Guilherme Vicente, da Mauá Sekular: estratégia de fazer arbitragem apenas depois da confirmação dos eventos
Com a queda da maioria das ações que compõem o Ibovespa, muitos gestores passaram a garimpar oportunidades em papéis fora do índice. Muitas vezes esquecidas no pregão por não serem negociadas nos segmentos de mais alta governança corporativa da bolsa - Níveis I e II e Novo Mercado - as ações conhecidas como de "terceira linha", que têm liquidez e valor de mercado mais baixos, podem oferecer boas oportunidades de retorno.
Quem comprou as ações preferenciais (sem direito a voto) da Battistela, holding que opera com a revenda de veículos, energia, transporte e madeira, acumulou neste ano um ganho de 76,9%. Só nos últimos 30 dias, os papéis subiram 91,7%.
O fundo J. Malucelli Small Caps foi um dos que se beneficiaram da valorização da ação. A participação em Battistella teve uma contribuição relevante para a performance da carteira melhor que o índice neste ano. O fundo acumulava, até 19 de julho, queda de 1,47%, contra uma perda de 14,75% do Ibovespa no período. "O objetivo é enxergar valor em ativos que o mercado ainda não tenha identificado", afirma Roberto Sevalli, diretor da J. Malucelli Investimentos.
No caso da Battistella, a gestora comprou o papel abaixo de R$ 0,60 e hoje a ação é negociada a R$ 2,07. Embora considere que o papel ainda está abaixo do preço justo, Sevalli atribui parte da forte valorização a uma euforia do mercado. "Esperamos uma alta gradativa das ações", diz. "Muitas pessoas, porém, investem em cima de boatos, nem sabem o que estão comprando."
Em comunicado, a empresa justificou que alta pode estar ligada ao anúncio da emissão de debêntures, incorporação da unidade de veículos pesados e inauguração de um porto da empresa no litoral norte de Santa Catarina.
Por serem cotadas a valores muito baixos, muitas vezes valendo centavos, essas ações acabam sendo alvo de especulação dos investidores, o que traz maior volatilidade. É o caso, por exemplo, da Mundial. Depois de apresentar uma alta de 2.820% neste ano, as ações preferenciais da empresa acumulam queda de 63% desde quarta-feira, com muitos investidores buscando realizar os seus ganhos.
Para os que buscam ganhos no longo prazo, como o fundo da J. Malucelli, o que vale é o potencial de criação de valor da empresa. Essas gestoras com foco fundamentalista procuram identificar oportunidades de investimento em empresas que estão com papéis abaixo do seu preço justo.
A carteira da J. Malucelli tem como foco empresas com até R$ 4 bilhões de valor de mercado. Além da Battistella, o fundo tinha participações na Karsten, do setor de varejo, e Unipar, petroquímico.
Como não costumam ser acompanhadas por analistas de corretoras, a aproximação com as empresas é fundamental na análise desses papéis.
Antes de investir na Grazziotin, por exemplo, os gestores da Fama percorreram as lojas de departamento da empresa para ver se ela tinha preços e serviços competitivos em relação a seus concorrentes. A companhia tem forte atuação em cidades pequenas na região Sul com foco no comércio de vestuário, perfumaria, e cama, mesa e banho direcionada para o público B e C. "Procuramos visitar as empresas em que investimos e conversar com os controladores e fornecedores", afirma Bruno Piacentini, sócio da Fama Investimentos.
A Fama costuma ter uma participação ativa nas empresas em que investe. A gestora possui assento no conselho de administração e fiscal de dez companhias, buscando contribuir para melhorar a gestão e a governança corporativa.
Embora os papéis preferenciais da Grazziotin acumulem queda de 13% neste ano, a gestora mantém uma perspectiva positiva para a companhia. "Procuramos empresas que devem apresentar um crescimento do lucro nos próximos cinco a dez anos", diz Piacentini. O fundo de cotas Futurevalue acumulava alta de 12,3% nos 36 meses encerrados em 20 de julho, para uma queda de 1% do Ibovespa.
As "small" e micro "caps", no entanto, não estão apenas no radar dos gestores que buscam ganhos no longo prazo. Eventos societários como fusões, incorporações ou fechamento de capital podem trazer oportunidade para investidores que buscam lucro no curto prazo.
Quem comprou os papéis da Dixie Toga, por exemplo, acumulou só neste ano uma rentabilidade de 49%. O grupo controlador da empresa, a americana Bemis Cayman Islands, por meio de subsidiária Dendron Participações, realizou em 8 de julho uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) pelos papéis da fabricante de embalagens, uma das maiores nesse segmento na América Latina.
A Bemis pagou o equivalente a R$ 3,50 por ação mais a correção pela variação do CDI a partir de fevereiro de 2011, elevando a oferta anunciada no ano passado, de R$ 2,40 por papel para fechar o capital da Dixie Toga.
O fundo Msk Arbitragem Multimercado se beneficiou da alta do papel. A carteira, gerida pela Mauá Sekular Investimentos, acumulava alta de 9,58% no ano até 19 de julho.
O objetivo do fundo é ganhar com arbitragens de preços proporcionadas por eventos societários. "Nós só investimos depois da divulgação do fato relevante, quando o negócio já está acertado, reduzindo o risco da operação", afirma Guilherme Vicente, gestor do fundo da Mauá.
Isso porque, nos casos de incorporação ou de OPA para a realização do fechamento de capital, o mercado tende a ajustar o preço da ação às relações de troca anunciadas pelos compradores. O risco, nesse caso, é o de a operação não se concretizar, e o investidor acabar com o "mico" na mão.
Fonte: Um Investimentos
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