31/10/2011

Orçamento dos EUA é nova fonte de incerteza

 

 

Por dentro do mercado

Autor(es): Eduardo Campos

Valor Econômico - 31/10/2011

 

 

Com outubro ficando para trás e a crise na Europa controlada, ao menos por ora, o foco dos investidores pode se voltar para os Estados Unidos. Não só em função de dados econômicos ou possíveis ações do Federal Reserve (Fed, banco central americano), mas sim em razão da não resolvida questão do Orçamento.

Todo o choro e ranger de dentes do fim de julho, quando o mundo assistiu pasmo à briga entre Democratas e Republicanos sobre o teto do endividamento federal, pode voltar à pauta agora em setembro.

Os deputados americanos têm até o dia 23 de novembro para fechar um acordo sobre o tamanho de um programa para reduzir despesas, medida acertada após o acordo de 30 de julho, que deu um fôlego temporário ao governo dos EUA.

Sem acordo, toda a conversa sobre calote do governo federal americano e novos rebaixamentos de nota soberana voltam a assombrar os investidores.

No câmbio, país saiu da Namíbia e está de volta à Suíça

Mesmo com o acerto de última hora de julho, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s tirou a nota "AAA" da dívida americana, a maior da escala, na noite do dia 5 de agosto, uma sexta-feira. Só para refrescar a memória, o pregão da segunda-feira, dia 8 de agosto, teve Bovespa mergulhando 8% e S&P 500 caindo 6,6%.

Recentemente, o Bank of America Merrill Lynch alertou sobre a possibilidade de novos rebaixamentos na nota dos EUA em função da falta de um acordo crível para se lidar com o endividamento americano no longo prazo.

Ainda nos Estados Unidos, o PIB do terceiro trimestre foi uma agradável surpresa. E na semana que começa os investidores recebem uma indicação sobre o comportamento do mercado de trabalho, que ainda está devendo milhões de vagas.

Na Europa, o dito "perdão voluntário" de 50% da dívida grega, o anunciado aumento do fundo de estabilidade e as tratativas para se capitalizar bancos tiraram o euro da beira do abismo. Mas a região ainda não está em terreno seguro.

A principal crítica a tudo que foi feito por lá é que as medidas não estimulam crescimento econômico. De fato, as contrapartidas no lado real são austeridade, corte de gastos, sacrifício. O ponto é que, enquanto as economias não voltarem a crescer, continuarão incapazes de pagar suas dívidas. Então, a chance de novos problemas é latente, com financiamentos novos pagando apenas o serviço da dívida velha. Algo que nunca acaba bem. Isso sem entrar no lado social da questão. As revoltas e o descontentamento popular não tendem a melhorar com o salvamento do lado financeiro europeu.

No front local, o mercado de câmbio chama atenção. Como bem resumiu o diretor de uma corretora, saímos da Namíbia e estamos de volta à Suíça. O ambiente africano foi verificado em setembro, quando o dólar subiu mais de 18%, fazendo máximas a R$ 1,895. O ambiente suíço se forma neste fim de outubro. Até sexta-feira, o dólar comercial acumulava queda de 10,5% no mês, maior perda mensal desde abril de 2003. A moeda perdeu a linha de R$ 1,70 e alguns agentes não descartam que as vendas seguem até R$ 1,65.

No câmbio externo, as variações também são expressivas, mas representam cerca de metade da oscilação de preço registrada por aqui.

O DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, fechou a sexta-feira rondando a estabilidade, aos 75 pontos, mas acumula perda de 4,8% agora em outubro.

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Já a melhora de sentimento na zona do euro deu fôlego à moeda comum, que sobe mais de 5,8%, retomando a linha de US$ 1,41, preço não visto desde o começo de setembro.

No mercado de juros, os contratos encerraram a sexta-feira apontando para baixo na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A queda nos prêmios de risco foi vista como um ajuste técnico seguindo a alta de quinta-feira. A melhora externa ainda não justifica virada de mão nesse mercado. A ruptura pode sair de cena, mas não se pode pensar em forte crescimento na Europa e no mundo. A visão do Banco Central (BC) segue válida.

Eduardo Campos é repórter

 

 

 

 

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