Celso Ming
As grandes crises econômicas nascem de um jeito e passam por radicais processos de metamorfose – às vezes lentos, às vezes muito rápidos.
O colapso da área do euro, fundamentalmente fiscal (megaendividamento dos Estados), em poucas semanas tomou forma de grave crise patrimonial dos bancos credores. Sem intervenção rápida, pode sair do controle.
Na segunda-feira da semana passada, os mais importantes chefes de Estado do bloco, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, concluíram reunião a dois, em Paris, com palavras animadoras. Da cúpula que se realizaria dentro de dias, em Cannes, também na França, sairiam decisões fortes, abrangentes o suficiente para afastar de uma vez esta crise – garantiram ambos.
Para melhorar a preparação do pacote, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, tomou decisão inédita: adiou por sete dias o compromisso, que foi agendado para os dias 22 e 23. A expectativa de solução próxima foi comemorada. Mas, nesta segunda-feira, o porta-voz de Merkel despejou um balde de água fria nas esperanças globais. Avisou para não se aguardar soluções definitivas desse encontro.
Agora, a questão de fundo é a crise bancária. A nova proposta é exigir que os bancos aceitem um calote da Grécia ainda maior do que os 21% previamente acordados (provavelmente de 50%) e, ao mesmo tempo, enfrentem um enorme esforço de recapitalização.
Os bancos estão incapacitados de puxar mais capital do mercado. Ninguém quer subscrever ações novas de instituições financeiras cuja situação real se desconhece. Portanto, os Estados serão novamente chamados a prover aumento de capital. É uma situação carregada com alta dose de maluquice. O excessivo endividamento rebaixou no mercado os títulos de dívida dos Estados. Os bancos que detêm esses títulos desvalorizados estão ameaçados de crise sistêmica. E, para salvá-los, os Estados são chamados a recapitalizá-los com mais endividamento.
Sarkozy parece entender o que está em jogo. Sabe que, se o Tesouro for empurrado a injetar capital em seus bancos, o endividamento da França crescerá o bastante para que seus títulos sejam rebaixados (veja ainda o Confira).
Por se recusar a usar dinheiro dos contribuintes nessa parada em plena campanha eleitoral, defende que a capitalização seja feita pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) – que, no entanto, terá (ainda não tem) apenas 440 bilhões de euros. E esses valores se destinam, em primeiro lugar, a prestar socorro a Estados com dificuldade de liquidez, não a dar cobertura aos bancos.
Por isso, Sarkozy prefere a armação de uma engenharia financeira em que o montante do EFSF entre como garantia de empréstimos. O problema, outra vez, consiste em saber de onde sairão os recursos.
Nessas horas, as esperanças se voltam para o Banco Central Europeu que, por sua vez, se nega a atropelar os tratados e a emitir moeda para salvar os bancos. E, nisso, conta com o veto da Alemanha.
Por trás de tudo está a falta de liderança. A inércia, essa marcha de caranguejos (um passo para a frente, dois para trás, um de lado e sabe-se lá qual será o próximo) e a falta de obstinação e de sentido de urgência sugerem que os representantes da zona do euro estão brincando com fogo ou, então, preparando a tempestade perfeita. Situação única que, afinal, exigirá a cirurgia que vem sendo adiada.
O gráfico mostra o alastramento do pessimismo depois de a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, avisar que a reunião de cúpula do próximo fim de semana deixará muito problema sem solução.
Sabedor dos riscos. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, foi um dos mais duros críticos das agências de classificação de risco, por terem rebaixado dívidas de países do bloco do euro. Agora, sem questionar a função dessas agências, mostra temer pela desclassificação da dívida da França e pelo que possa acontecer depois.
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