06/10/2011

Evitar 'novo Lehman Brothers' não soluciona drama grego

Weruska Goeking   (wgoeking@brasileconomico.com.br)

 

 

Para consultoria, recapitalização dos bancos europeus evita falências, mas ainda faltam solidariedade e criatividade para resgatar Grécia.

A consultoria alemã Roland Berger Strategy Consultants é taxativa: o otimismo dos mercados deve durar pouco.

De acordo com António Farinha, responsável pela Roland Berger Strategy Consultants no Brasil, o anúncio da chanceler alemã, Angela Merkel, de que acha "justa" a recapitalização dos bancos europeus, evitará quebras a exemplo da ocorrida com a americana Lehman Brothers em 2008.

Contudo, tal alívio não deve ter impacto na situação econômica grega. 

Embora não solucione o problema, ao menos tende a evitar que a crise na Zona do Euro se agrave, tendo em vista que alguns bancos já dão sinais dos impactos negativos provocados pelas dívidas soberanas.

O Dexia, de origem franco-belga, por exemplo, contará com a ajuda dos países controladores para garantir os depósitos e empréstimos do banco até sua liquidação. 

"Se a Grécia não paga a dívida, os bancos sofrem. E nós não acreditamos que os bancos vão quebrar, os estados irão pagar. Claro que a Merkel não vai deixar que os bancos quebrem", afirma Farinha.

Otimismo passageiro

Farinha acredita que o otimismo apresentado no último pregão pelas bolsas europeias, após o pronunciamento de Merkel, não deve perdurar.

"Os mercados ficam mais tranquilos porque os bancos não vão quebrar, então 'meu dinheiro está garantido'", observa.

Entretanto, as soluções "insuficientes e tardias" demonstram a "falta de vontade de uma solução completa", de acordo com a consultoria, o que deve ser logo contabilizado novamente pelos mercados, que voltarão a desaquecer.

"Vamos continuar a ter instabilidade", opina Farinha.

Plano de recuperação da Grécia

Para o economista, faltam solidariedade e criatividade aos governos da Zona do Euro e, sem isso, não é possível tirar a Grécia do caminho da falência.

Ele concorda que os planos de austeridade são necessários, mas a inexistência desses outros elementos deve prejudicar o caminho da Grécia com as próprias pernas no futuro. 

"Sem criatividade não vamos nos ver livres do endividamento. Vemos que não há política que promova o crescimento e, sem isso, não vamos encontrar uma posição sustentável. Os países ricos não vão pagar para sempre as contas dos países menores", opina Farinha.

Farinha acredita que uma proposta criativa e apropriada para quebrar o "círculo vicioso" em que se encontra a Grécia começa com acadêmicos e empresários.

O que a Roland Berger Strategy Consultants propõe é a privatização de ativos gregos compostos por rodovias, aeroportos, por um "valor justo" de € 125 bilhões, pagos pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. "Uma espécie de holding", explica Farinha.

Com o montante, segundo a consultoria, o nível de endividamento grego passaria de 145% do Produto Interno Bruto (PIB) para 88%. "Isso reduz a exposição do banco central e dos contribuintes europeus à dívida grega", explica.

A consultoria propõe ainda um aporte adicional de € 20 bilhões para a reestruturação desses ativos, também advindos do fundo de estabilidade.

"Hoje esses valores já estão em grande parte investidos na Grécia, mas seria utilizado para reduzir a dívida com a Europa", diz.

A proposta da Roland Berger é vender gradualmente, dentro de três a quatro anos, os ativos que foram privatizados (estradas, rodovias, aeroportos e etc) por até € 50 bilhões a mais.

"Ao fazer essa reestruturação, vamos permitir que a Grécia deixe de encolher a economia e passe a crescer. Crescendo, irá gerar mais impostos que poderão ser utilizados, em parte, para abater a dívida total", acrescenta Farinha.

De acordo com estudo feito pela consultoria, mais de 50% dos juros pagos hoje por cidadãos gregos poderiam ser abatidos e a dívida seria reduzida anualmente em 1% até alcançar o limite de 60% do PIB instituído pela União Europeia aos seus países-membros até 2025. 

"Acredito que é preciso solidariedade para fazer isso, mas seria vantagem para todos os lados", conclui Farinha.

A consultoria apresentou a proposta detalhada para diversos governos europeus e afirma que o documento gerou "grande repercussão".

"Estamos discutindo a proposta  com autoridades na Europa", afirma Farinha, que diz não revelar os nomes dos representantes porque nenhuma decisão ainda foi tomada.

 

 

 

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