20/04/2011

Entenda a relação entre a Selic fixada pelo Copom e a taxa over dos bancos

Muito se discute sobre a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, porém a maioria das pessoas não sabe como ela é formada e nem sua aplicação no dia a dia dos mercados. Ainda mais pelo fato da taxa estipulada pelo Banco Central, oficialmente conhecida como Selic Meta, não ser a mesma taxa utilizada nas transações interbancárias, a Selic Over, que por sua vez é observada no sistema SELIC.

Confuso? Para esclarecer as diferenças, basta ter claro o conceito da taxa Selic Meta, sua relação com a taxa Selic praticada pelo mercado e também o papel do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, também conhecido como SELIC.

A Selic Meta
Nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), que ocorrem 8 vezes ao ano, os diretores do Banco Central discutem quais as perspectivas para a economia brasileira, como a inflação passada e esperada, crescimento econômico do País, câmbio, taxa de juro externa, nível de atividade e crédito, entre outras variantes. Em função destas discussões, decidem qual o nível ideal da taxa de juros do País - se ela deve ser elevada, reduzida, ou mantida. Ao final das reuniões, faz-se uma nota à imprensa e uma semana depois é publicada a ata com as deliberações e vetores observados.

Essa taxa deliberada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é a Selic Meta, ou em outras palavras, a meta do Banco Central para a taxa efetivamente formanda nas transações ocorridas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia.

O SELIC é o depositário central dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil. O sistema processa a emissão, o resgate, o pagamento dos juros, a custódia e a liquidação das operações (definitivas e compromissadas), envolvendo estes títulos públicos, registrados em seu ambiente.

Como se forma a Selic Over
Como explica Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a taxa Selic Over é obtida a partir do financiamento no mercado interbancário lastreado em títulos públicos, sendo calculada diariamente. Estas operações são firmadas justamente no sistema SELIC, na forma de operações compromissadas.

Esta taxa surge da necessidade de financiamento de quem está comprando títulos públicos, e sua formação depende da lei da oferta e demanda por estes fundos. Quando há mais investidores para realizar os financiamentos, a Selic Over é menor, porém se há mais pessoas com carteiras de títulos para tomar dinheiro, ela sobe.

Para entender melhor o mecanismo de financiamento interbancário na forma de operações compromissadas com lastro em títulos públicos, suponha que o compulsório seja de 20%. Um determinado banco X chega ao final do dia com um total de R$ 200.000 em depósitos à vista, devendo, então, recolher 20% deste valor, ou seja, R$ 40.000, junto ao BC. Contudo, suas reservas no Banco Central somam R$ 35.000 - logo, faltam R$ 5.000 para fechar o balanço do banco.

Ele terá que recorrer a outro banco que teve um excesso de reservas. Ao fazer essa operação de financiamento, o banco X terá que transferir ao banco Y títulos de sua carteira de ativos como forma de garantia ao empréstimo de R$ 5.000. Ou seja, o banco Y compra títulos públicos do banco X com uma garantia de que serão recomprados em um prazo pré-estabelecido, mediante o pagamento de juros.

Chegamos ao ponto crucial: esta taxa de juros utilizada nesse empréstimo interbancário é exatamente a Selic Over. Ela se refere aos empréstimos de 1 dia, que são os mais comuns neste tipo de transação entre bancos.

É claro que no mundo real não existem só dois bancos envolvidos nessa operação, cobrando taxas distintas. Ao final do dia, calcula-se a taxa de juros média de todos os empréstimos interbancários ponderada pelo volume de negócios no dia.

Na verdade o banco X ainda tem outra opção: pedir empréstimo ao BC, o redesconto, porém essa prática é pouco utilizada, pois os juros cobrados são punitivos.

Onde entra o Banco Central?
Até agora o Banco Central parece ser um espectador do processo, mas sua participação entra a partir daqui. Existem dois tipos de mercado para os títulos públicos: primário e secundário. O primário envolve a compra de títulos por parte dos bancos; o secundário envolve o Banco Central. Quando o BC quer alterar a base monetária é preciso que ele realize operações de mercado aberto, ou seja, comprar e vender títulos no mercado secundário.

Teoricamente, o mecanismo é simples. Suponha que o BC queira expandir a base monetária, logo ele terá que comprar títulos no mercado aberto. Nesse caso, as reservas do banco que está vendendo os títulos aumentam, o que permite que ele conceda empréstimos mais baratos, ou seja, a juros menores no mercado interbancário. Como isso ocorre entre vários bancos simultaneamente, os juros interbancários caem, o que significa que a Selic Over cai também. O mecanismo para contração da base monetária é justamente o oposto.

Taxa de juros estabelecida pelo Banco Central é, como o nome diz, uma meta
O BC determina uma meta para a Selic, mas não consegue determinar a taxa efetivamente formada no mercado. Por que isso ocorre?

Porque a taxa Selic meta é o que o Banco Central espera que vá acontecer nas transações interbancárias - em outras palavras, é, como o próprio nome diz, uma meta. Através de suas intervenções com as operações de mercado aberto, o BC consegue comprar e vender títulos no mercado secundário e, assim, influenciar as taxas de juros formadas nas transações entre os bancos.

Fonte: InfoMoney

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