30/07/2007

Análise: Crise envelhece ata do Copom do BC

Publicada ontem (26/07/2007), a ata da reunião do Copom do Banco Central realizada na semana passada poderá envelhecer precocemente se a turbulência nos mercados não for somente um "ajuste de portfólios" destinado a sanear os "hedge funds", sem afetar o lado real da economia americana, como supõe a maior parte dos analistas.

Os economistas confiam em uma recuperação. Mas não conseguem esconder a preocupação decorrente da ferocidade com que os mercados se deterioraram ontem. Ela indica que os tesoureiros e gestores não sabem ao certo ate onde a crise pode ir. Se tivessem a certeza de que o terremoto seria breve, não teriam queimado ativos com a pressa denunciadora de dias piores.

Nesse caso, o Copom terá de rasgar a clara sinalização de que em sua própria reunião irá reduzir a velocidade de queda da Selic do 0,50 ponto praticado nos dois últimos encontros para 0,25 ponto.

Os quatro diretores vitoriosos, os que fixaram o juro básico em 11,50%, ampararam seu voto na suposição de que as importações compradas com dólares baratos impediriam a demanda aquecida de provocar inflação. O argumento cairá rapidamente por terra se a moeda persistir em alta acelerada. Como a política oficial de combate à inflação é baseada em uma âncora cambial, induzida sobretudo pelo juro real elevado, o BC perderá o controle da política monetária se o dólar subir por pânico de uma contração geral do crédito no mundo.

Nesses momentos, pouco importa a rentabilidade, por maior que seja, paga por um país emergente que logo pode ver seus fundamentos se degradarem rapidamente. As reservas internacionais brasileiras, de US$ 154,61 bilhões, mais do que suficientes para quitar a dívida externa que conta, a de médio e longo prazo, no valor de US$ 148 bilhões, podem cair dramaticamente no caso de persistir o "vôo para a qualidade".

O pesado tombo sofrido ontem pelos juros dos títulos de dez anos do Tesouro americano, de 4,91% para 4,76%, mostra que o vôo foi uma arremetida pânica.

O BC tenta manter a calma. Mesmo com o dólar em expressiva alta, não deixou ontem de fazer o seu costumeiro leilão de compra das 15h30. Aceitou quatro propostas, pagou R$ 1,9250 e recolheu apenas US$ 65 milhões. Secretamente, torce para que não tenha de inverter a mão e passar a realizar leilões de venda. Na hipótese de instalação de uma grave crise de crédito, terá de recomprar os swaps reversos de instituições apuradas que, antes, esperavam lucrar muito com a derrocada do dólar. O estoque desses papéis é significativo, de US$ 23,26 bilhões.

Como a maioria do mercado - que ainda não vê a possibilidade de a retração de crédito que abala os mercados desencadear uma recessão na economia americana capaz de arrastar a chinesa e a mundial -, o Tesouro Nacional também acredita que a tormenta de ontem é passageira. Tanto que, para não ter de pagar juros muito elevados para a venda de seus papéis prefixados (LTN e NTN-F) cancelou o leilão primário marcado para ontem, invocando, segundo nota, "as condições vigentes no mercado financeiro".

Se o que aconteceu ontem foi mesmo somente um "ajuste de portfólio", logo as taxas cairão, e ele poderá colocar seus papéis. Se não foi apenas isso, perdeu uma excelente chance não só de vendê-los como a juros baixos. No caso de grave crise não conseguirá vender prefixado a juro nenhum.

Como o Tesouro, o BC torce para que seja tão-somente um "ajuste" porque se ele rodar o seu modelo econométrico de inflação com dólar a R$ 2,00 - a moeda fechou ontem a R$ 1,9270 -, a meta de inflação irá estourar o centro de 4,5% para 2008 se a Selic continuar caindo.

Essas preocupações invalidam a ressurreição do Código de Bevilaqua feito ontem pela ata da Copom. Antes do uso da divergência artificial contida nos placares do Copom como sinalizadora de suas intenções para o próximo encontro, o BC se servia do código criado pelo ex-diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, de inclusão e retirada do adjetivo "maior" ao substantivo " parcimônia " para indicar os ânimos do Comitê. A ata de ontem agregou o maior ao parcimônia, o que não fazia desde novembro.

O DI futuro não respeitou essa indicação de que a Selic cairá 0,25 ponto em setembro. A curva futura, considerando os seus extremos mais negociados - outubro de 2007 e janeiro de 2010 - ficou quase plana. O primeiro contrato projetou taxa de 11,30% e o segundo, de 11,25%. Os estrangeiros estão saindo da parte longa da curva, ainda com lucro.

Fonte: UOL Economia

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