20/07/2011

Qual o peso do quadro externo para o Copom?

Eduardo Campos
20/07/2011

Dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e como no encontro passado o que mais importa não é o fato, mas sim o que o se pode inferir para o próximo encontro, previsto para o dia 31 de agosto.
Economistas e mercado têm consenso fechado quanto uma alta de 0,25 ponto percentual na noite de hoje, que levará a Selic para 12,50%. Com isso, o Banco Central (BC) completa a quinta alta do ciclo iniciado em janeiro, quando a taxa básica valia 11,75%.
A dúvida é se o colegiado aperta ainda mais ou para por aqui. O último boletim Focus diz que sim, já que a mediana mostra taxa básica em 12,75% no encerramento do ano.
Colegiado do BC tem de avaliar duas realidades distintas
Já o mercado de juros futuro mostra a divisão entre os agentes. Se considerado o vencimento janeiro de 2012, o ciclo encerraria por aqui. Mas o vértice janeiro de 2013 sugere mais duas elevações.
Como bons argumentos sempre existem para os dois lados, vale ressaltar que 0,25 ponto a mais ou a menos não é determinante, ainda mais com taxa base de 12,50% ao ano. A questão, como sempre, seria de sinalização.
Segundo o estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, o BC lida com duas realidades distintas e todos ficam tentando adivinhar qual delas será mais relevante na tomada de decisão.
Por aqui, a economia perde força, mas não em ritmo suficiente para garantir a convergência da inflação à meta em 2012. Por outro lado, as incertezas externas aumentam, com o risco de contágio da crise grega crescendo, já que os lideres europeus continuam batendo cabeça sobre como resgatar o país.
Para Rostagno, o BC deve optar por duas elevações. Uma no encontro de hoje e outra em agosto. No comunicado apresentado junto com a decisão, o termo "suficientemente prolongado" deve ser suprimido.
Na visão do estrategista, o Copom deve tirar tal frase para indicar que está se aproximando do fim do ciclo. Se o termo for mantido, o mercado entende que a alta de agosto está confirmada e passaria a especular sobre um ajuste em outubro.
Já o economista-chefe do Modal, Felipe Tâmega, acredita que o aperto de hoje deva ser o último do atual ciclo. O especialista defende essa posição mesmo apontando que seu modelo sugere elevação de 75 pontos-base na Selic para se ver Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,5% em 2012.
No entanto, é justamente essa incerteza do quadro externo que leva o especialista a acreditar em uma pausa agora. Para o especialista, com a chegada da Itália aos holofotes, a crise na Europa entrou em um novo estágio, afinal esta é a terceira maior economia da zona do euro.
Ainda de acordo com Tâmega, o BC deve tirar a expressão "suficientemente prolongado" do comunicado apresentado após a decisão. Dessa forma, a autoridade monetária não se compromete nem com a alta nem com a parada no ciclo.
Como se nota nas duas análises, a cena externa mostra peso relevante.
E o BC se reúne hoje, antes do desfecho de eventos importantes. O primeiro é uma reunião agendada para a quinta-feira entre os líderes europeus para tratar da dívida grega. E talvez seja essa a fonte dos problemas na região: muitos líderes, mas ninguém com poder de decisão.
Outro assunto em pauta, embora de muita cor política e pouca reação prática até agora, é a elevação do teto do endividamento federal nos Estados Unidos. Até a terça-feira à noite, Republicanos e Democratas não tinham chegado a um acordo. O prazo fatal continua sendo 2 de agosto.
Ainda de acordo com Tâmega, do Modal, em face ao nebuloso cenário externo, não é absurdo que o BC opte por pausar o ciclo. Atitude semelhante já foi tomada por outros BCs, como Chile e Coreia. A diferença, diz o economista, é que a inflação brasileira tem dinâmica própria e, por isso mesmo, demanda soluções próprias.
Falando em inflação, antes de saber o que passa na cabeça do Copom, os investidores conhecem o IPCA-15 de julho. As expectativas são de uma variação positiva ao redor de 0,15%, o que seria uma queda de 0,23% em junho.

Também na agenda o dia, a parcial do fluxo cambial. Com os dados será possível estimar se e em quanto os bancos reduziram o tamanho de sua posição vendida no mercado à vista depois da edição da Circular 3548, que reduziu o limite de posição isenta de recolhimento compulsório de US$ 3 bilhões para US$ 1 bilhão.
Mas para saber se algum banco ficou desenquadrado à nova regra que entrou em vigor no dia 18, e pagou "pedágio" de 60% ao BC, só na semana que vem.
Encerrando com o câmbio, a melhora de humor que pautou o dia tirou 0,75% do preço do dólar comercial, que fechou a R$ 1,567.
Eduardo Campos é repórter

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