13/05/2011

Em meio a incertezas sobre política do BC, Banif aposta em mais 6 altas da Selic

A alta da inflação no Brasil, apesar de sinais recentes de desaceleração, ainda preocupa. Mas além da alta dos preços, o mercado segue atento às medidas do Banco Central para combatê-la, procurando um sinal mais definitivo de que os esforços estão se transformando em resultados.

"Embora o conjunto de sinais da equipe econômica do governo continue a incluir um nível de ruído relativamente elevado, a estratégia da política econômica parece ter sido ajustada", diz o Banif.

Esse ajuste inclui um aperto fiscal mais intenso e uma elevação gradual e possivelmente extensa da taxa básica de juro; já as medidas macroprudenciais perdem peso, e o real ganha espaço para subir um pouco mais, ajudando a combater a inflação.

Assim, no curto prazo, o cenário macroeconômico é "bastante previsível", segundo o banco: aperto gradual da política econômica, na expectativa de que a inflação melhore no ano que vem.

Um médio prazo de incertezas
Entretanto, ainda existem dúvidas sobre a eficácia do rumo escolhido pelo BC no médio e longo prazo e, consequentemente, dúvidas de que não haverá uma mudança na condução da política monetária.

"Mesmo deixando de lado variáveis externas, nos parece claro que há suficientes dúvidas para permitir a construção de diversos cenários plausíveis para a economia brasileira em 2011 e 2012", apontam os analistas Oswaldo Telles Filho e Mauro Schneider.

Com isso em mente, a dupla traçou três cenários para a economia brasileira, que variam de acordo com a duração e intensidade do ciclo de aperto monetário. Nos três panoramas, contudo, o resultado na inflação é basicamente o mesmo: recuo em direção ao centro da meta a partir de 2012.

Cenário 1: ciclo de aperto longo e gradual
O primeiro cenário – que também é visto como o mais provável pelo Banif – é o mais "ameno". Nele, a taxa Selic é elevada em 25 pontos-base cerca de seis vezes nos próximos meses, subindo para 13,5% ao ano.

Os analistas listam alguns argumentos para sustentar essa tese como a mais possível. Primeiramente, apontam que nem a elevação da taxa básica de juro nem as medidas macroprudenciais foram suficientes até agora para impactar a economia e o crédito. "A taxa real de juro subiu de 5,7% para 6,8% desde que a Selic começou a ser elevada, mas no ciclo anterior de aperto, os juros reais subiram de 7,4% para cerca de 9% (...). O crescimento das novas concessões de crédito desacelerou, mas o volume segue elevado", escreve a dupla.

Com o consumo e o crédito recuando mais lentamente do que o esperado, o Banif vê como inevitável a extensão do aperto monetário. E com um ciclo mais longo e gradual, a inflação recua de forma mais consistente apenas na segunda metade do próximo ano. "A inflação ficará em nível elevado em 2011, e em 2012 permanecerá acima da meta, mas em nível mais baixo e aceitável para o governo", aponta o Banif.

O ritmo de crescimento da economia, segundo o banco, deve ficar em 4% em 2011, desacelerando-se no ano seguinte. Já o câmbio deve seguir em queda.

Cenário 2: sob controle
Enquanto o cenário 1 é o mais provável, o 2 é o mais otimista. Nele, as medidas do governo começam a mostrar uma desaceleração mais consistente da economia, abreviando o ciclo de aperto monetário – que, nesse caso, contaria apenas com duas novas elevações da taxa Selic, de 25 p.b. cada.

Aqui também há argumentos que justificam o cenário. A Selic, lembram os analistas, já subiu mais do que nos últimos apertos monetários promovidos pelo BC. O compulsório também foi elevado, e medidas macroprudenciais foram tomadas e elevaram de modo relevante o custo do crédito livre. "Apesar de volátil, a queda da média diária de novos empréstimos de crédito livre está sendo tão rápida quanto a que ocorreu em 2008", diz a dupla.

A expectativa é que, caso esse seja o rumo da economia, o País cresça pouco menos de 4% no ano, em resposta a desaceleração dos gastos públicos e arrefecimento do consumo, e um pouco acima disso em 2012.

A inflação, por sua vez, recua já a partir do final de 2011, como projetado pela autoridade monetária, ajudada também pela queda do câmbio.

Cenário 3: choque e Selic em 15% a.a.
Já o último cenário – que não é, contudo, o menos improvável – é o mais pessimista dos três propostos. Aqui, a inflação não cede mesmo após quatro altas de 25 p.b. da Selic, forçando o BC a promover um aperto mais forte, na forma de duas altas de 100 p.b. da taxa. Esse choque, segundo a dupla, seria chave para quebrar o círculo vicioso de deterioração da inflação.

Alguns indicadores da economia também servem como bases para sustentar esse cenário. Afinal, o crescimento da demanda não está recuando com a intensidade esperada. A isso, alia-se o aumento da indexação da economia, em especial dos salários. "A indexação oficial do salário mínimo exercerá relevante pressão sobre o consumo, custos e preços em 2012", escreve o banco. A inflação também não tem dado sinais animadores, com o núcleo se aproximando do teto da meta de 6,5% ao ano e podendo chegar ao final de 2011 em 7% – e, com isso, o reajuste salarial deverá ser pesado para garantir aumento real da renda, limitando os efeitos do aperto monetário.

Nesse cenário, a economia cresceria cerca de 4% em 2011, e substancialmente abaixo disso em 2012. O câmbio, por sua vez, continuaria a cair, e a inflação seguiria próxima da meta no próximo ano.

E a bolsa?
Cabe dizer que cada um desses cenários tem suas implicações na bolsa – também abordadas por Telles Filho e Schneider. Assim como para o cenário macro do País, o cenário 1 é o mais provável, mas não o mais benéfico – o 2º cenário fica com esse posto. Já o cenário 3 é o mais pessimista para a bolsa e para a economia.

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