30/05/2011

Deflação ou inflação: para economistas, consumidor perde nos dois cenários

SÃO PAULO – Da história recente do País, os brasileiros não esquecem a
inflação, que chegou a dois dígitos e corroeu, dia após dia, o poder
de compra das famílias. Após anos de estabilidade, que veio com o
real, novas altas de preços em 2010 preocuparam os consumidores,
embora não tenham atingido nem de perto o cenário de hiperinflação dos
anos 1980. Do outro lado do mundo, os japoneses vivem em um cenário
distinto, de deflação. E, depois de mais de dois anos com quedas
generalizadas de preços, o Japão registrou em abril uma inflação de
0,6%.

No Brasil, de acordo com dados recentes do IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), a inflação no País chegou a 0,7% em maio. Enquanto
uma alta nesse nível chega a preocupar alguns brasileiros, a elevação
no país asiático foi motivo de comemoração ao estilo japonês, um pouco
contida. Isso porque esse indicador ainda não mostra que a economia do
país esteja voltando a se aquecer. E a recessão na qual o Japão entrou
ainda persiste. Enxergar a inflação em uma perspectiva positiva para
os brasileiros pode parecer não fazer sentido algum. Mas faz.

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que tanto a deflação como
a inflação trazem prejuízos à economia, dependendo do nível em que
estiverem. Tudo vai depender do país e dos cenários no qual ele está
envolvido. "As duas são danosas", afirma o economista da FGV (Fundação
Getulio Vargas), André Braz. "Uma deflação que ocorre esporadicamente
em grupos que têm fortes pesos na inflação pode ser benéfica. Mas, se
esse efeito de queda for generalizado e por muito tempo, ele é tão
ruim quanto a inflação, pois mostra indícios de recessão", afirma
Braz.

Poder de compra
Enquanto a inflação diminui a capacidade de compra dos consumidores, a
deflação faz com que elas tendem a consumir menos, porque sabem que
amanhã o dinheiro delas valerá mais. Para o economista da Tendências
Consultoria, Thiago Curado, a deflação é pior que a inflação. "Porque
ela leva a um processo de estagnação. Aquecer a economia é mais
difícil que desaquecer", acredita.

Ele explica que países que sofrem de deflação constante trabalham com
taxa de juros próxima a zero. "Eles estão no máximo da liquidez. O que
dá para fazer nesses casos? Nada. Em deflação há pouco espaço para a
política monetária atuar", afirma Curado. Esse caso é o do Japão.
"Eles têm uma poupança elevada, mas não investimentos, porque as
empresas querem investir onde o seu produto será consumido".

Já em casos de inflação, em que normalmente as taxas estão altas,
desaquecer a economia, em termos simples, é recuar os juros. É o caso
do Brasil. "Todo país que visa crescimento tem que conviver com um
nível de inflação", acredita Braz. "O que não pode é deixar esse
índice crescer e ultrapassar um limite", atesta.

Aquecendo e desaquecendo a economia
Braz explica que a deflação ocorre quando a economia começa a
desaquecer, fazendo com que as empresas diminuam o ritmo de produção e
o quadro de funcionários. Sem emprego, as famílias passam a consumir
menos e, como a oferta cai, os preços caem, sucessivamente. Já a
inflação é gerada por alguns fatores como oferta ou demanda. "No caso
do Brasil, a inflação é de demanda", afirma Curado.

Ele explica que, com o aumento da renda e a oferta de crédito, as
famílias tendem a querer consumir mais. Esse consumo desenfreado e
outros fatores externos geram um aumento de preços. "Essa inflação é
bem diferente daquela da década de 80, porque, naquela época, a
inflação era por expectativa, que é bem mais difícil de ser quebrada,
porque é gerada pelas expectativas das pessoas de quanto custará o
dinheiro delas no futuro", explica Curado.

Para o economista da FGV, tanto em caso de inflação como de deflação,
é preciso avaliar cada cenário cuidadosamente. Ao contrário de Curado,
Braz acredita que desaquecer é tarefa tão difícil quanto aquecer a
economia. "Existe uma série de medidas que devem ser adotadas,
dependendo de cada cenário. O que não dá é ficar olhando só para
dentro do próprio País".

Fonte: InfoMoney

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