10/10/2011

Em meio à crise, investidores batem em retirada de fundos de ações

 

Por Angelo Pavini | De São Paulo

O receio com a piora da situação de solvência dos países da periferia da Europa - em especial da Grécia - e seu impacto sobre o sistema financeiro da região mantiveram a aversão ao risco elevada entre os investidores, provocando resgates de recursos nos fundos de ações ao redor do mundo.

Segundo dados da consultoria americana EPRF Global, que acompanha a movimentação das carteiras internacionais, os fundos de ações como um todo registraram resgates líquidos de US$ 11,57 bilhões na semana encerrada dia 5 de outubro, a terceira pior semana do ano.

Nos fundos de ações globais dedicados a mercados emergentes - que encerraram setembro com o pior terceiro trimestre em dois anos -, outubro começou mal, com resgates líquidos (aplicações menos saques) de US$ 3,31 bilhões, completando dez semanas seguidas de saídas, e uma perda total de US$ 24 bilhões no período. No ano, a saída é de US$ 29 bilhões.

Todos os quatro principais grupos de carteiras de ações dedicadas a emergentes apresentaram resgate de recursos. O destaque negativo ficou por conta dos fundos globais (GEM) - carteiras que aplicam em todos os países emergentes - e que fecharam a semana com o maior valor de saídas em dólares. Já os portfólios de ações dedicados à América Latina registraram as maiores perdas em relação ao patrimônio total administrado.

As preocupações com relação à zona do euro, em especial com relação à Grécia, levaram os fundos de ações dedicados aos países do Leste Europeu e África a fechar a 22ª semana consecutiva com resgates - o pior período desde as 25 semanas encerradas no primeiro trimestre de 2009, logo após a grande crise internacional de 2008. Os fundos voltados ao mercado acionário da Rússia tiveram a 13ª semana de resgates, de US$ 73 milhões, os da África, a 17ª. Já as carteiras de Leste Europeu registraram a 22ª semana de saques.

Os resgates apresentados entre as carteiras dedicadas à Rússia ajudaram a levar os fundos dedicados aos chamados BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China) a fechar a semana no vermelho pela 25ª semana consecutiva. Já os fundos de ações dedicados ao Brasil tiveram resgates de US$ 174 milhões na semana encerrada no dia 5, ampliando as saídas líquidas no ano para US$ 1,133 bilhão. Os fundos dedicados à China, por sua vez, tiveram resgates líquidos de US$ 167 milhões e de Índia, US$ 129 milhões na semana.

Os números da EPFR dos fundos internacionais confirmam os dados de investimento estrangeiro da Bovespa. No mês, até dia 5, o saldo de compras de ações no mercado local está negativo em R$ 93,671 milhões. No acumulado do ano, o saldo está negativo em R$ 453,797 milhões. As vendas das carteiras no exterior, via mercados de American Depositary Receipts (ADRs, recibos de ações negociados em Nova York), ajudam a derrubar os preços do mercado local pelo efeito da arbitragem das cotações. No ano, até sexta-feira. o Índice Bovespa acumula desvalorização de 26%.

Já os fundos de América Latina, incluindo os dedicados a países específicos e os regionais, acumularam perda de US$ 372 milhões na semana encerrada dia 5. No acumulado do ano, esses portfólios registram perdas de US$ 5,969 bilhões. Um valor expressivo, mas equivalente à metade do que perdem os dedicados a ações da Ásia, excluindo Japão, que têm resgates de US$ 12,980 bilhões no ano.

Na Europa, enquanto as carteiras dedicadas exclusivamente à Alemanha acumulam aplicações de US$ 17 bilhões no ano, os portfólios voltados para as ações da região em geral perdem US$ 16,630 bilhões. Na semana passada, porém, o movimento se inverteu e as carteiras alemãs perderam depósitos enquanto as regionais de Europa captaram. "Há algumas barganhas para os investidores que acreditam que uma séria recapitalização nos bancos da região é iminente", afirma Cameron Brandt, diretora da EPFR em relatório a clientes.

Na avaliação da EPRF, a questão-chave para muitos investidores globais neste início de outubro foi se as autoridades da zona do euro estão finalmente tomando controle da crise da dívida da região antes que ela mine o crescimento mundial. E a conclusão da maioria teria sido que não, o que levou muitos deles a tirarem o dinheiro da mesa. Com isso, os resgates dos fundos de ações de mercados desenvolvidos se aceleraram pela terceira semana consecutiva, com os Estados Unidos registrando os mais pesados saques em dólar e em porcentagem dos ativos das carteiras - foram US$ 6,2 bilhões na semana.

 

 

 

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