18/10/2011

Teste de estresse pode "tirar" € 215 bi de bancos

 

Por Aline Lima | De São Paulo

O impacto negativo sobre o capital dos bancos europeus poderia atingir €215 bilhões, caso fossem aplicados os novos testes de estresse sugeridos por ministros de Finanças da União Europeia e a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês). Esse testes incluiriam um corte de 50% no valor da dívida grega, 40% nas dívidas de Portugal e Irlanda e 20% nas da Espanha e Itália detidas pelas instituições financeiras do bloco.

Os bancos europeus detinham, no fim de 2010, ao menos € 744 bilhões em títulos de dívida dos países considerados atualmente "high spreads" pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) - Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Bélgica e Irlanda. Esse foi o volume que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) conseguiu mapear, de um total de € 845 bilhões em dívidas carregados pelos bancos da região, tendo por base os balanços dos bancos e dados disponíveis na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no "Financial Times" e na empresa de pesquisa "The Banker". São 42 bancos, incluindo 20 dos 25 mais representativos da região.

Com relação ao tamanho das dívidas desses países nos balanços, a Febraban observou que cerca de 70% do total estaria relacionada às dívidas soberanas da Itália e Espanha. "Nesse sentido, fica evidente que problemas com relação à solvência dessas economias trariam efeitos sistêmicos bem mais relevantes ao sistema financeiro local", avaliam, em comunicado, os economistas da entidade. A Grécia participaria com 13% do total das dívidas soberanas desses países e Portugal e Irlanda seriam bem menores, proporcionalmente.

Os bancos estariam mais expostos à dívida de seus próprios governos. Os bancos gregos, por exemplo, concentram 52% da dívida soberana da Grécia, os bancos italianos, 44% da grande dívida italiana, e os espanhóis estão com 78% da dívida soberana da Espanha.

Os bancos gregos seriam os mais atingidos em caso de realização dos novos testes de estresse. A maioria assumiria perdas superiores ao próprio capital. Os bancos da Grécia têm mais que o dobro de exposição à dívida em relação ao capital nível 1 (o principal) ou praticamente todo o patrimônio de referência em dívida de seu próprio país.

Bancos belgas como o Dexia e o KBC também estão muito expostos à dívida dos países, carregando um volume de quase o dobro do capital nível 1. A maior parte seria em exposição à dívida da Itália e da própria Bélgica, que juntas representariam cerca de 80% do total.

"Contudo, a parcela de dívida grega, de 7%, e os problemas de liquidez podem ter sido determinantes para levar o Dexia a ser resgatado pelos governos nas últimas semanas, assim como mostra que os problemas vão além da simples exposição direta dos bancos às dívidas", observam, em nota, os economistas da Febraban.

Os bancos franceses têm exposição bem menor, de 47% do capital nível 1 e muito concentrada em dívida italiana e belga. Os bancos alemães, à exceção do Hypo Real Estate, contam com uma exposição de 63% do capital nível 1, cerca de 70% em dívida italiana e espanhola e 12% em dívida grega.

Os bancos italianos, espanhóis e portugueses são muito dependentes do que ocorrerá com as dívidas de seus países de origem, que representam cerca de 90% de suas exposições totais e, em alguns casos, em volume superior ao capital das instituições.

 

 

 

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