10/10/2011

O JP Morgan diz que agora é para valer

 

Após investidas que não foram adiante, o maior banco dos EUA coloca o Brasil como prioridade em seu plano de expansão global

 

DAVID FRIEDLANDER - O Estado de S.Paulo

"Preciso de gente com nariz enorme e orelha grande. Quero cão farejador, que traga negócios". Cláudio Berquó, presidente do banco americano JP Morgan no Brasil, falava do tipo de executivo que procura para tocar os futuros escritórios de Recife e do interior de São Paulo. Mas o perfil caçador de negócios, que ele gostaria de ver em toda sua equipe, é também uma marca desse gaúcho com 18 anos de casa, 14 deles em Nova York, repatriado no final de 2009 com a tarefa de consolidar o JP entre os maiores bancos estrangeiros de investimento do País.

Se o faro de Berquó e sua equipe vão mesmo levar o banco a um patamar que jamais teve no Brasil, ainda é preciso esperar para conferir. Até porque no passado o JP ensaiou um movimento parecido e desistiu no meio do caminho. Desta vez, no entanto, a operação brasileira conta com o apoio firme da matriz. Na semana passada, o time de Berquó recebeu de Nova York uma injeção de quase R$ 1 bilhão - o maior aporte já realizado pelo grupo americano no País.

Com esses recursos, o patrimônio líquido do JP passou de R$ 1,4 bilhão para R$ 2, 4 bilhões. "Queremos crescer em empréstimos, somos fortes em derivativos e no mercado de capitais. Tudo isso precisa dinheiro", diz Berquó. A meta do banco é montar uma carteira de cerca de 400 empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão. Hoje são perto de 120 clientes, mais que o dobro dos 40 a 50 de dois anos atrás.

A estrutura do banco já vem sendo ampliada desde a chegada de Berquó. Em menos de dois anos, ele dobrou o número de funcionários e continua contratando. Foi buscar profissionais tarimbados fora do País e diversificou as operações. Nesse período, o volume de ativos administrados pelo JP deu um salto triplo, passando de R$ 7,2 bilhões para R$ 22,5 bilhões.

"Estamos muito atentos ao que eles estão fazendo. São competidores fortes", afirma Bernardo Parnes, presidente do Deutsche Bank na América Latina e no Brasil. "Eles querem dar à operação brasileira uma posição mais compatível com o que o banco é no mundo. Estão fazendo um bom trabalho", diz Jair Ribeiro, sócio do banco Indusval, que foi executivo do JP.

Padrinho. Em cinco décadas de Brasil, o JP Morgan teve vários sócios, mudou o foco algumas vezes, cresceu para encolher novamente. A última vez foi no começo dos anos 2000. O banco estava crescendo e, assim como outras instituições estrangeiras fizeram na época, pisou no freio e encolheu depois da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

A nova fase da instituição no País tem um padrinho - o americano Jess Staley. Segundo homem na hierarquia do JP Morgan Chase no mundo, ele morou no Brasil, se casou com uma paulistana e mantém uma casa no bairro dos Jardins. Cerca de dois anos atrás, com os mercados ainda fumegando por causa da crise global, o banco começou a avaliar a expansão em países emergentes. Jess convenceu os colegas de que o Brasil tinha se transformado num dos melhores lugares do mundo para fazer o dinheiro render.

No ano passado, os negócios típicos de bancos de investimentos bateram recorde no País. Segundo a consultoria americana Dealogic, o volume de fusões e aquisições atingiu US$ 153 bilhões, bem acima dos quase US$ 60 bilhões do ano anterior. As emissões de ações somaram cerca de US$ 49 bilhões, quase o dobro do ano anterior. Embora o mercado esteja menos aquecido este ano, as perspectivas continuam animadoras.

Berquó já estava havia 14 anos nos Estados Unidos quando foi avisado por Jess que voltaria ao Brasil para cuidar da expansão. Foi escolhido em razão de sua rede de relacionamentos, construída principalmente nos vários anos de private banking (administração de fortunas), período em que diz ter conhecido muitos empresários e investidores.

Os amigos reconhecem nele um talento enorme para cultivar relacionamentos. Na volta ao País, uma das primeiras providências foi entrar em contato com antigos colegas do JP que agora ocupam posições de destaque em outras empresas.

No plano estrutural, o banco está em processo de diversificação. Forte em fusões e aquisições e private banking, a instituição montou a área de corporate (grandes empresas) e reabriu a de asset management (gestão de fundos). No ano passado, o JP comprou a Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que mantém administração independente.

Um dos pontos fortes da nova operação será o crédito. A carteira de empréstimos, incluindo o financiamento na área de comércio exterior, dobrou de R$ 409 milhões para R$ 953 milhões. O JP aposta nos empréstimos para fortalecer os laços com os clientes e assim amarrá-los em outras operações.

Para atingir suas metas, o JP precisará disputar espaço com concorrentes de peso. Os bancos de investimento mais fortes da praça, hoje, são os brasileiros Itaú BBA e BTG Pactual. São agressivos, têm dinheiro e contam com uma extensa rede de relacionamentos.

O BBI, do Bradesco, foi buscar reforços nos rivais e também quer ganhar espaço. Entre as instituições estrangeiras, o Credit Swisse tem tradição no mercado de capitais e o Citi está tentando remontar seu banco de investimento. Santander e Deutsche não são exatamente bancos de investimento, mas são fortes nas áreas em que o JP opera.

Professor de português. A ampliação do JP vem exigindo mais gente e espaço. Do fim de 2009 para cá, o número de funcionários aumentou de 339 para 750 e Berquó afirma que pretende chegar a cerca de 1.200 até 2014. Alguns dos novos quadros chegaram do exterior. Dezoito estrangeiros recrutados nos EUA, na Europa e na Ásia, e 20 brasileiros que moravam há anos no exterior foram convidados a voltar.

Para o pessoal que chegou de fora, o banco precisou contratar professores de português. E não foi apenas para ensinar novo idioma aos estrangeiros. "Tem brasileiro que estava há tanto tempo nos Estados Unidos que chegou com dificuldades no português, principalmente na hora de escrever", conta Berquó.

Nas contas do executivo, para acomodar a nova estrutura, o banco precisa ocupar de 8 mil a 10 mil metros quadrados além do que tem hoje. Atualmente, a instituição ocupa cerca de 7,5 mil metros quadrados, em cinco andares de um prédio da Brigadeiro Faria Lima, avenida de São Paulo que concentra grande números de bancos.

Nos últimos meses, foi preciso alugar quatro andares na vizinhança e a diretoria ainda está à procura de mais dois. "Está tão caro que chegamos a pensar em construir ou comprar um prédio próprio", diz Berquó.

A expansão passa também pela abertura de escritórios regionais. O banco já operava em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Há quatro meses abriu a sucursal de Curitiba e, no ano que vem, pretende montar escritórios no Recife e no interior de São Paulo - a cidade ainda não está definida.

"Só posso abrir os escritórios quando tiver a pessoa certa para tocar ", diz Berquó. "A função número um é ter relacionamento com o pessoal de alta renda, com os empresários e os investidores da região". É para isso que Berquó quer os cães farejadores, com suas orelhas grandes e narizes enormes.

 

 

 

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