07/10/2011

Dólar a R$ 1,80 ficou para trás e o sinal é de venda

Por Eduardo Campos

Enquanto a cena externa não azedar novamente, o incentivo continua sendo a venda de dólares. A linha de R$ 1,80 já ficou para trás e a próxima parada projetada está no R$ 1,750.

Outros fatores, além desse alívio na aversão global ao risco, explicam o movimento de venda da moeda americana.

O primeiro deles é a redução de posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

Por ora, acabou o incentivo à compra de moeda americana

Segundo o economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, como o estrangeiro já zerou sua posição vendida (aposta na alta do real) não há mais aquela forte pressão compradora que marcou setembro.

De fato, os estrangeiros estão praticamente "zerados" na BM&F. Na quarta-feira, a posição líquida comprada era de apenas US$ 506 milhões. Estoque que poder ter sido desmanchado já no pregão de ontem. Tal percepção poderá se confirmar nesta sexta-feira, com a atualização dos dados.

"O mercado perdeu muito espaço de compra. O estrangeiro já zerou a posição vendida e não tem incentivo para ficar comprado. Posição comprada tem custo elevado", explica o economista.

O sinal proveniente do câmbio externo também é de venda de moeda americana.

Ontem, o Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE) mostram disposição em liberar dinheiro para governo e bancos, aliviando a preocupação dos investidores.

Resta saber por quanto tempo esse bom humor dura. Hoje mesmo os dados de emprego nos Estados Unidos podem ameaçar essa recuperação no apetite por risco.

Avaliando as medidas anunciadas na Europa, Barbutti chama atenção para um fato interessante. Desde o fim do "Quantitative Easing 2" do Federal Reserve (Fed), banco central americano, o mercado se mostra descrente nas políticas de expansão de liquidez em função do seu limitado impacto sobre o lado real da economia.

O lógico aqui seria uma reação de dúvida e não de comemoração. Mas o fato é que quem "comemora" é o setor financeiro. Afinal de contas, o incentivo dado é todo voltado à tomada de risco e busca de rendimentos. Não importa se isso chega ao "main street" (até resto dos mortais) ou não.

No mercado local, outro vetor de queda do dólar são as expectativas de revisão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o aumento de posição vendida com derivativos cambiais.

Com a Medida Provisória (MP) aprovada na Câmara, os investidores estão no aguardo de algum aceno da Fazenda, já que a sinalização dada pelo governo, segundo o relator da medida, Reinhold Stephanes (PMDB-PR), era de que a alíquota de 1% poderia cair a zero.

A quinta-feira também contou com outra conversa sobre IOF, mas não no câmbio e sim aquele que incide sobre operações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Tomou vulto nas mesas a conversa de fim do "pedágio" de 2% que o estrangeiro tem de pagar para comprar ações. Por ora, nada oficial sobre o assunto.

Voltando a olhar para o câmbio, em três pregões o preço da moeda americana caiu 5,60%.

Apenas ontem, a queda foi de 2,51%, com o dólar comercial fechando a R$ 1,786 na venda, menor cotação desde 19 de novembro.

Pelo segundo dia seguido, o real foi a moeda que mais ganhou do dólar no mundo considerando uma cesta de divisas emergentes e desenvolvidas.

Surpreende, mas nem tanto. Até a semana passada, o real era a moeda que mais perdia para o dólar no mundo.

Avaliando agora o mercado de juros, o passeio de montanha-russa continua. Queda na segunda-feira, alta na terça, queda na quarta e nova alta na quinta-feira.

O fato que se extrai dessa volatilidade toda, segundo o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, é que ninguém sabe nada.

"Não tem fundamento econômico para cortar a Selic, mas o Banco Central vai cortar o juro. Então fica essa indefinição", explica.

Ainda de acordo com Serrano, ainda há dúvida sobre qual é essa "nova" função reação do BC, ferramenta que calibra juros e inflação.

Para um operador, o que ocorre é um "rouba monte". O vendido ganha em um dia e realiza lucro, depois é a vez do comprado fazer o mesmo.

No lado dos fundamentos, a melhora externa "joga contra" o cenário do BC, reduzindo o espaço para cortes mais acentuados da Selic.

Os contratos de juros futuros de curto prazo, que chegaram a mostrar redução de 0,80 ponto percentual no encontro de 19 de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) voltam a colocar na conta o passo de meio ponto percentual.

Hoje atenção voltadas ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro.

Eduardo Campos é repórter

E-mail eduardo.campos@valor.com.br

 

 

 

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