19/10/2011

Bancos discutem tipo de capitalização

 

Autor(es): Por Tracy Alloway | Financial Times

Valor Econômico - 19/10/2011

 

 

Os bancos da Europa parecem surpreendentemente em boa forma quando julgados apenas pelos níveis reguladores de capital. Uma medida da força financeira dessas instituições, a relação de capital "tier 1" (nível 1, o de melhor qualidade), está na média em mais de 9% de seus ativos, bem acima do mínimo exigido pela regulação bancária.

Mesmo assim, o medo do impacto de um calote soberano ou reestruturação de dívida vem afetando os bancos da região, que detêm cerca de € 700 bilhões em títulos de dívidas de nações mais fracas da zona do euro, como a Itália e a Espanha, segundo dado do Morgan Stanley.

As autoridades europeias parecem estar a ponto de fortalecer o sistema financeiro da região, com um plano de recapitalização que deverá ser anunciado em breve, possivelmente neste domingo.

Mas a discrepância entre a situação dos bancos europeus no momento e suas potenciais necessidades futuras desencadeou uma discussão sobre o real estado de saúde do sistema bancário da Europa e o que é preciso para melhorá-lo. As estimativas de necessidade de capital dos bancos variam de € 100 bilhões a € 300 bilhões.

"O fato disso ser uma recapitalização ou uma pré-capitalização é que vai ditar o tipo de capital necessário", afirma Simon Samuels do Barclays Capital. "Se for uma recapitalização, porque os bancos estão subcapitalizados no momento, será preciso capital ordinário. Se uma pré-capitalização, porque podem ficar subcapitalizados se a Itália e a Espanha se derem mal, será preciso algo mais."

Esse algo mais poderá vir na forma de "capital contingencial", ou dívida conversível em um título que absorva perdas assim que um gatilho for acionado.

Essa conversão poderá ocorrer se, por exemplo, se a relação de capital de um banco cair abaixo de um certo nível por causa de uma perda com bônus soberanos. Mesmo assim, os bancos poderão relutar em emitir capital contingencial, se não souberem com certeza se ele vai se enquadrar nas regras do Acordo da Basileia II que estão sendo implementadas.

Outras "soluções" contingenciais para o sistema financeiro da Europa estão centradas na noção das garantias, com o fundo de socorro da Europa potencialmente sendo alavancado para fornecer capital bancário novo.

Muitos banqueiros acreditam que as instituições financeiras terão que emitir capital ordinário, predominantemente via direitos de subscrição, dando preferência aos acionistas já existentes.

Outros especialistas consideram que os "exercícios de gerenciamento de obrigações" - em que os bancos tentam trocar suas dívidas existentes para liberar capital - também poderão voltar. Tais exercícios foram populares nos anos que se seguiram à crise financeira. Na segunda-feira, o banco francês BCPM anunciou uma recompra, a preços inferiores dos de mercado, de sua dívida híbrida.

As ações preferenciais, um tipo de dívida híbrida e capital que foi usado nos Estados Unidos para resgatar os bancos do país, também vêm sendo sugeridos como uma possibilidade, juntamente com os bônus conversíveis compulsórios.

Enquanto isso, alguns bancos ameaçam encolher seus balanços como meio para reforçar suas relações de capital sem a necessidade de levantar recursos novos.

As relações de capital dos bancos são calculadas dividindo-se seu capital disponível pelos ativos ponderados pelo risco. Os coeficientes de risco variam de ativo para ativo e ditam o volume de capital que o banco tem de manter contra eles.

Portanto, os bônus soberanos, tradicionalmente considerados seguros pelas autoridades reguladoras, exigem pouco capital em relação aos ativos "mais arriscados" como as dívidas corporativas.

As relações de capital dos bancos vêm sendo em parte sustentadas pela queda média dos coeficientes de risco dos bancos europeus - de mais de 50% no começo da década de 1990 para perto de 35%, hoje. Mas essas quedas vêm irritando alguns bancos dos Estados Unidos, que acusam seus concorrentes europeus de não revelar todos os seus ativos ponderados pelos riscos.

"Precisamos ter o tipo certo de capital", observa Simon Chester, gerente de portfólio da American Century Investments em Londres. "E precisamos nos concentrar mais na diferença entre os coeficientes de risco e a realidade dos ativos, especialmente onde os governos possuem um coeficiente de risco zero ou baixo."

Um dos motivos das autoridades reguladoras estarem querendo cobrir os bancos europeus agora, segundo Samuels, do Barclays, é que elas podem estar olhando para além dos coeficientes de risco, refletindo preocupações sobre como as relações de capital são calculadas. Em uma "alavancagem nominal", que desconsidera os coeficientes de risco, os bancos da região não parecem tão saudáveis, apresentando uma relação de capital de apenas 4%.

Uma grande preocupação é se os investidores privados terão disposição para recapitalizar os bancos da Europa. Entre 2007 e 2010, os bancos europeus captaram cerca de US$ 600 bilhões em capital, segundo o JP Morgan. "Se as autoridades reguladoras forçarem uma recapitalização aos bancos, eles terão que dizer aos mercados sob que base ela estará sendo feita", escreveram analistas da CreditSight em nota a clientes.

 

 

 

 

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