03/10/2011

Será que vai piorar antes de melhorar?

Por Luciana Monteiro

O atual comportamento errático da bolsa brasileira tem se mostrado um verdadeiro teste de fogo até mesmo para os mais otimistas. É cada vez maior o número de economistas, analistas e investidores que acredita que a situação no mercado financeiro ainda vai piorar, antes de melhorar. Isso quer dizer que a queda de 24,50% do Índice Bovespa no acumulado do ano até setembro poderá parecer fichinha daqui a algum tempo.

A discussão entre os governantes europeus sobre o socorro financeiro à Grécia parece cada vez mais difícil de chegar a um denominador comum, o que deixa a possibilidade de uma saída para dívida grega sem contaminação de outros países europeus também altamente endividados cada vez mais remota. O que se vê é muita retórica e pouca solução. E, caso não se chegue a um desfecho em breve, é impossível dizer até onde se estende a lista de países afetados, diz Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão e Patrimônio.

Bolsa já perdeu uma Vale e um Banco do Brasil, juntos, no ano

Normalmente um otimista, ainda que moderado, Viera era um dos que apostavam num rali para a bolsa em breve, mas esse sentimento evaporou-se na última semana do mês. O fato de a zona do euro ser composta por países com culturas bem diferentes torna ainda mais difícil o fechamento de um acordo conjunto a tempo de a Grécia não quebrar, avalia.

O próprio governo grego já admitiu que tem reservas suficientes em dinheiro até meados de outubro. "Se o socorro financeiro não chegar no dia seguinte, os detentores de papéis da Itália sairão vendendo seus títulos e, depois, os da Espanha, da Irlanda e de Portugal", diz Vieira. Na semana passada, reportagem do "Financial Times" mostrou que os termos de um segundo pacote para a Grécia, no valor de € 109 bilhões, provocaram um racha entre os 17 integrantes zona do euro.

A aversão a ativos de risco cresceu tanto que o Ibovespa fechou setembro com queda de 7,38%, a pior queda mensal desde outubro de 2008, quando caiu 24,80%. Até o dia 28, o valor de mercado das empresas que compõem o Ibovespa já havia caído R$ 126,852 bilhões, para um total de R$ 2,153 trilhões. Foi como se, apenas em setembro, a bolsa tivesse perdido mais do que um Itaú Unibanco, cujo valor era de R$ 124,864 bilhões até o dia 28. No ano, o valor de mercado do índice acumulava queda de R$ 321,5 bilhões, número superior a uma Vale (de R$ 228,796) e um Banco do Brasil (de R$ 70,373 bilhões) juntos naquele dia.

Na avaliação de Vieira, a zona do euro deveria aprovar uma espécie de "Plano Brady" - nome dado à reestruturação da dívida externa de alguns países, lançado no fim dos anos 80 - para os Piigs (sigla para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, nações que se mostram as mais problemáticas atualmente na Europa). De maneira geral, o Plano Brady pretendia renovar a dívida externa de países em desenvolvimento, mediante a troca de títulos antigos por novos, com um desconto do principal ou via alívio nos juros.

Para o diretor de investimentos da Safdié, a sugestão de uma emissão de eurobônus para a zona do euro não se mostra a melhor saída. "Inicialmente, poderia dar uma aliviada no mercado, mas depois traria insegurança aos países sólidos", afirma. "A Grécia está virtualmente quebrada e não há corte de gastos que possibilite o país honrar o pagamento de seus débitos", avalia ele, que acredita que os detentores de papéis gregos terão de aceitar um desconto de 45% a 55% do que têm a receber.

Luciana Monteiro é repórter de Investimentos. A titular da coluna, Daniele Camba, está de férias.

E-mail luciana.monteiro@valor.com.br

 

 

 

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