21/10/2011

FMI faz alerta ao BC sobre risco de descontrole da inflação

 

Autor(es): Por Alex Ribeiro | De Washington

Valor Econômico - 21/10/2011

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que, com inflação alta e expectativas subindo acima da meta, o Banco Central deve ter cuidado com a sua política monetária para encontrar o balanço certo entre o crescimento econômico e o controle da inflação. Essa é a primeira ressalva feita pelo organismo ao relaxamento monetário adotado pelo Brasil a partir do fim de agosto e que até então vinha recebendo declarações em geral de apoio.

Ontem, o Valor perguntou a opinião do FMI sobre o corte de juros feito pelo BC um dia antes, quando a taxa básica foi reduzida em 0,5 ponto percentual, de 12% ao ano para 11,5% ao ano. "Esse é um momento especialmente complexo para os mercados emergentes", declarou um porta-voz do FMI, em mensagem escrita. "Enquanto [alguns] países vinham se concentrando em esfriar a demanda para reduzir a inflação, a economia global se desacelerou mais rápido do que o previsto e os riscos de queda se tornaram mais pronunciados."

Segundo o FMI, o Brasil começou um ciclo preventivo de afrouxamento monetário, diante dos riscos de queda na economia global e da desaceleração mais forte do que esperado na atividade doméstica. "Se um grande choque externo ocorrer, algum afrouxamento na política [monetária] poderá ser consistente com a inflação convergindo para a meta", afirma o FMI. "Porém, com a alta inflação e com as expectativas subindo acima da meta, a política monetária deve encontrar um cuidadoso balanço de riscos."

Balanço de riscos é um jargão usado pelos bancos centrais sobre as escolhas feitas nas decisões de política monetária. De um lado, estão os riscos de desaceleração econômica e, de outro, os riscos de alta da inflação. Desde fins de agosto, quando começou a baixar os juros, o BC vem privilegiando o risco para garantir o crescimento econômico. O diagnóstico do BC é que, com a expansão mais fraca do que o previsto na economia mundial, em parte causada pela crise nas economias desenvolvidas, o Brasil vai crescer menos e enfrentar menos pressões inflacionárias.

Pelo discurso oficial do BC, não será necessário um grande choque externo para a inflação brasileira caminhar para o centro da meta no ano que vem. Basta a desaceleração econômica que já está em curso, em virtude do cenário externo incerto. Já o porta-voz do FMI destaca que algum afrouxamento monetário é consistente com o cumprimento da meta "se um grande choque externo ocorrer" - um risco no horizonte, mas ainda bastante incerto.

Em seu relatório Panorama Econômico Mundial, divulgado no mês passado, o FMI recomenda que, diante das incertezas no cenário econômico mundial, algumas economias emergentes suspendam o processo de aperto monetário para, mais adiante, decidir o que fazer, quando o cenário ficar mais claro. O Brasil deu uma virada mais rápida na política de juros, com um corte acumulado de 1 ponto percentual na taxa básica.

No relatório, o FMI projetou uma inflação de 4,5% para 2012, o que significa confiança do organismo no cumprimento da meta para o ano. Quando da divulgação do documento, o organismo deu declarações cautelosas de apoio à política macroeconômica adotada pelo Brasil. "É muito claro que o BC colocou a ênfase nos riscos de queda no crescimento decorrentes do ambiente externo", afirmou na ocasião Petya Koeva Brooks, funcionária que acompanha o Brasil no departamento de estudos econômicos mundiais do FMI. "Temos que esperar para ver quais serão os efeitos na demanda doméstica e inflação."

"O esforço fiscal planejado neste ano dá um bem-vindo apoio para a política monetária", afirmou ontem o porta-voz. "Daqui para frente, será importante garantir desempenho fiscal o mais forte possível, num ambiente global em que os riscos soberanos em economias avançadas vieram à tona."

 

 

 

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