08/05/2011

Mini-curso: Opções - Trava de Alta

Seguindo nosso mini-curso de opções, hoje vamos falar sobre as travas de alta.
A trava de alta é uma operação que combina a compra de uma opção com a venda de outra opção de um strike superior, com o objetivo que a diferença (spread) paga entre a opção comprada e a vendida aumente, trazendo lucro. Nas travas, seja de alta, ou de baixa (veremos mais pra frente), operamos o spread, e não cada opção individualmente, buscamos comprar spread mais barato e vender mais caro.

É uma operação menos arriscada que a compra a seco, podendo ser realizada com mais frequencia, porém, os lucros não são ilimitados como na compra a seco. Como a operação é travada, o lucro máximo é limitado, assim como o prejuízo máximo, que será sempre o valor pago pela montagem da operação, que sempre terá custo, já que a opção com strike menor sempre vai custar mais caro que a com strike maior. Já o lucro máximo, será a diferença entre os strikes menos o valor pago para montar a operação.

Quanto mais ITM for a trava, maior será seu custo, pois as opções de strike menor, que estão mais dentro do dinheiro, custam mais caro, mesmo tendo menor VE (valor de expectativa), elas possuem maior VI (valor intrínseco, ou valor verdadeiro), quanto mais ITM maior a chance de lucro na operação, porém como o lucro máximo será a diferença dos strikes menos o valor pago, e o valor pago é alto, o lucro máximo será menor. Consequentemente, quanto mais OTM, mais barato é para montar a trava, menos chance de sucesso terá a operação, menor será o prejuízo em caso de falha, e maior será o lucro em caso de sucesso.
Voltamos a questão do equilíbrio, não existe operação infalível, e para cada situação, para ganhar de um lado, abre-se mão de outro, e com as travas de alta é a mesma coisa.

Se a trava é montada OTM, então é necessário que o mercado suba muito para você ter lucro, pois você precisa que a ação ganhe valor suficiente para atingir e passar o strike da opção que você comprou, caso contrário, você perderá. Se a trava for montado ATM, você precisará que o mercado suba pouco, ou que apenas não caia, pois o strike da sua opção comprada já vai estar com o preço próximo ao da ação. Se a trava é montada ITM, você terá sucesso caso o mercado suba, fique no lugar, ou até mesmo tenha uma pequena queda.

Se quando a ação cai, o preço da opção também cai, e a trava de alta é uma operação de compra, como podemos ganhar mesmo com o mercado caindo? Simples, apesar de ser uma compra, estamos operando 2 opções distintas, e o que nos interessa é o spread entre elas, e não o valor de cada uma individualmente. Você não deve se preocupar com o valor individual de cada opção durante a operação, e sim com o spread entre elas.

O spread é sempre o cálculo da diferença de preços entre a opção comprada e a vendida, se a comprada vale 1,50 e a vendida vale 0,50, o spread será 1,00. Se a comprada vale 0,80 e a vendida vale 0,30, o spread é 0,50. É justamente essa diferença que nos interessa, é ela que operamos.

O ponto de lucro máximo será no dia de exercício, quando não existir mais VE, e a opção só tiver o seu valor verdadeiro (VI), com isso, a diferença entre elas, será sempre a diferença exata entre os strikes, ou seja, se você comprou uma opção com strike 26,00 e vendeu uma com strike 28,00, a diferença entre elas no dia de exercício sempre será 2,00. Pois no dia de exercício, a opção não tem mais valor de expectativa, então se a ação vale 29,00, a opção com strike em 26,00 terá valor de 3,00, a opção com strike em 28,00 terá valor de 1,00, e a opção com strike em 30,00, não terá valor nenhum.

A trava atingirá seu lucro máximo, quando o valor da ação estiver igual ou superior ao preço de strike da opção vendida, se a trava é feita com a compra de uma opção de strike 24,00 e a venda de uma com strike 26,00, o lucro máximo será atingido quando a ação estiver valendo 26,00 ou mais.

O break-even, ponto que a operação passa do prejuízo para o lucro, ou do lucro pra o prejuízo, será sempre no ponto em que o valor da ação atingir o preços do strike da opção comprada mais o spread pago na montagem da trava, para o caso citado acima, levando em conta a trava montada com as opções de strike 24,00 e 26,00, imaginando que o spread pago na trava foi 1,00, então nosso break-even será em 25,00, esse será o ponto que abaixo dele teremos prejuízo, e acima dele começamos a ter lucro, até que o preço da ação atinja o strike da opção vendida, e atinge-se o ponto de lucro máximo. Quanto mais caro se pagar pela trava, mais próximo do strike da opção vendida ficará o break-even, e quanto menos se pagar por ela, mais longe ficará.

Vamos simular a montagem de algumas travas de alta com a PETR4, levando em consideração que seu valor seja de 24,20. Temos as seguintes opções disponíveis para montarmos nossa trava:
F22: strike em 21,75, valor 2,90, VE 0,45 e VI 2,45.
F24: strike em 23,75, valor 1,20, VE 0,75 e VI 0,45.
F26: strike em 25,75, valor 0,32, VE 0,32.
F28: strike em 27,75, valor 0,07, VE 0,07.
F30: strike em 29,75, valor 0,03, VE 0,03.

Olhando essas opções, podemos fazer diversas combinações para montar a trava, simulando com 1000 opções, teríamos:
Compra de F22: 1000 x 2,90 = 2900,00
Venda de F24: 1000 x 1,20 = 1200,00
Spread: 1,70 (2,90 - 1,20)
Custo da trava: 1700,00 (2900 - 1200)
Lucro máximo: 300,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 1700, que é o custo da trava).
Break-even: 23,45 (21,75 + 1,70)
Repare que a trava custa 1700 reais, valor que é o máximo que se pode perder, e traz um retorno máximo de 300 reais. Se arrisca 1700 para ganhar 300, o que em caso de sucesso é um lucro de 17%.
Apesar do alto custo, a chance dessa trava ter sucesso é alta, pois a PETR4 pode cair de 24,20 (valor atual) até 23,75 que teremos lucro máximo, ou pode cair até 23,45, que é nosso break-even, e só teremos prejuízo abaixo desse valor.

Compra de F24: 1000 x 1,20 = 1200,00
Venda de F26: 1000 x 0,32 = 320,00
Spread: 0,88 (1,20 - 0,32)
Custo da trava: 880,00 (1200 - 320)
Lucro máximo: 1120,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 880, que é o custo da trava).
Break-even: 24,63 (23,75 + 0,88)
Aqui a trava custa 880 reais, valor máximo do prejuizo, e traz um retorno máximo de 1120 reais. Se arrisca 880 para ganhar 1120, o que em caso de sucesso é um lucro de 127%.
O custo caiu consideravelmente com relação a trava anterior, a pouco menos da metade, e o lucro subiu muito, indo de 17% para 127%, porém, para a trava dar o lucro máximo, a PETR4 ainda precisa subir de 24,20 até 25,75, ou seja, essa trava só dará o lucro máximo em caso de alta, e a ação precisa subir até pelo menos 24,63 para a trava começar a dar lucro.

Compra de F26: 1000 x 0,32 = 320,00
Venda de F28: 1000 x 0,07 = 70,00
Spread: 0,25 (0,32 - 0,07)
Custo da trava: 250,00 (320 - 70)
Lucro máximo: 1750,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 250, que é o custo da trava).
Break-even: 26,00 (25,75 + 0,25)
Essa trava OTM custa apenas 250 reais, valor do prejuízo máximo, e pode trazer o grande retorno de 1750 reais. Arrisca-se 250 para tentar ganhar 1750, o que representa um lucro potencial de 700%, retorno excepcional, porém, as chances de ter lucro são baixas, pois a PETR4 precisa subir de 24,20 até 27,75 para termos lucro máximo, ou no mínimo até 26,00 para atingirmos o break-even e começarmos a ter lucro. A PETR4 precisa subir 7,43% para começarmos a ter lucro, resumindo, chances remotas de sucesso.

Para montar travas muito OTM, esperando uma oscilação forte do mercado, a trava de alta não é eficiente, e tem poucas chances de ser uma operação vencedora no longo prazo, por isso, é mais vantajoso utilizar outras operações mais adequadas para mercados de alta volatilidade, como a compra a seco ou o boi (veremos mais pra frente). É interessante montar travas ITM ou no máximo ATM, pois normalmente o mercado não faz grandes oscilações, e para mercados com mais oscilação, existem operações mais eficientes. Por isso é importante entender o conceito e a situação que cada operação é mais adequada, além de entender a influência de cada uma das gregas na composição do preço das opções.

Um detalhe importante é que apesar de ser uma operação de compra, que possui delta positivo (estamos comprando mais delta do que vendendo, pois compramos a opção com menor strike, que sempre tem mais valor, consequentemente mais delta, do que a opção vendida), ela é também uma venda de VE, pois é graças ao VE que conseguiremos lucrar com o spread, é com o derretimento do VE que as opções vão ficando apenas com seu valor verdadeiro, com isso, se a trava estiver no dinheiro (ITM), o spread vai tender a 2,00, e se estiver fora do dinheiro (OTM), o spread tende a 0,00.

É possível montar a trava pulando uma ou mais séries, o princípio é o mesmo, o lucro máximo sempre será a diferença entre os strikes menos o valor pago, e o valor pago sempre será o spread (opção comprada - opção vendida). Se montar a trava pulando uma série, então a diferença entre os strikes tenderá a ser 4,00, aumentado o lucro máximo possível, porém, o custo para montar será maior, pois o spread pago será maior, já que a distancia entre uma opção e outra aumentará, então, voltamos a velha máxima, aumenta o lucro potencial, mas aumenta o custo, ou seja, equilíbrio.

Opções de empresas mais voláteis possuem mais VE, enquanto de empresas menos voláteis, possuem menos VE, assim como mais longe do exercício mais VE, e mais perto menos VE, por isso, vamos ver a trava ITM citada acima com as opções de série mais próxima do exercício, seguindo o mesmo exemplo para a PETR4 valendo 24,20, teríamos a seguinte opção de trava:
E22: Strike: 21,75, valor 2,55, VE 0,10 e VI 2,45.
E24: Strike: 23,75, valor 0,70, VE 0,25 e VI 0,45.
Compra de E22: 1000 x 2,55 = 2550,00
Venda de E24: 1000 x 0,70 = 700,00
Spread: 1,85 (2,55 - 0,70)
Custo da trava: 1850,00 (2550 - 700)
Lucro máximo: 150,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 1850, que é o custo da trava).
Break-even: 23,60 (21,75 + 1,85)
Veja que nessa trava, temos os mesmo strikes que na trava montada com a F22 e F24, porém o custo dessa trava é maior, resultando em um lucro menor, isso acontece porque ela está muito mais perto do exercício, e o VE quase não existe mais nas opções, repare a diferença entre o VE da E22 e E24 para a F22 e F24, e repare que o VI é exatamente igual. É fundamental ver a importância do VE na operação, que como disse acima, é uma venda de VE, e ela trará lucro com o passar do tempo e o derretimento do VE, aumentando assim nosso spread, que se tiver dentro do dinheiro, tenderá a 2,00.

Resumindo, a trava de alta é uma ótima forma de alavancar os ganhos, oferecendo ótimos retornos, com risco controlado. Funciona muito bem em mercados estáveis, desde que montadas no dinheiro, assim como também funciona muito bem em épocas de alta no mercado. Não é uma operação de volatilidade, então evite montar travas OTM, as chances são pequenas, e existem operações melhores para altas fortes do mercado.

Procure travas ITM com baixo custo, com boa margem de proteção, o que trará chances de sucesso, mas, assim como qualquer outra operação com opção, as boas oportunidades não aparecem todo mês, mas elas existem, basta procurar e esperar por elas.

Ficamos por aqui, e o próximo post da série será sobre as travas de baixa.

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