30/09/2011

BofA alerta sobre possível contaminação dos mercados para economia real

SÃO PAULO - Há uma crescente chance de que a economia real seja afetada pela atual turbulência enfrentada pelos mercados financeiros, alerta o Bank of America Merrill Lynch. Para os economistas Neil Dutta e Ethan Harris, o mercado tem funcionado no curto prazo como um indicador de riscos macroeconômicos ultimamente, perdendo parte de sua função como mero reflexo dos valores das companhias.

Assim, o risco reside nos seus efeitos no curto prazo, já que uma piora do sentimento do investidor leva a uma queda na atividade econômica. "Esse é o grande risco para a economia atualmente", destacam os economistas. Além disso, o poder que o mercado tem sobre as expectativas também implica em um aumento do custo do crédito, prejudicando novos investimentos. 

Pé está no freio
Investimentos e o mercado acionário, então, podem ser vistos como ciclicamente correlacionados, mas um não é causa o outro. Para os economistas do BofA, um executivo de uma empresa de capital aberto faz três perguntas quando olha para as ações: o preço do papel reflete o que eu já sei sobre a companhia? Ele reflete algo que eu não sei sobre a empresa? Ou o mercado está me informando algo sobre a economia?

E enquanto as duas primeiras questões transformam o mercado em um informante passivo, a terceira o transforma em ativo, algo cada vez mais comum. A recente turbulência que fez com que os valuations das empresas importassem menos do que o risco macroeconômico. "Investidores podem ter visões futuras afetando os preços atualmente e distorcendo decisões de investimento atualmente", destacam os economistas.

Mas podia estar no acelerador
O estresse nos mercados também deteriora as condições financeiras, transformando o crédito em mais barato ou caro. "Quando o mercado está operando com calma, transfere-se fundos de poupadoras para tomadores. Sob stress, fica mais díficil direcionar esses fundos", lembram Dutta e Harris, afirmando que nesses momentos os investimentos e o consumo diminui.

Isso faz com que o mercado acionário seja um possível acelerador das condições financeiras. Em um ciclo econômico, desempenha funções distintas. Durante o crescimento, cria um loop positivo, fazendo com que os investimentos fiquem mais baratos, fortaleçam a economia e crie um ciclo virtuoso no preço das ações. Em recessões, cria-se um loop negativo - justamente o que tem ocorrido, por conta dos efeitos inversos.

Concurso de beleza? 
Assim, a teoria de John Maynard Keynes - de que o mercado acionário é um mero concurso de beleza, onde os investidores formam preços em um mercado puramente especulativo, foi levada para a macroeconomia na visão dos economistas: investidores atualmente têm especulado os eventos. 

Isso tem garantido que o mercado tenha respondido mais agressivamente, assim como quando surgiram os possíveis investimentos chineses na Europa e o corte do rating norte-americano por uma única agência. Para eles, os fundamentos deveriam ser o que os investidores olhassem: os balanços de pagamentos estão saudáveis, o mercado acionário está com valuation conservador e a economia está fraca, não no buraco.

Porém, o medo é que isso não esteja ocorrendo, e sim, o mercado esteja tomando posição de premeditador dos riscos macroeconômicos. E, se isso estiver realmente acontecendo, vai parecer que George Soros, megainvestidor húngaro, estará certo ao afirmar que o mercado financeiro é um bom premeditador do futuro justamente por ser a causa dele.

 

 

 

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