04/11/2011

Um robô para investir por você

Sistemas inteligentes de negociação eletrônica ganham espaço no Brasil

Olívia Alonso, iG São Paulo

 

Robôs são programados de acordo com o perfil e com os objetivos do investidor

Você quer investir na Bolsa de Valores, mas não tem tempo de acompanhar o mercado ou executar as ordens que você considera corretas de acordo com sua estratégia de investimento. Se é que tem tempo ou conhecimento suficiente para pensar em estratégias. Logo, o que resta é investir de tempos em tempos e falar com o corretor duas ou três vezes por semana, a fim de buscar justificativas para as perdas que vem acumulando.

Agora, imagine ter um robô para acompanhar os mercados financeiros, desde as bolsas asiáticas até as norte-americanas, observar o desempenho das empresas e executar ordens de compra ou venda que cumprem rigorosamente - sem nenhuma influência psicológica - todas as suas estratégias. E se esse robô também conseguisse verificar se seus planos de investimentos teriam dado bons resultados no passado e projetar seu desempenho no futuro?

Para quem se animou com a ideia, uma boa notícia: este é o futuro não muito distante dos investimentos das pessoas físicas em bolsas de valores, segundo especialistas. Hoje, plataformas de corretoras já permitem o uso de algoritmos, os “robôs”, que na verdade são sequências de instruções para a tomada de decisões automáticas por computadores. Com essa ferramenta, é possível, por exemplo, programar estratégias de investimentos e fazer simulações no passado, para verificar se teriam dado certo ou errado.

As plataformas de corretoras de valores brasileiras também permitem que ordens de compra ou venda fiquem ocultas no mercado, à espera de ordens contrárias, para que o investidor não exponha suas estratégias e fragilidades. Também é possível que os comandos para comprar ou vender ações sejam acionados conforme surgem ordens de outra parte, mas somente até valores preestabelecidos.

“Esta é uma das ações mais utilizadas, chamada de ‘melhor oferta’. O investidor cria um parâmetro para ter sempre a melhor oferta do mercado. Ele estabelece um limite de R$ 10,05 para compra, por exemplo. Assim que a oferta de venda de R$ 10,00 surge, o robô lança a compra. Se o vendedor eleva para R$ 10,01, o robô eleva em um centavo. Se outra pessoa comprar por R$ 10,02, o robô oferece R$ 10,03, até os R$ 10,05 que foram estabelecidos, tudo isso em altíssima velocidade,” diz Felipe Trindade, coordenador técnico da Fator Corretora.

Robô se adapta a perfil do investidor

Segundo ele, hoje as plataformas eletrônicas permitem que as estratégias sejam bastante maleáveis, para que possam ser adaptadas pelo investidor de acordo com seu perfil, incluindo aspectos como capacidade financeira, disposição ao risco, objetivos e o tempo que dispõe para observar os negócios. Com base nessas informações, o investidor terá um “robô” compatível com suas características. “Quem não tem tempo, não precisa se preocupar em acompanhar o mercado”, acrescenta.

 

Para especialista, robôs não substituirão operadores; mas corretora admite que terá menos necessidade de funcionários no futuro

As corretoras brasileiras passaram a oferecer as plataformas eletrônicas para investidores individuais a partir do ano passado. Mas os algoritmos só começaram a ganhar força em setembro de 2010, quanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou novos níveis do chamado Acesso Direto ao Mercado (DMA), que facilitam o acesso direto do investidor aos ambientes de negociação da Bolsa.

“Antes disso, as negociações de alta frequência estavam concentradas no segmento BM&F,” segundo Rivadavila Malheiros, professor da CMA Educacional e autor do livro “Operando com Trading Systems na Bolsa de Valores”.

Agora, as corretoras brasileiras apostam no meio eletrônico não apenas para oferecer um produto adicional aos seus clientes, mas também para se manterem competitivas, otimizar o tempo de seus operadores e até economizar com mão de obra humana.

Hoje, as corretoras brasileiras já realizam 60% de seus negócios de forma eletrônica, segundo Trindade, e precisam ser assim para sobreviver. “De agora em diante, a visão da corretora vai mudar, vamos apostar mais no mundo eletrônico e teremos menor necessidade de funcionários. É uma questão de necessidade. Quem for mais desenvolvido neste aspecto, vai se dar melhor”, diz Trindade.

Malheiros discorda que as plataformas eletrônicas possam substituir os humanos, uma vez que continuam sendo necessários operadores e especialistas para programar os algoritmos e revisar modelos. Além disso, ele acredita que os robôs serão mais usados por quem costuma fazer diversas operações diárias (“day trades”).

“Os algoritmos não são para iniciantes. Os investidores menos acostumados a operar nos mercados de ações vão continuar precisando de instruções, ainda que sejam justamente para aprender a usar os novos sistemas”, afirma.

De qualquer forma, é consenso que quanto mais as corretoras investirem nos “robôs”, melhor para os investidores, uma vez que as empresas deverão se esforçar para superar as concorrentes, criando portais e plataformas fáceis de usar. “Além disso, os algoritmos servem para a proteção do investidor”, diz Malheiros.

“A maior vantagem das negociações com algoritmos é a possibilidade de testar o método antes de correr o risco”, diz o especialista. Ao simular suas estratégias usando bases históricas, o investidor consegue prevenir perdas. “Isso não significa lucro garantido, mas sim um avanço em auto previsão”, diz.

Mercado potencial

Apesar de o Brasil ainda estar muito atrás dos Estados Unidos, onde os sistemas eletrônicos de negociação vem se popularizando há mais de 40 anos, as plataformas que permitem usar algoritmos para ordens de compra e venda já estão sendo amplamente usadas no País - ainda que apenas dentro das corretoras e bancos e para negócios no segmento BM&F - e devem se tornar cada vez mais comuns no mercado de ações, segundo Malheiros.

 

Menos de 10% do volume da Bovespa é operado por robôs, contra 50% nos EUA

Hoje, estima-se que menos de 10% do volume mensal da Bovespa seja movimentado por meio de operações baseadas em algum tipo de algoritmo, enquanto nos EUA a penetração das ordens eletrônicas no mercado de ações já ultrapassa 50%.

A diferença entre os dois mercados é encarada por empresas de tecnologia como uma grande oportunidade. Ben-Ernest Jones, diretor global para o segmento de mercado de capitais da norte-americana de tecnologia Progress, espera que o Brasil se transforme em um de seus principais mercados em poucos anos. “Hoje nossos maiores clientes estão nos Estados Unidos e na Europa, mas o Brasil é a região em que estamos progredindo mais rapidamente”, afirma.

A empresa tem cerca de 10% do mercado nos EUA e, no Brasil, possui 30 clientes, para os quais oferece as plataformas eletrônicas e serviços adicionais de instrução para o desenvolvimento de acordo com os objetivos de cada empresa. “Aprendemos bastante em outros mercados e, com isso, o Brasil tem uma grande vantagem que é não precisar começar do zero,” diz Luis Gustavo Penteado, diretor de mercado de capitais da Progress no Brasil.

 

 

 

 

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