03/11/2011

Apenas três pregões separam o céu do inferno

 

Autor(es): Daniele Camba

Valor Econômico - 03/11/2011

 

 

Quem tinha alguma dúvida de que o mercado vive um momento de extremos, desde o último pregão no Brasil não tem mais. Na terça-feira, o mundo caiu, com a decisão do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, de fazer um referendo junto à população sobre o pacote financeiro de ajuda ao país, anunciado na semana passada. Juntamente com todas as principais bolsas, o Índice Bovespa chegou a cair 3,83%, mas ainda teve forças para encerrar o dia com uma perda menor, de 1,74%, aos 57.322 pontos. Já na quinta-feira passada, as bolsas ficaram exultantes com o anúncio do novo pacote de salvamento da Europa. Nesse dia, o Ibovespa subiu 3,72%. Ou seja, apenas três pregões separam o céu do inferno no mercado.

Ontem, enquanto a Bovespa estava fechada, em decorrência do feriado pelo Dia de Finados, houve um respiro e as bolsas tiveram desempenhos positivos. Além dos protestos em Cannes, na França, contra o encontro do G20, hoje e amanhã, os líderes europeus se reuniram com Papandreou para discutir sobre o referendo.

Depois da bonança, surge a nova tempestade grega

Essa ideia de haver uma espécie de plebiscito na Grécia pegou o mercado de calças curtas. Ninguém achava que o pacote de socorro anunciado no fim da semana passada coloca uma pá de cal na crise. Mas era razoável supor que o pior pudesse ter ficado para trás.

"Depois da solução para a crise parecer estar cada dia mais perto, agora voltamos a estaca zero, com uma atitude inesperada da Grécia", diz o gestor da Schroders Brasil, Marcos De Callis. Para ele, este deve ser um dos momentos mais complicados desde que essa segunda "pernada" da crise de 2008 começou, já que agora o lado político falará mais alto.

"Com o referendo, Papandreou tirou a discussão da crise do ambiente econômico e colocou apenas no campo político, tornando o cenário muito mais subjetivo e imponderável", acredita De Callis.

Com atitudes tão intempestivas por parte do governo grego, analistas e investidores já começam a cogitar de forma mais concreta a possibilidade do país não mais fazer parte da zona do euro. E, por melhor que ela seja, o gestor da Schroders Brasil lembra que não existe uma saída ordenada. Portanto, se isso ocorrer, é líquido e certo que mortos e feridos ficarão pelo caminho, a começar pelos próprios mercados.

Nesse turbilhão de volatilidade dificilmente existem ganhadores, acredita De Callis. "Os papéis oscilam ao sabor do pânico e abandonam qualquer tipo de fundamento."

 

 

 

 

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