01/11/2011

Um respiro para o investidor

Depois de meses a fio convivendo com uma volatilidade elevada, o investidor talvez possa experimentar um certo respiro neste fim de ano. O acordo entre os líderes da zona do euro para estancar a crise da dívida soberana de países da região deve amenizar as oscilações dos mercados. Não que a perspectiva seja de céu de brigadeiro, muito pelo contrário. Ainda há muitas dúvidas no horizonte. Mas pelo menos saiu do radar um calote desordenado na Europa.

Outubro foi marcado pelas preocupações com relação à capacidade de pagamento da dívida da Grécia e os efeitos que um eventual calote do país traria aos bancos detentores desses títulos. Além disso, havia o temor de que a difícil situação grega contaminasse outras economias altamente endividadas - como Itália e Espanha -, trazendo dificuldade para que elas se financiassem.

 

Somente o empenho dos dirigentes europeus em chegar a um entendimento sobre um pacote de socorro para a Grécia já foi suficiente para diminuir a aversão ao risco dos aplicadores. Resultado: o Índice Bovespa fechou outubro com alta de 11,49%, aos 58.338 pontos - melhor mês desde abril de 2009, quando subiu 12,49%. E muitos acreditam que o acordo pode destravar o Ibovespa, abrindo caminho para um rali de fim de ano, dado que a bolsa estaria bastante depreciada. No ano, o índice ainda registra queda de 15,82% até ontem.

Ainda há aspectos do plano que precisam ser detalhados, mas houve uma clara demonstração dos líderes europeus de que eles querem apagar o incêndio na Grécia e socorrer o sistema financeiro, avalia Mauricio Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management. "Saiu do palco o cenário de 'default' (calote) descontrolado", diz. "O incêndio está sendo apagado, mas a água vai sair bem cara."

Pelo acordo, os credores dos papéis gregos aceitaram dar um desconto de 50% à dívida da Grécia. Além do pacote, um novo programa da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de até € 100 bilhões, será implementado até o fim do ano para os gregos. Foi criada ainda uma barreira de proteção anticontágio, com um acordo para multiplicar em até cinco vezes o poder financeiro do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) para socorrer países e bancos em dificuldade.

Mas alguns pontos do acordo ainda precisam ser mais bem explicados. Por exemplo, como o capital do EFSF será multiplicado. Não está claro quem serão os colaboradores e o papel da China nisso. Tampouco se sabe como funcionará o socorro feito pelo fundo aos países e bancos em dificuldade.

Até por conta de todas essas dúvidas, ainda haverá muita volatilidade, mas num nível um pouco menor, dado que o evento de crise descontrolada saiu do radar, avalia Pedrosa, da Queluz. "Se, na costura de esse pacote, algum detalhe vier ruim, é possível que a bolsa devolva uma parte dos ganhos vistos em outubro", diz ele.

Alguns pontos do pacote estão faltando e ele, certamente, não resolverá todos os problemas da Europa no longo prazo, ressalta Bob Doll, estrategista-chefe de ações da BlackRock, em relatório. "O acordo da dívida europeia, no entanto, é um marco significativo e ajuda a remover alguns dos riscos que foram pesando sobre a economia global e dos mercados financeiros", diz.

Na visão de Doll, existem ainda algumas preocupações significativas no longo prazo sobre a estabilidade fiscal de vários países europeus, sobretudo tendo em conta que o crescimento econômico global europeu é provável que se mantenha fraco. "Mas a flexibilização dos riscos associados às questões europeias, juntamente com uma perspectiva mais otimista para a economia dos Estados Unidos, cria uma base mais sólida para os ativos de maior risco", avalia o executivo.

Diante da reversão de expectativas para a bolsa, é de se esperar um fluxo mais forte dos investidores externos para o mercado local, avalia Guilherme Horn, diretor da Órama Investimentos. Os números mostram que, em outubro, até o dia 27, o saldo do estrangeiro na bolsa estava positivo em R$ 129,775 milhões. No acumulado do ano, entretanto, o resultado ainda estava negativo em R$ 230,351 milhões. "A bolsa brasileira se mostra uma excelente opção para os investidores estrangeiros já que os ativos estão baratos", diz Horn. "E esse investidor deve voltar mais fortemente dado que o otimismo está um pouco maior."

Há uma melhora, mas que deve ser pontual, já que os problemas a serem resolvidos na Europa não são simples. É um processo de mais longo prazo, afirma Paulo Bittencourt, diretor-técnico da Apogeu Investimentos. Por isso, o executivo avalia que as ações de empresas boas pagadoras de dividendos ainda se mostram interessantes até que se tenha uma ideia mais clara do cenário.

Poderá acrescentar volatilidade aos ativos a votação sobre o orçamento dos EUA neste mês. Os deputados americanos têm até 23 de novembro para fechar um acordo sobre o tamanho de um programa para reduzir custos.

 

 

 

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