31/05/2011

Análise: setor imobiliário vê sinal amarelo e desacelera

Por Vivian Pereira

SÃO PAULO (Reuters) - Após forte crescimento nos últimos anos, o setor
imobiliário começa a dar indicações mais fortes de desaquecimento,
pressionado, sobretudo, por preços altos, desaceleração da demanda e
ritmo menor de lançamentos.

O sinal amarelo acendeu já no primeiro trimestre deste ano, quando
construtoras e incorporadoras apresentaram dados de vendas e
lançamentos bem abaixo dos vistos em 2010.

Mais recentemente, o Secovi-SP, sindicato que representa o setor em
São Paulo, divulgou uma queda de 61,8% nas vendas de imóveis
residenciais novos na capital paulista em março contra um ano antes e
recuo de 16,2% sobre fevereiro.

"Redução do crédito, aumento das taxas de juros e migração de
investimentos em poupança para outros com retorno maior têm
contribuído para um arrefecimento da demanda", afirma o economista e
professor de Finanças da BBS Business School, Ricardo Torres.

Mais otimista, o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, disse
à Reuters na ocasião da divulgação dos dados de março que a queda foi
pressionada por questões sazonais. "O primeiro trimestre sazonalmente
é o que vende menos e esse ano foi agravado pelo Carnaval no início de
março. A comparação anual também é muito dura. No primeiro trimestre
de 2010, o país vivia uma euforia total."

Somado a isso, a segunda fase do "Minha Casa, Minha Vida", que ainda
não saiu do papel, vem pesando sobre a demanda, principalmente a da
população de baixa renda. De fato, há um ano, o programa habitacional
do governo era citado pelo mercado como o principal motor de
crescimento do setor.

"Isso (paralisação do programa) causa represamento. Quem depende do
subsídio para comprar um imóvel vai aguardar", assinala o analista
Wesley Bernabé, do BB Investimentos.

"As empresas colocaram o pé no freio em lançamentos em meio à
discussão de aumento de preços (dentro do programa) e o setor já vem
sofrendo pressão de custos. Hoje uma parcela representativa do mercado
ficou em 'stand by'", diz o analista Marcos Pereira, da Votorantim
Corretora.

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de
atividade da indústria da construção civil caiu para 48,3 pontos em
abril, contra 49,5 no mês anterior. Valores acima de 50 indicam
crescimento da atividade e expectativa positiva.

"O ritmo de crescimento das empresas (do setor imobiliário) deve ter
uma nova realidade, mais alinhado com o Produto Interno Bruto", afirma
Pereira.
Preços e estoques preocupam

Tema recorrente em discussões sobre os rumos do setor, a forte
valorização imobiliária vista nos últimos anos é outro fator que
divide opiniões entre agentes de mercado.

Enquanto alguns defendem que houve uma correção natural de preços após
anos de estagnação, outros apontam que a queda de preços é necessária
para sobrevivência das construtoras.

"As incorporadoras não têm mais como comprar terrenos em grandes
cidades e ainda têm estoque gigantesco para vender. Têm que oferecer
descontos para atrair investidores", afirma Torres, da BBS.

O analista Pereira, da Votorantim, concorda que as distorções de
preços exigirão certa correção para que os estoques de imóveis sejam
desovados. "Há um estoque crescente, que tende a aumentar. Pode haver
pressão de estoque até o final do ano, resultado do crescimento dos
últimos anos."

Por outro lado, Bernabé, do BB Investimentos, não vê os estoques
influenciando a curva de preços para baixo.

"Se os preços caírem muito, há desestimulo muito grande", afirma. "Se
o estoque de unidades prontas atingir um nível maior que o atual, as
empresas vão começar a revisar as metas de lançamentos. Não vejo
relação com preços."

No mesmo sentido, Petrucci, do Secovi, é taxativo: "Preço de imóvel
não cai, principalmente preço de imóvel novo".
Nem imóveis nem ações

A desaceleração do setor vem refletindo também nas ações de
construtoras na bolsa.

"Não é hora de comprar imóvel nem ação das empresas. O momento é muito
delicado", diz o economista e professor da BBS. "Os preços, tanto de
imóveis quanto de ações, perderam o contato com a realidade. Não é um
bom investimento hoje."

O analista da Votorantim cita a deterioração geral da bolsa como um
aspecto bastante negativo para as empresas do setor imobiliário, muito
dependente de capital estrangeiro.

O Imob, índice que mede o desempenho de 18 ações do setor imobiliário
na Bovespa, acumula queda de 7,6% no ano até 27 de maio, um pouco pior
que o do Ibovespa --que reúne as ações mais líquidas da bolsa paulista
e registra queda de 7,2% no mesmo intervalo.

"Enquanto a bolsa continuar enfraquecida, o setor imobiliário não deve
ser uma aposta", avalia Pereira.

Ele cita ainda a forte pressão de custos sofrida pelas grandes
empresas do setor no quarto trimestre de 2010 como responsável por
passar uma mensagem negativa aos investidores.

"Não acho que no curto prazo essa percepção negativa vá mudar, talvez
no segundo semestre", diz.

Fonte: Uol

Nenhum comentário: