15/06/2011

Brasil tem risco menor que EUA pela 1ª vez, mas mercado vê situação pontual

Pela primeira vez, o risco de investir no Brasil ficou menor do que
nos Estados Unidos. O fato ocorreu ontem (terça-feira), quando o
"Credit Default Swap" (CDS, um seguro contra inadimplência do emissor)
brasileiro com prazo de um ano fechou em 39,974 pontos, abaixo dos
40,349 pontos do norte-americano. Quanto menor o valor, menor o risco.

Esse é um indicador diferente do que normalmente se usava para medir o
risco-país. Até a crise financeira internacional (agravada em 2008), a
medida mais usada para cálculo de risco soberano era o Embi+
((Emerging Markets Bond Index Plus), ou Índice de Bonds de Países
Emergentes, criado pelo banco JP Morgan. Ele ainda é usado, mas o
mercado tem preferido o CDS.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o bom posicionamento
do Brasil. "Pela primeira vez na história, o risco Brasil é menor que
o risco dos Estados Unidos", afirmou Mantega.

O dado mostra que, na prática, investidores acreditam haver mais risco
de calote dos Estados Unidos que do Brasil. Esse calote acontece, por
exemplo, quando investidores compram um título do país, que, por algum
motivo, decide não pagar.

Nesta quarta-feira, porém, a situação já se invertia. Às 13h10, o
mesmo papel brasileiro tinha 40,701 pontos, enquanto o dos EUA
apontava 40,481 pontos.

No mesmo horário, os CDS com prazo de cinco anos, que têm mais
liquidez, apontavam para um risco maior do Brasil que dos Estados
Unidos. O papel norte-americano negociava a 112 pontos, enquanto o
brasileiro operava a 52,7 pontos.

Os títulos de um ano têm baixa liquidez e, por isso, podem enfrentar
variações mais fortes.

Os títulos do Brasil e dos Estados Unidos têm algumas diferenças que
afetam o cálculo do seguro, como o fato de que alguns papéis
brasileiros pagam cupom semestral.
Queda nos EUA

Segundo profissionais do mercado, o aumento do custo dos CDS dos
Estados Unidos está relacionado ao temor de investidores de que o
Congresso do país não eleve o teto de endividamento.

Ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central
americano), Ben Bernanke, disse que, caso o limite da dívida pública
americana não seja elevado, os Estados Unidos deixarão de cumprir suas
obrigações, o que provocaria distúrbios nos mercados financeiros.

"Fracassar em aumentar o limite da dívida iria exigir que o governo
federal atrase ou descumpra pagamentos de obrigações já contratadas",
disse Bernanke, em uma palestra em Washington. Diante disso, o custo
do seguro de dívida dos EUA de um ano mantinha-se no nível mais
elevado em mais de dois anos.
Mercado brasileiro vê situação pontual

"Tecnicamente, o ministro (Mantega) está certo [sobre o risco Brasil
ser menor do que o dos Estados Unidos]", disse José Francisco de Lima
Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a agência de notícias
Reuters.

"O discurso do Bernanke ontem foi uma coisa muito grave, não sei se as
pessoas se deram conta."

"Agora, não consigo enxergar essa situação se mantendo. E o problema é
que, se os Estados Unidos quebram, o CDS do Brasil não vai resistir.
Se você passar por uma mudança da moeda mundial, todos os CDS perdem
sentido", completou.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, também
afirmou que "rebaixar os Estados Unidos quer dizer rebaixar todo mundo
ao mesmo tempo". Ele lembrou ainda que os CDS "não são uma medida
perfeita" de risco.

*(Com informações da Reuters)

Fonte: Uol

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