11/10/2011

Analistas veem pressão do desaquecimento

Além da certeza de uma piora no resultado financeiro das companhias com dívida atrelada ao dólar, a maratona de divulgação de balanços do terceiro trimestre começa hoje sob expectativa de que o desaquecimento global da economia tenha comprometido o desempenho operacional das empresas.

Tudo converge para que esse cenário se traduza em receitas menos fartas, custos em alta e, na última linha, lucros mais modestos.

Para o estrategista de varejo da corretora Ágora, José Francisco Cataldo, a tendência de desaceleração verificada nos balanços do segundo trimestre deve, novamente, dar o ar da sua graça.

Para ele, o fenômeno seguirá em linha com desaquecimento da economia interna já apresentado, por exemplo, pelo recuo na produção industrial do IBGE - de 0,2% em agosto perante julho, na série com ajuste sazonal.

 

O melhor balizador, segundo Cataldo, é o próprio PIB, cujo crescimento desacelera desde o primeiro trimestre do ano. "Para fechar o ano em alta de 3,5%, como esperamos, o indicador deve continuar com esse comportamento", diz Cataldo.

A equipe de pesquisa da Planner acredita que a pressão dos produtos estrangeiros comprometeu, assim como nos outros dois trimestres do ano, o faturamento de companhias mais sensíveis a esse tipo de concorrência e daquelas cujas receitas estão fortemente atreladas à exportação, como as siderúrgicas.

A Planner calcula, de maneira geral, mais reflexos negativos do que positivos em relação à questão cambial. A equipe de pesquisa aponta que não deu tempo de sentir tanto os impactos na receita atrelada à moeda estrangeira, já que a valorização do dólar só veio mesmo no fim do trimestre.

Mas os índices de endividamento e as despesas financeiras não escaparam, já que são balizadas pela cotação da moeda ao fim do trimestre. No último dia de setembro, o dólar bateu R$ 1,88, em alta acumulada de 20% no trimestre. A cotação não se sustentou e ontem a moeda fechou cotada a R$ 1,76, em queda de 6,3% em relação a setembro.

A Localiza, que inaugura hoje a série de divulgação de resultados, deverá apresentar lucro líquido no terceiro trimestre de R$ 70,9 milhões, segundo expectativa dos analistas do Bank of America Merrill Lynch. Caso se confirme, o número será 5% menor do que o alcançado no mesmo período do ano passado, reflexo direto de uma piora no resultado financeiro. Antes de juros, impostos, amortização e depreciação, o lucro deve aumentar 14%, para R$ 204 milhões, segundo prévia de resultado do banco.

Mas o efeito não se restringe à Localiza. De acordo com Mônica Araújo, estrategista da corretora Ativa, o setor de papel e celulose é um dos que mais devem sentir os impactos do efeito cambial sobre a dívida.

Ainda que a desvalorização do real possa significar uma maior rentabilidade das exportações no médio prazo, o dólar mais caro atingirá de imediato os passivos em moeda estrangeira, prejudicando a última linha do balanço. Do lado operacional, a desaceleração da demanda doméstica por papel, associada à queda no preço da celulose no mercado internacional, não deve dar folga às margens, acrescenta.

Já as empresas do setor de bens de capital, com níveis de endividamento em moeda estrangeira menos pressionados, devem sentir os impactos do câmbio pelo lado da concorrência. Nesse caso, o ganho de participação dos produtos importados deve reduzir o impacto da demanda doméstica ainda aquecida sobre as receitas. "Apesar da valorização do dólar no fim do trimestre, o real ainda continua em patamares historicamente elevados", lembra a estrategista.

Pelo lado das exportações, Mônica ressalta que a valorização do dólar não deve ter forte impacto já no terceiro trimestre. "Esse efeito pode ser sentido nos últimos meses do ano, se a tendência de desvalorização do real se mantiver", afirma.

Em relação ao desaquecimento da demanda, a estrategista afirma que o cenário não é de ruptura, de forma que as empresas ligadas à demanda interna devem seguir apresentando resultados expressivos.

Nesse sentido, a aposta da corretora é que os setores de telecomunicações, alimentos, consumo, varejo e shopping centers continuem apresentando resultados expressivos, apesar do incremento nos custos com serviços e mão de obra.

 

 

 

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