05/10/2011

Entenda como a quebra do Dexia pode provocar um efeito dominó na Europa

Forte relação entre os bancos em atividades comerciais, de investimentos e no mercado interbancário faz com que um dependa do outro para honrar suas dívidas

Olívia Alonso, iG São Paulo

As especulações de que o banco franco-belga Dexia estaria próximo de falir intensificaram preocupações com o sistema bancário europeu. Apesar de o Dexia ser um banco menor e pouco conhecido, os temores se justificam, segundo analistas. Como existe uma forte interligação entre as instituições bancárias, a quebra de uma delas poderia gerar um efeito em cadeia gigantesco, afirmam.

“As instituições bancárias estão muito ligadas umas às outras,” diz Rodolfo Amstalden, analista de bancos da Empiricus Research. Além de atuarem no mercado interbancário - em que um banco empresta recursos a outro - os bancos europeus, em geral, têm atividades comerciais e de investimentos juntos, segundo o analista. Se um não puder honrar sua parte, acaba prejudicando o outro.

 

Foto: Getty Images

Forte ligação entre bancos pode gerar efeito dominó de calotes quando um país ou uma instituição quebrar, dizem analistas

É possível, por exemplo, que um banco tome capital emprestado de outro e use esse dinheiro para comprar um título de um terceiro, acrescenta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Assim, se uma das instituições envolvidas quebrar, deixará de honrar suas obrigações e também impedirá as demais de cumprirem as suas.

Essa forte ligação entre os bancos acontece em todo o mundo. Mas, no caso europeu, há algumas agravantes.

A primeira delas é o fato de alguns bancos já estarem frágeis por causa da crise  internacional que vem se arrastando desde 2008. “Diferentemente dos brasileiros, os bancos europeus não estão capitalizados. Os italianos, por exemplo, têm um nível de alavancagem alto, o que significa que têm poucas reservas e muito capital emprestado ao mercado,” diz Amstalden.

O segundo fator complicador é a grande exposição das instituições bancárias aos ativos da Grécia e de outros países com grande risco grande de calote. Se o país quebrar, não pagará a dívida que possui com um banco.

“Assim, dada a forte interligação entre as instituições financeiras e a alta exposição dos bancos aos países com risco de default, um calote poderia contaminar todo o sistema bancário europeu,” diz Reginaldo Nogueira, professor de economia internacional do Ibmec.

O efeito de um calote afetaria rapidamente aos cidadãos, segundo Gonçalves, uma vez que eles também possuem aplicações bancárias. “Imagine que alguém possui um CDB [certificado de depósito bancário] de um banco, que, por sua vez, usou os recursos depositados pelo cliente para comprar títulos de um país, por exemplo. Se o governo não pagar, o banco também não vai entregar ao cliente os ganhos que ele teria. Assim, este cidadão não vai pagar, por exemplo, a prestação do carro que está comprando,” diz o economista.

Grécia

Na opinião dos analistas, o calote grego já é certo. A única saída, diz o professor do Ibmec, seria o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia (UE) aceitarem pagar as dívidas gregas durante um período grande, de pelo menos cinco anos. “Enquanto isso, o país poderia tentar ajustar suas contas. Mas o mercado está ficando cada vez mais descrente de que eles [FMI e UE] continuariam pagando por tanto tempo,” afirma.

“A Grécia não consegue pagar suas dívidas a partir de novembro e não conseguirá também nos próximos anos,” diz Nogueira. “Se não quebrar neste mês, o país quebra no próximo, ou no outro, ou em janeiro,” acrescenta Gonçalves.

Apesar de a dívida grega não ser suficiente, sozinha, para quebrar toda a Europa, é capaz de causar um efeito em cadeia, da mesma forma que um banco pequeno pode gerar um efeito dominó no sistema bancário.

Bancos à venda

Na opinião dos Gonçalves, do Banco Fator, as instituições financeiras europeias já estão negociando entre si como vão sair da situação de quebra em cadeia que será desencadeada pela Grécia ou pelo primeiro banco da região que declare seu default.

“Os bancos já estão se preparando. Estão negociando quem vai comprar quem e de que maneira o Banco Central Europeu ajudará um deles a adquirir outro. Será parecido com o que aconteceu após o estouro da crise de 2008. Mas, desta vez, as quebras não são uma surpresa como foram na época,” afirma.

O economista também acredita que, quando o sistema bancário estiver prestes a ruir, o Banco Central Europeu vai emitir e injetar mais euros no mercado, com o intuito de movimentar a economia. “Será um ato de desespero, quando todos estiverem em pânico, e que poderá provocar um movimento ‘inflacionário’. Mas será preferível um cenário de inflação a um colapso da economia,” diz.

 

 

 

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