Brasil S.A - Antônio Machado |
Correio Braziliense - 07/10/2011 |
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Com Jobs se vai o último gênio da geração rebelde dos anos 1970 - raiz da internet libertária
Falou-se muito de sua enorme visão para captar antes de qualquer outro o que nem nós podíamos suspeitar de que não conseguiríamos viver sem o que ele nos apresentava — e rapidamente copiado pela concorrência: do celular sem graça, transformado num computador miniaturizado, o iPhone, ao tocador portátil de música, o iPod, o pós-Walkman, que parecia o fim de linha desse setor da eletrônica. Tudo o que ele concebeu para a sua Apple já estava inventado. Não era no desenvolvimento tecnológico que estava a sua veia criativa, nem se preparara para isso. Jobs nunca passou do colegial. O que ele tinha de melhor era a sua humanidade, a fonte de sua enorme e comprovada capacidade para pegar o que já existia, como o telefone celular, e transformá-lo num aparelho imprescindível. Mas também fácil de ser usado, uma das marcas registradas de tudo o que criou para a Apple, além da originalidade e beleza do design do artefato, outra de suas muitas obsessões. A sua genialidade era essencialmente humana, o que talvez elucide a duradoura fidelidade dos consumidores da Apple. Um público apaixonado, com perfil mais para o de militante de uma causa que para o do comprador casual. Algo mais intrínseco à marca da maçã, enigmático, é que leva — ou levava, dependendo de como os sucessores conduzirão o legado — uma multidão a varar madrugadas, fazendo fila onde há uma loja da rede Apple espalhada pelo mundo, inclusive no Brasil, apenas para ser um dos primeiros a comprar um lançamento, às vezes só o upgrade de uma versão antiga. E pagando mais caro que produtos similares. Ele não conseguiu esse fervor pelas coisas da Apple apenas com os recursos do marketing, que sempre preferiu minimalista. A sua arte parece vir da época da contracultura, dos anos 1960 e 1970, tempos de questionamento de valores, quebra de convenções e enfrentamento da ordem vigente. E também de solidariedade coletiva, ode ao amor, a explicação tantas vezes dada por Jobs ao ser instado a revelar o segredo de seu sucesso. Algo como imaginar o que o outro deseja — ainda que não soubesse o que seria —, e pensar como surpreendê-lo. Desconfiado dos MBAs Jobs acabou demitido em 1985, contrariado com os limites impostos pela administração. Saiu para criar o que sugestivamente batizou de NeXT (próximo, em inglês), como a indicar que daria a volta por cima, e depois a Pixar, o vitorioso estúdio de animação gráfica. Maturidade do hippie O jovem transgressor, mais maduro, conciliando o viés inovador à busca do resultado, e sem ter perdido seu maior talento, o anseio de surpreender, fez o que parecia impossível: multiplicou por 113 o valor de mercado da Apple, hoje de US$ 340 bilhões. É o 2° maior do mundo, abaixo do da petroleira Exxon, e em alguns dias o 1°. Voz que ninguém calou Os eflúvios desse ambiente em San Francisco, onde foi criado por pais adotivos, geraram outros visionários de seu tempo. Jobs foi o maior deles. Em discurso a alunos da Universidade de Stanford, bem perto dali, em 2005, ensinou: "Não se apeguem a dogmas. Não deixem que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz". Síndrome de Peter Pan |
07/10/2011
Fim de um tempo
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