27/10/2011

Mais uma gota para o copo ficar meio cheio

Por Daniele Camba

Todos os olhos e ouvidos do mercado ontem estavam voltados para a reunião dos líderes da União Europeia. A grande expectativa, ou torcida, era que saíssem desse encontro várias medidas efetivas para o salvamento dos países europeus e os bancos da região. O resultado da reunião não foi assim uma Brastemp como muitos esperavam, mas de qualquer forma o mercado gostou do que viu.

Em terras brasileiras, isso se refletiu no Índice Bovespa, que fechou em alta de 1,52%, aos 57.143 pontos. Entre tudo que o mercado esperava que fosse anunciado, de concreto mesmo só houve a definição das novas exigências de capital para os bancos europeus. Do resto, sobraram sinalizações e faltaram decisões.

Mercado aprova as sinalizações dos governos europeus

Na linha das intenções, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, por exemplo, afirmou que pretende falar hoje com o presidente da China, Hu Jintao, para discutir como o país pode contribuir para o fundo de investimento da zona do euro criado para solucionar a crise.

Agora, por que os investidores se contentaram apenas com essas sinalizações? Para os analistas ouvidos pelo Valor, porque isso é mais uma gota para o copo sobre a solução da crise europeia se tornar meio cheio e não meio vazio, como vem sendo nos últimos meses, deteriorando o cenário internacional.

Na visão do diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino, para que o mercado se recupere, não é preciso haver uma solução da crise europeia. O importante é ficar claro para os investidores de que mudou a percepção dos governos europeus do senso de urgência de medidas efetivas. E é exatamente o que se viu na reunião de ontem. "Os governos mostraram que deixaram de ser lenientes e que agora estão realmente preocupados em achar uma saída para a crise, por mais lenta que ela seja", diz.

 

Para o diretor da Fundação Cesp, a cada novo passo que os governos europeus dão em direção à resolução da crise, ou no mínimo a tentativa de que isso aconteça, os mercados sobem mais um tanto.

Mas alto lá aqueles que acreditam que a alta do Ibovespa não tem limite, no caso de a crise europeia se definir da noite para o dia, o que é pouco provável, inclusive. Tudo tem seu preço, lembra Simino. O P/L da Bovespa (indicador de preço sobre lucro) está em 9 vezes, sendo que a média dos últimos cinco anos é de 12 vezes. Como o mundo hoje é mais arriscado, os múltiplos merecem um desconto, o que para Simino significa um P/L em torno de 10 vezes.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

E-mail daniele.camba@valor.com.br

 

 

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