Venda perde força e dólar acena novo piso a R$ 1,53
Eduardo Campos |
Valor Econômico - 27/07/2011 |
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O dólar continuou queimando na mão dos investidores na terça-feira. A moeda perdeu para seus principais rivais e outras divisas de países emergentes. Por aqui, no entanto, essa força vendedora parece estar se esgotando e o pregão de ontem deu algumas indicações nessa direção. Em comparação com outras moedas de países desenvolvidos e emergentes o real foi o que menos subiu no dia. Outra indicação disso é que a linha de R$ 1,530 parece ser o novo "piso" técnico imediato. BC suaviza queda com quatro atuações no câmbio As cotações tanto à vista quanto no mercado futuro testaram e respeitaram tal patamar de preço. Nas mesas de operação se notou firme demanda por dólar a essa cotação. Mais uma pista de que o mercado pode parar para respirar um pouco, veio do comportamento do dólar futuro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). O contrato para agosto, que chegou a cair 0,78%, para R$ 1,5295, recuperou quase toda a queda do dia para marcar leve baixa de 0,09%, a R$ 1,540, antes do ajuste final. O contrato teve até breve valorização de 0,03%, a R$ 1,542. No mercado à vista, o dólar comercial completou o sexto dia seguido de queda. A moeda fechou com baixa de 0,38%, a R$ 1,537 na venda. Trata-se do menor preço desde 15 de janeiro de 1999, quando a moeda encerrou a R$ 1,4659. Nesses seis dias, o preço do dólar caiu 2,66%. Agora em 2011, a moeda já está 7,74% mais barata. E em 12 meses a perda chega a 13%. O ajuste de preço foi mais modesto por aqui do que no câmbio externo. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, caiu 1,6%, para 73,50 pontos, menor leitura desde começo de maio. O euro subiu quase 1% e retomou a linha de US$ 1,45. Vale lembrar que duas semanas atrás o euro tinha caído a US$ 1,39, menor preço desde meados de março. O franco suíço e o iene testaram preços nunca vistos ante a moeda americana. Divisas emergentes, como o rand sul-africano, peso chileno, lira turca, dólar australiano, peso mexicano e won sul-coreano também se valorizaram. O dólar queima na mão dos investidores globais, mas não no bolso do Banco Central (BC) brasileiro. A autoridade monetária fez quatro intervenções no mercado durante o pregão. Foram duas compras à vista e duas a termo. O BC também anunciou sondagem para averiguar a demanda para um leilão de swap cambial reverso, operação que equivale à compra de dólares no mercado futuro, nesta quarta-feira. A aversão ao dólar decorre da falta de progresso nas negociações entre a Casa Branca e o Congresso americano sobre a elevação do teto do endividamento dos EUA. O prazo fatal se aproxima e a queda de braço continua. Nunca é demais lembrar que o limite de US$ 14,3 trilhões tem de ser elevado até 2 de agosto, se os EUA quiserem evitar um calote ou rebaixamento de nota. O estrategista de câmbio do Wells Fargo Bank, Vassili Serebriakov, acredita que o limite de endividamento será elevado, evento que poderia dar alguma força ao dólar. No entanto, diz Serebriakov, como um rebaixamento de nota soberana dos EUA ainda é possível e com os juros próximos de zero, uma recuperação no preço da moeda americana seria bastante limitada. Para um operador local que prefere não se identificar, o real pode continuar se valorizando. Tudo depende do andamento das negociações nos EUA. Na visão desse especialista, se o limite de endividamento for elevado, a reação do mercado será positiva. O que pode levar o dólar para a linha de R$ 1,50, em função da demanda generalizada por ativos de risco. Caso os políticos americanos não cheguem a um acordo, esse operador não descarta um repique de alta no dólar. Mesmo sendo uma notícia negativa para o dólar no médio prazo, um calote dos EUA geraria grande movimento de aversão ao risco e realocação de portfólios, algo que poderia dar força, mesmo que momentaneamente, à moeda americana. No mercado americano, em busca de pistas sobre como os agentes estão se protegendo contra a possibilidade de calote, o sinal mais forte veio mesmo da queda do dólar. No mercado de títulos, os investidores compraram papéis de 10 anos, o que resultou em leve baixa nas taxas de juros. E no mercado de seguro de dívida, a movimentação também foi pouco expressiva. O CDS (Credit Default Swap) de um ano subiu 1,9 ponto, para 76,66 pontos. O contrato tinha disparado 28 pontos na segunda-feira. A referência, que é o CDS de cinco anos, avançou 2 pontos, para 58,26 pontos. Eduardo Campos é repórter |
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