26/10/2011

BM&FBovespa busca negócios na China

Para um cidadão comum chinês conseguir investir no mercado financeiro brasileiro não é nada fácil, mas começam a surgir no horizonte do Oriente as primeiras ideias de produtos efetivos que podem atrair investidores individuais chineses. Marcelo Maziero, diretor de produtos e clientes da BM&FBovespa, está na China com uma comitiva organizada pela bolsa brasileira - que levou para o outro lado do mundo representantes de empresas, corretoras e gestoras de ativos nacionais - e explica que, em meio a conversas com investidores locais, surgiu pela primeira vez a hipótese da criação de fundos de investimento baseados na China que considerariam papéis de renda variável brasileiros em suas carteiras - uma versão local dos fundos mútuos Toshin, que são tão populares no Japão e têm um estoque de US$ 90 bilhões entre papéis de renda fixa, variável e contratos derivativos vinculados ao Brasil.

"Há um potencial enorme, e as negociações com os chineses tem de ser levadas com muita paciência", explica. "Mas é fácil perceber que há um grande mercado investidor chinês que procura por muito investimento e que sabe muito pouco sobre o Brasil, apesar de ter forte interesse." Segundo ele, a ideia é fazer por lá uma espécie de "jogral sobre o Brasil", em que apresentarão também detalhes da estrutura bancária local e as regras de regulamentação do mercado acionário.

É o governo de Pequim que determina quem são as entidades que podem investir no exterior, o que torna praticamente impossível um investidor individual acessar sozinho os mercados externos. São também os reguladores centrais que determinam quem são os estrangeiros que podem acessar o mercado local - por isso a comitiva brasileira tende a beneficiar muito mais o lado de cá de lá em termos de recebimento de investimentos. E o investidor de varejo chinês da China Continental (que não considera Hong Kong) é famoso por suas poupanças gordas, mas são poucas as alternativas de rendimentos no mercado financeiro local.

Apesar da aproximação entre entidades financeiras dos dois países já estar acontecendo há meses, ainda não havia surgido uma alternativa concreta para investidores individuais. Por meio destes fundos exemplificados por Maziero, os chamados "investidores chineses institucionais domésticos qualificados" (ou QDII, na sigla em inglês) têm autorização para comprar ações no exterior e revender cotas dos fundos a clientes de varejo locais. A partir daí, esses fundos ficam acessíveis para os cerca 100 milhões de investidores que já aplicam na bolsa por lá.

O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e consultor financeiro Hsia Sheng explica que hoje a maior parte desses fundos compra papéis que são negociados em Hong Kong, e pouco consideram ativos de outras partes do mundo. "Se eles conseguirem atrair a atenção desses investidores institucionais chineses para começar a comprar papéis brasileiros, temos muito a ganhar", diz. Ele explica que o volume total deste tipo de investimento ainda é pequeno, mas que tende a crescer à medida em que os produtos financeiros se fortalecem e se popularizam no mercado local.

Membros da comitiva brasileira se encontraram na segunda-feira em Shenzen com a equipe da corretora Guosen, uma das maiores do país, que tem mais de 4 milhões de clientes de varejo, cerca de 1,3 mil funcionários e conta com o americano especialista em economia chinesa Michael Pettis como estrategista-chefe. Além de conhecimento amplo os fundos que podem aproximar chineses de brasileiros, a Guosen também é popular entre seus clientes por permitir a atuação no mercado financeiro diretamente a partir de aparelhos móveis, como celulares - ideia ainda não é muito difundida no Brasil. Os brasileiros também devem falar com as corretoras Cicc securities, CIFCO, CITIC Group e Guotai Junan até o fim da viagem.

Entre as empresas daqui que embarcaram para o outro lado do mundo em busca de aproximação com investidores estão representantes da Petrobras, Vale, EBX, Cemig e MRV Engenharia; membros das divisões de asset manegement dos bancos Santander, Itaú Unibanco e BTG Pactual e das corretoras do Citibank, Futura, Solidez, Souza Barros, SLW, Planner, do Itaú BBA e do banco Santander. Para elas, é uma oportunidade de se mostrarem para futuros investidores em potencial.

Em Hong Kong, onde começou a peregrinação financeira, a conversa já aconteceu em um nível diferente daquela de Shenzen em Xangai, explica Maziero, justamente pela cidade ter regulamentação própria de seu mercado e um sistema financeiro muito mais avançado. Segundo o executivo brasileiro, lá as dúvidas foram muito mais voltadas ao caráter técnico do início das negociações de produtos derivativos dos principais índices de ações das bolsas do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, dentro de seus próprios mercados e em moeda local, uma possibilidade que foi anunciada conjuntamente por esses países no dia 12 deste mês. Também havia curiosidade sobre as taxações que recaem sobre o investidor estrangeiro, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

 

 

 

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