11/10/2011

Otimismo reina com menor risco bancário

Por Fernando Travaglini

A cena externa continua ditando o ritmo do movimento do dólar no Brasil e explica o recente período de apreciação do real. Desde o dia 3, a moeda americana perdeu 6,77% ante a brasileira, em cinco pregões consecutivos de queda, devolvendo parte da alta marcada no mês passado.

Sem espaço para que os agentes montem estratégias especulativas, desde que o governo brasileiro adotou o IOF de 1% sobre a variação das posições vendidas, o dólar oscila apenas ao sabor das notícias externas e do humor dos investidores internacionais. E ontem o dia foi bastante positivo lá fora, com a moeda americana perdendo valor em relação a divisas ao redor do mundo. O foco esteve nas declarações da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de que farão o possível para estabilizar o setor bancário europeu.

A calmaria chegou ao Brasil e foi acentuada pelo feriado americano do "Columbus Day", que reduziu o giro do mercado de câmbio a um terço do normal. Sem grandes negócios, o dólar passou o dia todo no terreno negativo. No fim do pregão, a moeda americana chegou a beirar a estabilidade, mas voltou a cair nos minutos finais de negociação, fechando em queda de 0,39%, cotada a R$ 1,764.

Mercado ainda deve piorar com dívidas soberanas

Maurício Molan, economista-chefe do Santander, lembra que dos quatro componentes que mexem com a cotação do real, apenas dois tiveram influência nesses últimos dias: o valor do dólar no mercado internacional, que caiu consistentemente, e a aversão ao risco, que teve forte melhora. Os outros dois fatores - preço das commodities e diferencial de juros - não se alteraram de forma expressiva.

Um novo elemento deve entrar no jogo a partir de amanhã: a reunião do Copom do Banco Central (BC) que definirá a Selic, em 19 de outubro. A expectativa é de que os investidores voltem a reforçar suas posições especulativas para o resultado do encontro. Os contratos de derivativos de juros negociados na BM&F mostram maior chance de um novo corte de 0,5 ponto percentual, mas um pequeno prêmio já está incorporado nos negócios, levando em conta reduções maiores da taxa.

Caso o BC volte a surpreender, como fez no fim de agosto, ao iniciar o atual ciclo de baixa dos juros com um corte de 0,5 ponto, a reação pode ser uma nova corrida para o dólar. Ao mesmo tempo, o mercado ainda repercute a questão do IOF, mantendo a esperança de que o governo possa zerar a alíquota depois da aprovação da Lei no Congresso Nacional. Acredita-se até em um movimento de "teste" contra o BC, para avaliar se o governo está mesmo disposto a bancar o imposto, segundo operadores ouvidos.

Mas está fresco na memória dos agentes que o BC interveio no mercado nas vezes em que a cotação superou R$ 1,9. "É um mercado que já conta com certa liquidez e com a percepção de que o espaço de alta é limitado pela autoridade monetária", diz Molan.

Se os últimos dias foram de alívio, ninguém acredita, no entanto, que a crise chegou a fim. Os investidores estavam apostando que havia uma probabilidade muito grande de uma crise bancária na Europa. Com a disposição de Alemanha e França de recapitalizar o sistema europeu, essa chance foi reduzida consideravelmente, por isso houve uma correção nos mercados ontem. "As consequências de uma crise bancária são tão drásticas, que uma redução das probabilidades, por menor que seja, mexe com os mercados", avalia o economista do Santander.

Os mercados internacionais estava muito pessimistas com o futuro e operavam muito "vendidos". Com a sequência recente de boas notícias, os compradores voltaram, puxando bolsas internacionais e derrubando o dólar ao redor do mundo. Esse período de bonança pode ser manter no curtíssimo prazo, mas está longe de significar uma solução para os problemas.

Se os impasses bancários podem estar perto de um final menos traumático, as incertezas que rondam as dívidas soberanas ainda permanecem. Não há nenhum detalhe de como será feito o resgate grego e a situação só será de fato resolvida quanto for feita a restruturação da dívida da Grécia, para que se conheça o tamanho do buraco. Além disso, fica sempre dúvida se Portugal, Irlanda e os outros países vão pelo mesmo caminho.

A tendência, portanto, ainda é de deterioração das condições na Europa. Segundo Molan, parece haver um movimento para gerar uma solução para o sistema financeiro, mas não parece haver um movimento para se encontrar uma solução para as crises soberanas.

"Ainda fica a impressão de que deve piorar antes de melhorar, para que haja um senso de urgência nos formuladores de política para que eles possam partilhar melhor o risco, principalmente na Zona do Euro", diz Molan. "Acho difícil dizer que a crise tenha acabado", completa o economista.

Fernando Travaglini é reporter

E-mail fernando.travaglini@valor.com.br

 

 

 

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