07/10/2011

BC indica que decisão sobre retirada do IOF sobre derivativos é "política"

Por Cristiano Romero | De Brasília

O Banco Central (BC) acredita que a aplicação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações com derivativos no mercado futuro é "pouco eficiente" e dá "incentivos errados" ao mercado. O governo estaria sensível ao problema, mas uma decisão sobre a retirada do imposto, que tem provocado escassez de dólares no mercado, é "política".

As avaliações foram feitas ontem pelo diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, durante reunião, em São Paulo, com oito representantes de uma corretora. Ele criticou, na conversa, o suposto atraso da política monetária na crise em 2008 - o BC só começou a reduzir os juros quatro meses depois de iniciada a turbulência.

O BC vem defendendo a retirada do IOF há semanas por avaliar que a medida tornou o mercado de câmbio "disfuncional" - o único agente vendedor de divisas é o próprio BC. Adotada pelo Ministério da Fazenda para desestimular a entrada de "hot money" (recursos para investimento de curto prazo) e, assim, secar uma das supostas fontes de apreciação do real frente ao dólar, a medida passou a pressionar, para cima, a cotação do dólar em setembro, num momento em que isso já vinha ocorrendo por causa do aumento da aversão a risco nos mercados internacionais.

No mês passado, a desvalorização do real frente à moeda americana chegou a bater em 18%. A opinião do diretor Aldo Mendes foi manifestada no momento em que surgem rumores, no mercado e em Brasília, de que o IOF pode ser retirado. O Ministério da Fazenda já deus sinais, no entanto, de que pretende aguardar a aprovação da medida provisória que instituiu a cobrança, antes de tomar uma decisão.

A ideia é ter o instrumento nas mãos para adotá-lo sempre que o real tiver valorização excessiva em relação ao dólar. O mecanismo foi criado em julho, quando o real estava em franca apreciação. Hoje, essa situação mudou e a medida se mostrou inoportuna, na avaliação do BC.

No encontro de ontem, o diretor Aldo Mendes falou também sobre economia global, as defesas do Brasil contra a crise e sobre a atividade econômica doméstica. Segundo relatos obtidos pelo Valor, ele disse que o Banco Central trabalha com um cenário negativo no mercado externo por pelo menos dois anos. Nesse cenário, haverá piora da situação de bancos europeus e americanos e possível quebra de bancos pequenos. Esse ambiente deve perdurar por dois anos e o mundo pode enfrentar uma recessão.

Durante a conversa, Mendes disse que todos os sinais ruins do mercado externo corroboram a visão pessimista que fez com que o BC cortasse a taxa básica de juros (Selic), de 12,5% para 12% ao ano, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 31 de agosto. O quadro não mudou de lá para cá.

O diretor do BC sustentou que o Brasil está bastante preparado para uma piora da crise e tem muitos instrumentos para utilizar em caso de estresse. Ele disse que, em 2008, a resposta do BC - em termos de redução de juros - veio atrasada e o 'timing' foi perdido. Desta vez, explicou, o BC se adiantou à crise, atuando de forma preventiva.

O diretor também afirmou, na conversa com a corretora, que o BC enxerga desaceleração da atividade econômica em todos os aspectos. A única exceção é o mercado de trabalho, que ainda não respondeu à queda da atividade. Mendes explicou, no entanto, que uma piora desse mercado já está contratada.

Mendes disse, ainda, que o comprometimento do governo com a realização de uma meta cheia de superávit primário das contas públicas, além do aval da presidente Dilma Rousseff nessa direção, foram "decisivos" para o corte da Selic na reunião de 31 de agosto.

 

 

 

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