do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) pode estar
chegando ao seu limite, segundo adverte reportagem publicada nesta
quarta-feira pelo diário econômico britânico "Financial Times".
"Mesmo com o Lulismo sendo enaltecido pela América Latina como uma
possível solução para os problemas centenários de desigualdade e
crescimento atrofiado no continente, há temores de que ele está
chegando ao seu limite no Brasil", afirma o jornal.
O 'lulismo' é definido pela reportagem como o modelo que combinou a
concessão de benefícios sociais, aumentos salariais generosos, fácil
acesso ao crédito e a manutenção de uma economia estável. "É um modelo
ao qual se atribui a retirada de 33 milhões da pobreza durante seus
oito anos de governo", diz a reportagem.
O jornal observa que, assim como a China e a Índia, o Brasil cresceu
na última década para se tornar uma importante força global, mas assim
como os dois países asiáticos, "também mostra sinais de
superaquecimento".
A reportagem lista sinais de alerta levantados por analistas, como o
risco de uma bolha de crédito, a baixa taxa de investimentos, o
fortalecimento do real ou a forte dependência da exportação de
commodities a cotações elevadas, mas comenta que há também "vozes mais
otimistas que rejeitam tais previsões".
Sucesso inquestionável
Para o jornal, "ninguém questiona o sucesso de Lula", que também
contou com a sorte durante seu governo para entregar o país crescendo
a 7,5% à sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff.
A reportagem comenta, porém, que "Lula também entregou a Dilma uma
economia fragilizada por desequilíbrios", como o crescimento acelerado
das importações, financiadas pelo fluxo de divisas gerado pela venda
de commodities ao exterior a preços inflados.
Outro problema apontado é o risco de inflação, controlado por meio do
aumento das taxas de juros, que por sua vez ajudam a pressionar pela
valorização da moeda brasileira, reduzindo a competitividade da
indústria nacional.
O jornal observa que "parte da inflação vem do crescimento rápido do
crédito, particularmente empréstimos ao consumidor" e comenta que há
análises divergentes sobre o risco do estouro de uma bolha de crédito
no Brasil.
Segundo a reportagem, economistas sugerem que para compensar a perda
de ímpeto do crescimento do crédito ao consumidor, o Brasil "deve
aumentar os investimentos em infraestrutura e em educação para aliviar
os gargalos em logística e aumentar a produtividade".
Apesar da previsão de investimentos da ordem de bilhões de dólares em
infraestrutura por meio do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento), o jornal diz que "os progressos até agora têm sido
lentos".
A reportagem comenta ainda que a melhor maneira de financiar os
investimentos é aumentando a eficiência do setor público, que se
expandiu durante os dois governos Lula para chegar a um tamanho
equivalente ao verificado nas economias avançadas, mas sem o mesmo
nível de produtividade.
A necessidade de reformas no sistema de previdência e nas leis
trabalhistas, porém, parecem pouco prováveis, segundo o jornal, por
causa das dificuldades políticas em controlar uma coalizão governista
com dez partidos.
'Milagre intacto'
Apesar de todos os sinais de alerta, o jornal observa que "o milagre
econômico brasileiro parece intacto por ora".
"Espera-se um crescimento a respeitáveis 4% neste ano, igualando a
média durante os governos de Lula", comenta o jornal.
Para a reportagem, com a perspectiva de receber a Copa do Mundo em
2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil "raramente teve uma chance
melhor de se livrar do clichê de ser 'o país do futuro que será sempre
o país do futuro'".
"Mas o governo de Dilma terá antes que mostrar como planeja aumentar o
investimento e ao mesmo tempo reduzir a dependência da economia dos
preços voláteis das commodities e de consumidores sobrecarregados",
diz.
Fonte: Uol
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