25/05/2011

Educação ao investidor na moda abre espaço para indústria de cursos

SÃO PAULO – O Brasil passou por mudanças econômicas ao longo dos
últimos anos que resultaram em melhora nas condições de emprego e
renda, o que permitiu à população pensar mais sobre como gerir seu
dinheiro e até mesmo em investir. Essa transformação abriu portas para
a expansão de uma indústria: a de cursos sobre finanças pessoais e
investimentos, que tem feito novas empresas abrirem e as corretoras,
lucrarem um pouco mais.

Em Porto Alegre, os sócios da XP Investimentos perceberam há cerca de
oito anos a dificuldade das pessoas em terem conhecimento para operar
na bolsa de valores. Eles tinham de passar noções básicas do mercado a
cada novo cliente e o faziam por meio de reuniões individuais, que
duravam muito tempo. Foi então que tiveram a ideia de criar, em 2003,
a XP Educação, dois anos após a abertura da corretora, para poder
passar conhecimento aos investidores.

O resultado é que hoje a corretora fatura cerca de meio milhão de
reais por mês com esta área. "Na verdade, a estratégia de cursos é a
captação de clientes e fidelização, o foco não é com a receita que
venha dessa área educacional. É captar alunos, para que se tornem
clientes, e capacitar os clientes que já são da casa, com cursos
moderados e atualizados", informou o diretor da XP Educação, Leandro
Moreira. A corretora conta com dez cursos e 25 palestras gratuitas.

Na Futura Investimentos, corretora atuante no Nordeste, o investidor
começa com cursos sobre introdução ao mercado financeiro e, depois
disso, sobre como investir, entendendo as diferentes estratégias.
"Além disso, estamos lançando cursos profissionalizantes, para quem
quer começar a trabalhar na área de mercado financeiro", disse o
gerente de Educação da corretora, Eric Lassmann. Ele afirmou ainda que
a empresa dá cursos para uma média de 400 pessoas em todos os
escritórios, que estão em cidades como Aracaju, Recife, Salvador, João
Pessoa, Fortaleza e Maceió, mas não informou qual o faturamento da
corretora com a área educacional.

Empresas de cursos e palestras
Não são somente as corretoras que estão atentas a este mercado de
cursos. Existem empresários formando negócios para poder aproveitar
esta onda. A Pyxis Academia de Investimentos é um deles. As sócias
Anceli Marcos e Elaine Mello eram investidoras que sentiam uma lacuna
no mercado de educação para investidores, foi então que decidiram
oferecer cursos e palestras.

"Entramos no mercado sem conhecimento nenhum. Vimos de tudo no
mercado, quem ensina de forma certa e de forma errada. Atuamos há dois
anos nesta parte educacional e, antes, éramos investidoras comuns. A
gente se especializou e damos hoje orientações", disse ela, sobre a
empresa voltada para educação financeira e treinamento, que tem
parceria com corretoras, faculdades e empresas. Do faturamento da
Pyxis, 60% estão relacionados com os cursos – que podem ter um valor
de R$ 120 a R$ 1 mil - e palestras – que têm preços entre R$ 500 e R$
2 mil.

A Calil & Calil Centro de Estudos e Formação de Patrimônio também atua
nesta área. Segundo Mauro Calil, a empresa consegue atingir cerca de
10 mil pessoas por ano com suas atividades, sendo que muitas são
feitas através de corretoras e instituições financeiras. A média de
custo é de R$ 350 entre cursos que vão de três a seis horas. A receita
da empresa com o segmento fica em torno de R$ 350 mil por ano.

"A nossa principal fonte de renda é que somos contratados como
instrumento de educação financeira. Somos contratados para dar o
curso, isso é mais comum, e o contratante pode ou não cobrar de seu
aluno, depende do interesse comercial dele e, do outro lado, nós
também fazemos cursos que cobramos do aluno. Os nossos alunos pagam no
mínimo R$ 200, podendo pagar até R$ 600".

O futuro da indústria
Segundo contou Lassmann, da Futura, o mercado de cursos registrou uma
estagnada no último ano, pressionando os preços para baixo, fazendo
com que as corretoras não foquem mais na fonte de receita que vem
deste serviço, mas no benefício da captação do cliente. O problema é
que, com o preço baixo, pode haver queda de qualidade. "Não acontece
em todas as empresas, mas a maioria baixa a qualidade para manter o
mesmo número de pessoas e ganhar clientes. Só que tem empresas que
ainda mantêm a estratégia de qualidade dos cursos".

Já Anceli, da Pyxis, acredita que este mercado está em plena expansão,
porém somente os profissionais que fazem um trabalho sério é que vão
se manter vivos. "O Brasil tem um mercado extenso a ser explorado,
principalmente em bolsa de valores e mercado de capitais. E também na
educação financeira nas escolas. Existem muitas pessoas no mercado que
não são sérias. Se fizer curso, você vai ver muita gente que coloca em
risco o dinheiro do outro, que apresenta técnicas que, se olhar o
histórico, não dão certo", afirmou.

Calil, por sua vez, acredita que o Brasil está no "pré-primário" em
termos de educação financeira e que as pessoas tendem a buscar isso,
já que muitos não contam com o assunto durante a formação. Mas, em
meio a este crescimento, o investidor deve saber ponderar o que é um
bom curso de um enviesado. "Se uma corretora chama para um curso
gratuito, ou um banco, obviamente quer que seja cliente. Ser ou não
cliente, fazer ou não a operação, comprar ou não o produto, a decisão
final é sua. As pessoas precisam ter isso em mente. Nem todos têm".

Moreira, da XP Educação, acredita que a educação financeira ainda é um
assunto pouco abordado no Brasil. "Lógico que nos últimos anos passou
a ser muito mais abordado. Na XP, a quantidade de alunos cresceu
vertiginosamente, mas eu não levo para a banalização, porque é um
assunto muito importante, que as crianças não aprendem nem na escola
nem com os pais".

Fonte: InfoMoney

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