20/05/2011

Para o bem ou para o mal: como os balanços alteraram as sugestões de analistas

Lucros, receitas, investimentos, estratégias, aquisições. A temporada de resultados corporativos do 1T11 movimentou a bolsa nos dois últimos meses. Neste período, o mercado foi surpreendido com a melhoria nos balanços de operadoras de cartões, enquanto confirmou as perspectivas divergentes em relação às siderúrgicas e penalizou a estratégia da Hypermarcas, entre outras surpresas corporativas. 

De todas as empresas que já reportaram seus números por aqui, cerca de 46% surpreenderam positivamente o mercado, calcula a Lerosa Investimentos. Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 teve 72% de resultados acima do esperado. A disparidade ajuda a reforçar o descolamento dos dois índices. Enquanto o Ibovespa acumula baixa superior a 5% nos dois últimos meses, o desempenho do S&P 500 foi positivo no mesmo período em pouco mais de 2%.

Mercado exagerou ao estimar a concorrência entre operadoras de cartões
No caso de operadoras financeiras, os analistas realizaram um exame errôneo do mercado, com uma precificação exagerada sobre o ambiente competitivo, avalia o diretor da Geração Futuro, Ângelo Cossi. O lucro líquido de R$ 424,7 milhões da Cielo (CIEL3) ficou "significativamente acima das estimativas" do Citigroup, 37% superior, principalmente devido às receitas maiores com o aluguel de "maquininhas" e de pré-pagamentos, ao mesmo tempo em que as despesas operacionais foram menores.

Já o lucro líquido de R$ 281,3 milhões da Redecard (RDCD3) no primeiro trimestre superou em 12% e em 3% as projeções do Citi e do Barclays, respectivamente. O primeiro banco atribuiu os dados acima do esperado a uma compressão menor do MDR (taxa cobrada dos estabelecimentos comerciais por cada operação realizada) e às receitas mais fortes de pré-pagos. Por sua vez, o Barclays se mostrou surpreso com o avanço na receita de serviços no período.

Desde a divulgação dos balanços da Redecard e Cielo, em 27 de abril e 4 de maio, nesta ordem, os papéis das companhias já avançaram 6,86% e 5,62%, segundo a cotação de fechamento de quarta-feira (18).

Hypermarcas - mudança na política comercial foi "um erro"
Em 9 de maio, a Hypermarcas (HYPE3) reportou uma queda de 2,3% no lucro líquido obtido no primeiro trimestre do ano, para R$ 123,1 milhões. O fraco resultado foi atribuído pela Coinvalores às despesas com aquisição e ao aumento do endividamento. Decepcionado, o mercado penalizou os papéis com um recuo superior a 10% no mesmo pregão.

Os dias passaram e as interpretações negativas só aumentaram - a principal crítica girava em torno da mudança na política comercial da companhia, avaliada pela equipe de analistas do HSBC como "um erro". O aumento de preço de produtos e a redução das condições de pagamento foram um dos principais motivos para a redução da recomendação do HSBC para as ações, que passou para neutra, e o corte do target de R$ 28,00 para R$ 21,00.

A companhia passou por momentos difíceis ao tentar explicar porque não houve o anúncio sobre as mudanças na política comercial antes do comunicado de lucros do trimestre. Os analistas do HSBC afirmam não saber "quanto tempo levará para a administração reparar o dano feito ao crescimento das receitas" e à credibilidade, que diminuem a visibilidade dos lucros. No mesmo movimento adotado por outras casas de research, o Credit Suisse também reduziu o preço-alvo para os papéis da companhia.

O ativo perdeu 10,56% após a divulgação do balanço em 9 de maio, caiu 24,93% seis dias depois e 27,42% até o fechamento do pregão de quarta-feira. Mesmo após uma sequência de perdas tão grande, a perspectiva é que a ação continue a estender sua queda.

Ação da Lojas Marisa subiu demais e ofuscou resultado positivo
Longe de um resultado abaixo do esperado, as ações da Marisa (AMAR3) foram penalizadas pela percepção de que as estimativas positivas de crescimento para o papel já estavam "bem precificadas", ao menos para o Raymond James.

As receitas de financiamento ao consumidor acima do esperado impulsionaram a receita líquida e o Ebitda da companhia, superando as projeções do banco. Já a forte expansão na área de vendas e a maior exposição ao rápido crescimento dos consumidores que integram a classe média emergente sustentaram projeções favoráveis para a empresa. 

Contudo, os analistas Guilherme Assis e Daniela Bretthauer agora veem um upside limitado aos papéis. Desta forma, a sugestão para os ativos foi reduzida para market-perform.

Siderúrgicas continuaram a mostrar cenário lento de melhora
Em 28 de abril, a Usiminas (USIM3, USIM5) revelou um prejuízo de R$ 16 milhões no 1T11, após seu lucro líquido ter recuado 96% em relação ao mesmo período de 2010. Ao lado do cenário de deterioração para a siderurgia, o resultado levou o Barclays e o Citi a reduzirem a projeção para o preço-alvo da ação ao final de 2011. Enquanto o Barclays rebaixou o target dos ativos preferenciais de R$ 22,00 para R$ 19,00, o Citi repassou suas estimativas de R$ 24,00 para R$ 17,00, com uma projeção de Ebitda reduzida de R$ 2,4 bilhões para R$ 1,8 bilhão. 

Ainda no setor, a Gerdau (GGBR4) mostrou um avanço nas vendas e de produção no balanço do primeiro trimestre do ano, impulsionadas pela recuperação do mercado norte-americano. Já o lucro da empresa sentiu a pressão dos custos e acabou marcando variação negativa na comparação com os primeiros três meses de 2010. Os números ficaram um pouco acima das expectativas compiladas pela InfoMoney.

Apesar da queda de 4,34% registrada em 5 de maio, quando a empresa divulgou seu balanço, o resultado agradou aos analistas Victor Penna e Carlos Daltozo, do BB Investimentos, que confiantes na expansão da produção, vendas e faturamento consolidados, elevaram a recomendação das quatro ações da Gerdau e da Gerdau Metalúrgica (GOAU4) para compra.

Menos otimista, o Barclays optou por revisar seu modelo, já que a recuperação do setor tende a seguir em passos vagarosos e o balanço trouxe poucos sinais de recuperação. O preço-alvo da Gerdau passou de R$ 25,00 para R$ 23,00, enquanto o target para a Metalúrgica Gerdau foi reduzido de R$ 35,00 para R$ 32,00, ao incorporar as novas projeções da subsidiária.

Preço-alvo e recomendação da Cyrela em baixa
O aumento das receitas no resultado do primeiro trimestre da Cyrela (CYRE3) foi ofuscado pela redução de 57,4% do lucro líquido, para R$ 74,2 milhões, enquanto o Ebitda (geração operacional de caixa) recuou 38,1% na base do comparação anual, aos R$ 139,2 milhões, ainda impactado pela concentração de lançamentos no ano passado e pelo aumento das despesas comerciais.

Os analistas do BB Investimentos, Henrique Koch e Wesley Bernabé, consideraram o balanço abaixo do esperado e reduziram o preço-alvo para R$ 21,00 em 12 meses, alterando também a recomendação de compra para manutenção. As mudanças foram "em função do cenário macroeconômico e até que os próximos releases deem mais visibilidade para a formação de seu resultado para o ano", justificaram.

Embora a recuperação das margens da Cyrela não tenda a ser resolvida no curto prazo, a empresa segue confiante que retomará seus patamares históricos no médio prazo, disse o diretor de Relações com o Investidor, Luis Largman em teleconferência, quando classificou as margens vistas no período dentro das expectativas da companhia, contrariando a cautela de analistas.

Fonte: Uol

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