31/10/2011

Atuação do BC sinaliza que piso para moeda está abaixo de R$ 1,70

 

Autor(es): Fernando Travaglini | De São Paulo

Valor Econômico - 31/10/2011

 

 

A puxada do dólar nos últimos dois dias da semana passada, com a cotação da moeda americana perdendo mais de 4% em relação ao real, trouxe o Banco Central (BC) de volta ao mercado. Mas a atuação da autoridade monetária esteve longe de significar uma intervenção para conter a queda da moeda. Ao contrário, o mercado entendeu que o piso para o dólar está bem abaixo do patamar atual, de R$ 1,68.

"O BC só deve entrar comprando câmbio (no mercado à vista) se a cotação cair abaixo de R$ 1,60", acredita André Hübner, diretor de Global Markets do HSBC. Segundo ele, a preocupação da autoridade parece ser mais com a liquidez do que com a cotação da moeda americana.

A autoridade monetária fez uma consulta aos bancos na quinta-feira se haveria interesse em rolar os contratos de swap que mantinha em aberto na BM&F, em um movimento inesperado pelos investidores.

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Causou surpresa também a taxa na data da consulta, na casa de R$ 1,70. O BC só oferece swaps tradicionais - equivalentes a uma venda de dólar no mercado futuro - em momentos de alta acentuada do dólar, como ocorreu no auge do aperto de liquidez de setembro, quando a cotação chegou a bater em R$ 1,96.

Mais do que a operação em si, que mexeu pouco com o mercado, os investidores buscaram na ação do BC sinais de como a autoridade vê o atual nível do dólar. E a percepção é de que a o BC não se mostra incomodado com a cotação corrente.

O BC detinha uma posição líquida vendida de US$ 1,3 bilhão, em contratos de swap na BM&F - composta por operações tanto tradicionais quanto reversas. Como o BC rolou apenas parte da oferta de swaps tradicionais, a posição líquida vendida foi reduzida. O resultado, portanto, foi equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro, justamente o que os agentes demandavam.

Essa foi a senha para uma queda acentuada da moeda americana ao longo do dia, fechando abaixo da casa de R$ 1,7 pela primeira vez desde o começo de setembro, com uma desvalorização de 1,46% na sexta-feira.

"O BC passou a informação para o mercado que se alguém está pensado que existe um piso em R$ 1,70 está enganado", disse um operador de câmbio. Mas essa mesma fonte pondera que a rolagem pode ter sido apenas um movimento técnico do BC. "O mercado sempre tenta encontrar um sinal, mas pode ter sido uma simples rolagem", afirma. O fato é, continua, que o mercado ficou mais "tranquilo" após o leilão, e a moeda continuou caindo.

A semana foi movimentada. A expectativa ficou em torno do anúncio de uma solução para a crise na Europa. Divulgado o acordo para perdão de parte da dívida grega e de recapitalização dos bancos da região, o mercado foi tomado pela euforia.

A valorização do real, no entanto, foi mais intensa do que outras divisas internacionais, mesmo comparado aquelas que têm forte relação com as commodities. A explicação colhida nas mesas de câmbio é o efeito da disfuncionalidade do mercado brasileiro pós-IOF. O real estaria "atrasado", segundo expressão usada por um dos operadores de câmbio.

Mas o fluxo de divisas para o país, de fato, foi mais expressivo, contribuindo para uma apreciação acentuada da moeda brasileira. A movimentação de alguns bancos foi intensa para liquidar a entrada de moeda estrangeira. O resultado é que o estoque de dólares na mão das instituições financeiras deve ter superado o patamar de US$ 5 bilhões - já que o Banco Central não realiza leilões de compra no mercado à vista desde meados de setembro.

O cenário do BC, segundo ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na quinta-feira, é de certa "estabilidade" para a taxa de câmbio. Mas a autoridade, como sempre faz questão de deixar claro nas suas comunicações, não trabalha com meta de câmbio e suas intervenções servem apenas para atenuar os movimentos de mercado e acumular reservas.

 

 

 

 

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