28/10/2011

Vale diz que não vai cortar produção para conter preço

 

Autor(es): Por Vera Saavedra Durão | Do Rio

Valor Econômico - 28/10/2011

 

 

A Vale não vai cortar produção nem reduzir vendas, como fez em 2008, para conter a queda do preço do minério de ferro, seu principal produto. A informação é de Murilo Ferreira, presidente da companhia.

O executivo confirmou, durante conferência telefônica sobre o resultado do trimestre, que a Vale deve produzir 310 milhões de toneladas de minério de ferro neste ano e 320 milhões em 2012.

Na análise de Ferreira, a instabilidade que toma conta do mercado de minério é devida à política de contenção de crédito na China, que tem levado as siderúrgicas a reduzir produção e desestocar minério por conta da crise de liquidez dos bancos e também do excesso de oferta do produto no mercado chinês por parte do Brasil e da Austrália, para compensar a retração de consumo das usinas europeias impactadas pela crise do euro.

Ontem, o preço no mercado à vista chinês continuou a trajetória de baixa e fechou em US$ 120 a tonelada. Esse valor era considerado piso no início do movimento de redução de preços, no começo do mês.

José Carlos Martins, diretor executivo de estratégia, marketing e vendas da Vale, admite a possibilidade de o preço cair um pouco mais. Alguns bancos apostam em um novo piso de US$ 115,00.

O Credit Suisse estima que a ação da companhia já embute um preço de US$ 70 para a tonelada do minério de ferro no mercado à vista chinês no curto prazo.

A incógnita fica por conta do preço médio real do minério no quarto trimestre, já que a Vale está em processo de negociação no mercado à vista com clientes chineses, como informou Martins.

Se a empresa fechar contratos para vendas no "spot", ou mesmo vender a preço médio trimestral real (no valor do "spot" do trimestre em curso), Martins arrisca estimar que o preço médio real do quarto trimestre pode baixar 10% a 15% em relação ao preço médio de US$ 175,63 a tonelada calculado para a fórmula tradicional da Vale. Nesse caso, a média do preço real poderia ficar entre US$ 149 a US$ 158 a tonelada, se o preço no mercado à vista não cair mais, pois ainda faltam dois meses para o trimestre fechar.

Martins adiantou que a Vale pode considerar e atender os pleitos de todos os clientes que estiverem dispostos a migrar para um avaliação de curto prazo, como o preço mensal ou o "spot" diário. Mas advertiu que uma vez acertada a mudança "não tem mais volta. E foi enfático: "A precificação à vista não pode valer só na queda, tem que valer também na subida [do preço]".

A Vale trabalha com um cenário otimista de recuperação do preço do minério. Ferreira e Martins esperam uma reviravolta na tendência de queda a partir de meados de novembro, já que o governo chinês prometeu nesta semana tomar medidas mais liberalizantes para o crédito. Também a oferta de minério pode sofrer redução devido a problemas climáticos na Austrália (ciclones), no Brasil (chuvas) e na China (fechamento de minas por conta do inverno chinês).

Para analistas, o que está em jogo nessa conjuntura é uma guerra das grandes mineradoras pela participação no mercado transoceânico de minério. Isso tem estimulado as empresas a despejar minério contratado na Europa para o mercado chinês.

O diretor executivo da Vale minimiza o fato ao informar que a Vale tem desviado entre dois a três navios de minério destinados à Europa para a China, algo como 600 mil toneladas. "Isso não é nada comparado a um mercado que consome 1 bilhão de toneladas de minério.

A seu ver, os preços no "spot" chinês estão mais impactados por oferta de "minério australiano do que brasileiro. Eles tiveram boa produção e estão ali perto".

Ontem, as ações da Vale subiram, acompanhando uma dia de recuperação nos mercados mundiais depois do anúncio do plano de salvamento europeu.

Em Nova York, o recibo de ações (ADR) atrelado aos papéis com direito a voto da companhia foi cotado a US$ 26,46, alta de 6,35%. Já o ADR preferencial fechou a US$ 24,56, alta de 5,95%. Na BM&FBovespa a ação ordinária fechou em R$ 44,81, alta de 2,70% e o papel preferencial PNA, em R$ 41,69, alta de 2,36%.

A Vale anunciou na quarta-feira um lucro de R$ 7,89 bilhões no trimestre, 25% abaixo em relação ao mesmo período do ano passado.

 

 

 

 

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