28/10/2011

Pacote europeu carece de detalhes

Por Ulrike Dauer e Brendan Conway | The Wall Street Journal, de Berlim

El-Erian, da Pimco: "Desafio da implementação maior que o da concepção"

O mais recente plano europeu para controlar a crise da dívida revigorou os mercados financeiros globais, embora ainda não se saiba como o plano vai funcionar, quando será implementado e se seu alcance é suficiente.

Líderes europeus, reunidos em Bruxelas na madrugada de quinta-feira negociaram um amplo pacote de medidas para reorganizar seu fundo de resgate, recapitalizar os bancos do continente e reduzir a dívida da Grécia.

O acordo marca a mais ousada tentativa dos líderes europeus para controlar a crise, que já leva dois anos, e os investidores comemoraram a notícia, não dando importância à falta de detalhes do plano.

O euro subiu mais de 2% para US$ 1,4248, seu ponto mais alto desde o início de setembro.

Como parte do acordo para resolver a crise da dívida da zona do euro, os investidores privados aceitarão voluntariamente uma perda de 50% nos títulos soberanos gregos. Além disso, o poder de fogo do fundo de resgate da zona do euro será aumentado para cerca de US$ 1,4 trilhão e a Grécia vai se esforçar para reduzir a sua dívida para 120% do PIB até 2020.

"Tudo isso está vindo da Europa, esperemos que com a concretização de um acordo", disse Stephen J. Carl, diretor e chefe das operações de capital do Williams Capital Group.

"Não tenho certeza se já estamos fora de perigo, com outros problemas que podem surgir no exterior. Ainda há muito para se ver", acrescentou.

Com o novo plano da crise europeia, a dívida nocional da Grécia será reduzida em 50%, com os credores privados aceitando uma depreciação "voluntária". Os maiores bancos da Europa, que vêm enfrentando dúvidas sobre sua estabilidade, serão obrigados a aumentar seu capital de base em 9% para protegê-los contra a moratória de um país como a Grécia. Os líderes também concordaram em permitir que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, o fundo de resgate da zona do euro, de € 440 bilhões, tenha permissão de alavancar seus ativos quase três vezes, tornando-se a primeira linha de defesa contra o contágio.

Além dessas linhas gerais, porém, os líderes ofereceram poucos detalhes concretos, sinalizando que levarão semanas, se não meses, para elaborar os pormenores.

"O desafio de implementação é tão grande ou maior do que o desafio da concepção", disse Mohamed El-Erian, diretor-presidente da Pimco, o maior investidor mundial em títulos de dívida.

Além dos desafios apresentados pelo próprio pacote de resgate, a Europa também terá de buscar reformas estruturais politicamente complicadas para impulsionar o crescimento, bem como uma maior consolidação política e fiscal na zona do euro, disse El-Erian.

Economistas, por sua vez, louvaram o fortalecimento do fundo de resgate, mas questionaram se essas medidas conseguirão deter a contaminação da dívida para países maiores da zona da moeda única.

O FEEF terá duas maneiras de aplicar seus ativos. Uma parte do plano envolve garantir parcialmente novos papéis de dívida emitidos por países do bloco que teriam dificuldade em acessar os mercados financeiros por conta própria. Esse seria o caso se um país se tornar o foco de especulações baixistas, assustando os investidores. O seguro do FEEF pode ajudar a restaurar a confiança dos investidores, permitindo que um país ameaçado permaneça no mercado.

O segundo modelo inclui a criação de um veículo de investimento que permita a investidores privados e países com caixa gordo, como a China, a investir no fundo do FEEF de compra de títulos, aumentando o volume de dinheiro que o fundo pode aplicar.

"O volume do FEEF é apenas um aspecto de um pacote completo. Se os políticos acham que um simples aumento do tamanho deveria bastar, eles nunca vão vencer essa corrida", disse o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer. "O poder de fogo suficiente só pode ser eficaz se um país também fizer reformas de uma forma crível. Isso porque os mercados não acreditam que os países doadores vão se ater permanentemente aos compromissos que deram aos países beneficiários sem que estes façam reformas estruturais."

Nos últimos meses os investidores vêm se preocupando em especial com a Itália, a terceira maior economia da zona do euro. Roma vem sofrendo críticas por não realizar reformas estruturais nem enfrentar de forma decisiva sua dívida de € 1,9 trilhão.

A França e a Alemanha têm pressionado a Itália para reduzir sua enorme dívida pública e controlar o seu déficit, mas suas exigências vêm enfrentando resistência em Roma.

"Se o mercado perceber que a Itália é um grande problema, não tenho certeza se o FEEF poderá resolvê-lo", disse Rym Ayadi, pesquisador sênior e chefe da unidade de instituições financeiras e políticas prudenciais do Centro de Estudos de Política Europeia, em Bruxelas.

(Colaborou William Horobin)

 

 

 

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