14/05/2011

Mini-curso: Opções - Trava de Baixa

Dando continuidade ao nosso mini-curso, agora iremos falar da trava de baixa, que também é conhecida como reversão.
A trava de baixa é uma operação similar à trava de alta, porém, na trava de baixa se vende a opção com strike inferior e se compra a opção com strike superior, ou seja, é o inverso da trava de alta.
O objetivo aqui também é vender spread por um valor mais alto, e comprar por um valor mais baixo, portanto, assim como na trava de alta, operamos o spread, e não cada opção individualmente. O objetivo da trava é que a opção vendida perca VE (valor de expectativa), perdendo valor, e consequentemente, reduzindo o valor do spread, para que possamos desmontar a operação com lucro, ou esperar até o dia do exercício onde ela atingirá o seu lucro máximo. Assim como o lucro máximo é obtido no dia de exercício, o prejuízo máximo também será obtido no dia do exercício. Lembrando que as opções com strike mais próximo do preço da ação, possuem mais VE, e as com strike mais longe, possuem menos, com isso, com o passar do tempo, a ação do Theta nas opções, vão fazer que ambas percam VE, e como a vendida terá mais VE, ela perderá mais valor absoluto.

O objetivo aqui é que o preço da ação fique abaixo do preço de exercício (strike) da opção vendida, caso isso aconteça, a trava no dia do exercício morrerá sem valor, ou seja, com spread igual a zero, já que ambas as opções não terão valor, pois a ação valerá menos que o strike da opção, e ninguém irá usar o direito de exercício se pode comprar a ação por menos no mercado. Caso aconteça o contrário, e a ação passe a valer mais que o strike da opção comprada, no dia de exercício a trava valerá a diferença entre os strikes, se for montada uma trava sem pular strike, a trava valerá 2,00 reais por opção, se for pulando 1 série, valerá 4,00, e assim por diante.
Na trava de baixa, o lucro máximo é o valor recebido na montagem da operação, como você esta vendendo a opção de strike menor, ela sempre terá maior valor que a opção comprada, então, sempre receberemos dinheiro na montagem da operação, o que é o contrário da trava de alta, que sempre pagamos para montar. Como recebemos para montar, e nosso lucro máximo é o valor recebido, então, nosso risco (prejuízo) máximo é a diferença entre o strike da opção vendida para o strike da opção comprada menos o valor recebido na montagem. O break-even (ponto que a operação passa do prejuízo para o lucro e vice-versa) na trava de baixa é calculado somando-se o valor do spread recebido na montagem ao valor do strike da opção vendida, exemplo, se recebeu 1,00 para montar, vendendo uma opção com strike em 22,00 e comprando uma com strike em 24,00, o break-even será em 23,00, já que nesse ponto, a opção vendida valerá 1,00, a comprada nada, ou seja, a trava valerá exatamente 1,00, que foi o que recebemos na montagem. Então, quanto maior o spread vendido, mais alto será o break-even.

Quanto mais OTM for montada a trava, mais chance de lucro, porém menor ele será, e consequentemente, maior será o prejuízo caso ele ocorra. Quanto mais ITM for montada a trava, menor a chance de lucro, menor o prejuízo máximo, porém, maior o lucro máximo. Como todas outras operações com opções, aqui também temos o equilibrio, não existindo operação ideal. Uma trava montada OTM, vai ganhar na queda da ação, na estabilidade e até na ligeira alta, já uma trava ATM, ganhará na queda e na estabilidade, e uma trava ITM irá ganhar apenas com a queda do mercado.

O importante a se buscar na trava de baixa, é vender VE eficiente, ou seja, vender uma opção que tenha um alto VE e uma boa distância para o preço da ação, valendo aqui os mesmos critérios para a venda coberta, mas com um detalhe a mais, aqui temos maior risco, e uma outra opção envolvida, por isso, não podemos só olhar o VE da opção vendida, e devemos olhar também o valor e o VE da opção comprada, pois quanto maior a diferença de valor entre elas, melhor para nós montarmos a trava, já que receberemos mais pela montagem.

Importante, esse dinheiro recebido na montagem da operação não pode ainda ser contabilizado como lucro, pois a operação pode ir contra você, e dar prejuízo, fazendo com que você tenha que devolver o que recebeu e colocar mais dinheiro para cobrir esse prejuízo, portanto, é importante que ao montar a operação, você tenha consciência que esse dinheiro recebido ainda não é seu, considere que é uma dívida, e que você pode ter que devolvê-lo. Por isso é importante montar operações aonde o seu risco máximo seja um valor que você pode perder, prefira montar uma trava menor, do que montar uma trava maior, e ter que desmontar a operação antes da hora, pois o prejuízo pode ficar insuportável, fazendo você desmontar uma operação que ainda teria chance de sucesso.

Vamos simular a montagem de algumas travas de baixa com a PETR4, levando em consideração que seu valor seja de 24,20, assim como fizemos a simulação das travas de alta. Temos as seguintes opções disponíveis para montarmos nossa trava:
F22: strike em 21,75, valor 2,90, VE 0,45 e VI 2,45.
F24: strike em 23,75, valor 1,20, VE 0,75 e VI 0,45.
F26: strike em 25,75, valor 0,32, VE 0,32.
F28: strike em 27,75, valor 0,07, VE 0,07.
F30: strike em 29,75, valor 0,03, VE 0,03.

Olhando essas opções, podemos fazer diversas combinações para montar a trava, simulando com 1000 opções, teríamos:
Venda de F22: 1000 x 2,90 = 2900,00
Compra de F24: 1000 x 1,20 = 1200,00
Spread: 1,70 (2,90 - 1,20)
Lucro máximo: 1700,00 (2900 - 1200)
Risco máximo: 300,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 1700, que é o valor recebido na montagem).
Break-even: 23,45 (21,75 + 1,70)
Repare que a trava nor fornece 1700 reais no momento da montagem, um belo lucro, e traz um risco máximo de 300 reais. Se arrisca 300 para ganhar 1700, o que seria excelente, porém, a chance dessa trava ter sucesso é baixa, já que precisa que a PETR4 caia de 24,20 para 23,45 para começarmos a ter lucro, e que caia para 21,75 para termos o lucro máximo, caso contrário, com ela ficando acima dos 23,75, teremos o prejuízo máximo de 300 reais.

Venda de F24: 1000 x 1,20 = 1200,00
Compra de F26: 1000 x 0,32 = 320,00
Spread: 0,88 (1,20 - 0,32)
Lucro máximo: 880,00 (1200 - 320)
Risco máximo: 1120,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 880, que é o valor recebido na montagem).
Break-even: 24,63 (23,75 + 0,88)
Nessa trava temos um bom spread, de 0,88, o que nos traz um bom lucro de 880 reais, e um prejuízo máximo de 1120, sendo uma trava mais equilibrada. O break-even está em 24,63, ou seja, acima do preço atual da ação, o que da uma certa margem e aumenta as chances de sucesso, porém, o lucro máximo somente será obtido caso a ação caia a 23,75, oq ue depende de queda nos preços da ação, de 24,20 até os 23,75. Então temos uma pequena proteção antes de ter prejuízo, mas, para atingirmos o lucro máximo, precisamo de queda no mercado. É uma trava arriscada, mas que pode ser montada em determinadas situações.

Venda de F26: 1000 x 0,32 = 320,00
Compra de F28: 1000 x 0,07 = 70,00
Spread: 0,25 (0,32 - 0,07)
Lucro máximo: 250,00 (320 - 70)
Risco máximo: 1750,00 (diferença dos spreads, que é 2000 - 250, que é o valor recebido na montagem).
Break-even: 26,00 (25,75 + 0,25)
Aqui temos uma trava totalmente OTM, veja que o lucro máximo é pequeno comparado às outras duas travas, mas, as chances de ter sucesso são muito grandes, já que a ação pode subir de 24,20 até 25,75 que a operação ainda dará lucro máximo, ou seja, temos uma margem de 1,55 reais para a ação subir que ainda conseguiremos o lucro máximo, e ainda temos o berak-even nos 26,00 reais, o que da 1,80 reais de margem até a operação parar de dar lucro e passar a dar prejuízo. Caso a ação tenha uma alta muito forte, e passe dos 27,75, aí teremos o prejuízo máximo, que será alto, de 1750.

Montar travas de baixa ITM esperando uma queda brusca do mercado não é indicado, pois as opções muito ITM tem pouco VE, e a trava de baixa busca venda de VE eficiente.
Do mesmo jeito, montar travas muito OTM não são tão indicadas, pois o lucro é muito baixo e o prejuízo máximo fica alto, perdendo eficiencia.
A trava de baixa é uma venda de VE, e ganha com o derretimento do VE vendido, tem o tempo à seu favor, e posui delta negativo, pois vendemos mais delta do que compramos.
O que devemos buscar é uma trava OTM, que tenha um bom VE, fornecendo um bom spread, que será corroído pelo tempo, trazendo bons retornos.

Para os exemplos acima, não temos nenhuma trava boa de se montar no momento, deve-se ter paciência para buscar as boas oportunidades, e não vender por vender, sendo paciente, tem-se mais chances de lucro no longo prazo. Assim como na venda coberta, evite vender opções de baixo valor, pois não são eficientes, e tem alto risco gama.

É possível montar a trava pulando uma ou mais séries, o princípio é o mesmo, o lucro máximo sempre será o valor recebido na montagem, e quanto maior a distância entre os strikes, maior será o valor recebido, pois a opção comprada custará cade vez menos, conforme vai se distanciando da vendida. Porém, pular strikes, além de aumentar o lucro máximo, aumenta também o risco máximo, que sempre será a diferença dos strikes menos o valor recebido, então, pulando um strike, o a diferença entre os strikes tenderá a 4,00, pulando 2 strikes, tenderá a 6,00. Temos novamente aqui o equilíbrio entrando em ação, ao termos a possibilidade de ganhar mais, também teremos a possibilidade de perder mais.

Em alguns casos, pode ser mais interessante montar uma trava menor pulando um strike, e em outros casos pode ser mais vantajoso montar uma trava maior sem pular strikes, é importante avaliar o spread obtido em cada caso, para saber se é mais vantajoso ter uma posição maior com strike próximo, ou uma posição menor com strike longe. Volto aqui a ressaltar, a importância do entendimento das gregas e sua inflência nos preços das opções. Normalmente, a trava sem pular strikes é a mais indicada, mas quando detectar uma oportunidade de venda de VE, faça simulações e analise as gregas, para ver qual a melhor forma de montar a trava, pulando strikes ou não.

Como já falei antes, opções de empresas mais voláteis possuem mais VE, enquanto de empresas menos voláteis, possuem menos VE, assim como opções de série mais longe do exercício tem mais VE, e as séries mais próximas do vencimento tem menos VE. Cuidado ao montar travas muito longe do exercício, pois o risco torna-se maior. Boas oportunidades costumam aparecer quando falta 1 mês para o final da série, que é logo quando a série da opção se torna a atual. Também costumam aparecer boas oportunidades na série seguinta a atual, um pouco antes dela se tornar atual, faltando pouco mais de 1 mês para seu vencimento.

Assim como na venda coberta, você não precisa esperar o exercício para desmontar a trava e embolsar o lucro, alias, na maioria das vezes, o indicado é desmontar a trava antes do exercício, pois como é uma venda de VE, chega um determinado momento que as opções já quase não possuem VE, fazendo com que a maior parte do lucro já tenha sido obtida, compensando realizar o lucro e não correr mais riscos na operação. Lembre-se que uma opção de baixo valor, possui muito gama e pouco VE, características que indicam que está na hora de encerrar a venda, pois a opção se torna muito explosiva. Não há necessidade de carregar uma trava que esteja com um spread baixo, correndo risco de perder o lucro obtido até o momento. Em alguns casos, pode-se levar até o exercício sem problemas, quando a trava ainda estiver muito OTM, ou o valor do VE ainda seja alto. Seja coerente, e busque lucros consistentes, mesmo que sejam menores, é melhor ter mais lucros um pouco menores, do que perder operações que estavam no lucro por ganância de ganhar poucos centavos.

Resumindo, a trava de baixa é uma ótima forma de alavancar os ganhos, oferecendo ótimos retornos, com risco controlado. Funciona muito bem em mercados de baixa volatilidade, desde que montadas fora do dinheiro, e claro, funciona melhor ainda em épocas de crise, em que o mercado esteja em quedas constantes. Infelizmente, em épocas de baixa volatilidade, as opções tem menos VE, portanto, atenção ao momento do mercado, sempre veja se o VE oferecido é compatível com o momento que o mercado está passando.

Procure travas OTM com alto spread e com boa margem de proteção, o que trará mais chances de sucesso e bons lucros. Lembre-se que assim como qualquer outra operação com opção, as boas oportunidades não aparecem todo mês, mas elas existem, basta procurar e esperar por elas.

Ficamos por aqui, e em breve, mais um post no nosso mini-curso, ainda temos muito a falar sobre operações com opções.

2 comentários:

Lion-RJ disse...

Ótimo texto!

Unknown disse...

gostei do blog!!!