houvesse, seria catastrófico
Ruschel afirma que se ocorresse um calote no curto prazo, os efeitos
seriam caóticos para o Brasil e para o mundo. Góes também reitera que
se isso ocorresse, as economias que ainda estão patinando para se
recuperar da crise de 2008, ficariam ainda mais afetadas, tornando a
recuperação muito mais difícil.

"Os títulos do Tesouro Americano são o ativo mais importante do mundo.
É claro que o impacto seria catastrófico para todo mundo", afirma
Góes.

Fonte: InfoMoney

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